Junho começou com ótimas notícias para os biotecnologistas de plantão: a primeira variedade de cana-de-açúcar transgênica desenvolvida no Brasil teve liberação comercial aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

A cana-de-açúcar geneticamente modificada, também conhecida como Cana Bt,  tem como característica a resistência à broca da cana (Diatraea saccharalis), principal praga que ameaça a cultura.

A Cana Bt foi desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), empresa de pesquisa brasileira  sediada em Piracicaba-SP. Neste texto vamos aproveitar o exemplo da Cana Bt para explicar como funcionam os transgênicos.

Solucionar um problema

As variedades naturais (não-modificadas) estão na natureza há muito tempo, mas, com o aumento da população, houve um aumento na demanda de alimentos, e os transgênicos vieram para solucionar este problema.

A maioria dos transgênicos é desenvolvida pensando-se em aumentar a produção de determinado alimento, seja através da resistência a determinada doença ou adquirindo tolerância a herbicidas utilizados na lavoura. Existem ainda alguns tipos de transgênicos que foram desenvolvidos para suplementar alguma necessidade alimentar, como o arroz dourado que possui altos níveis de vitamina A.

A Cana Bt (CTC 20 Bt) foi desenvolvida para ser resistente à broca da cana, principal praga que ameaça a cultura. Segundo especialistas citados pelo CTC, estima-se que as perdas causadas pela broca chegam a R$ 5 bilhões ao ano devido à redução da produtividade agrícola e industrial, da qualidade do açúcar e pelos custos com inseticidas.

Ter uma variedade resistente a pragas também é interessante sob o ponto de vista ambiental: leva à redução do uso de pesticidas aplicados na lavoura.

Veja no infográfico abaixo como a biotecnologia contribuiu para o aumento da produtividade agrícola no ano de 2015.

Relatório global aponta ganhos econômicos da ordem de mais de R$ 60 de bilhões em 2013 com a adoção de transgênicos na agricultura.

Nova característica genética

O que diferencia os vegetais transgênicos dos vegetais naturais é a presença de um novo fragmento de DNA de outro organismo que vai conferir uma nova característica ao vegetal.

A Cana Bt possui o gene Bt da bactéria Bacillus thuringiensis. Essa bactéria produz uma toxina que funciona como inseticida para larvas de alguns insetos. O que os pesquisadores fizeram foi copiar o gene para a produção dessa toxina e colocá-lo nas células da cana.

O gene Bt é utilizado também em outras variedades geneticamente modificadas que já estão no mercado, como soja, algodão e milho.

Fruto de muita pesquisa

As variedades transgênicas são resultados de anos de estudos em institutos de pesquisas, empresas ou universidades. Por exemplo, a Empresa Brasileira de Agropecuária (EMBRAPA) levou mais de 6 anos para finalizar os testes com uma variedade de feijão transgênica, para depois enviar o pedido de aprovação para o CTNBio.

O centro de pesquisa que desenvolveu a Cana Bt foi o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), criado a partir da iniciativa de um grupo de usinas da região de Piracicaba-SP. O CTC é uma empresa de pesquisa 100% nacional e busca o desenvolvimento e otimização de tecnologias para indústria sucroenergética, seja através do melhoramento dos processos de plantio e colheita, ou através do melhoramento genético da cana-de-açúcar utilizando biotecnologia.

Confira na figura abaixo o passo a passo para a produção de uma planta transgênica:

O passo-a-passo da produção e liberação dos transgênicos.

Regulamentação e aprovação

Para um alimento transgênico ser liberado para venda e consumo, deve passar por uma série rigorosa de testes e cumprir todos os requisitos de saúde e segurança da regulamentação do CTNBio, comissão integrante do Ministério de Ciência, Inovação, Tecnologia e Comunicação (MCTIC).

Este processo pode ser demorado porque o CTNbio avalia criteriosamente todos os resultados apresentados. O CTC entrou com o pedido de aprovação em dezembro de 2015 e obteve o aval somente em junho de 2017. Ter a aprovação nestas etapas significa que o órgão considerou a variedade segura sob os aspectos ambiental e de saúde humana e animal.

Os alimentos naturais (que não passaram por modificações genéticas) na maioria das vezes não foram tão extensiva e criteriosamente avaliados como os alimentos transgênicos. Isso porque, como há todo um receio por tudo aquilo que é novo e diferente, os transgênicos precisam provar para a sociedade que são seguros. E os transgênicos brasileiros passaram por todos esses testes com sucesso.

Depois de aprovada pelo CTNBio, para ser colocada no mercado, é necessário o aval do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), que analisará os impactos socioeconômicos da liberação.

A cana transgênica é a terceira espécie de vegetal transgênico desenvolvido com tecnologia brasileira. A Empresa Brasileira de Agropecuária (EMBRAPA) também conseguiu a aprovação do CTNBio em 2011 para uma variedade de feijão (Feijão RMD) com resistência ao vírus do mosaico dourado e em 2009 para uma variedade de soja (Cultivance®) tolerante a um tipo de herbicida.

Se você quiser saber mais informações sobre transgênicos, fica o convite para acessar a seção de “perguntas e respostas” feita por especialistas da EMBRAPA e também a seção “Explore os conceitos” do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).

 

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