O politereftalato de etileno (PET) é amplamente utilizado no mundo para a produção de objetos plásticos, como as garrafas utilizadas para o armazenamento de refrigerantes e sucos. Apesar de extremamente útil, o PET torna-se um problema para o meio ambiente quando é descartado, tendo em vista que a sua degradação leva no mínimo 100 anos para ocorrer.

Em um ano, descartamos pouco mais de 560 mil toneladas de PET e destes apenas 60% segue para a reciclagem. O montante restante possui um volume preocupante para ser deixado no meio ambiente, principalmente quando o descarte é inadequado, o que aumenta a contaminação dos solos e sistemas aquáticos. Por isso, têm-se buscado cada vez mais novas alternativas para a sua degradação efetiva.                                              

Figura 1 – Garrafas PET descartadas. Fonte: Salvo Conducto

Sabe-se que, devido à degradação enzimática, alguns microorganismos (como algumas espécies fúngicas) são capazes de promover a biodegradação, mas a dificuldade de utilização inviabilizou essa técnica por muito tempo. Agora, parece que uma nova alternativa biológica surgiu no Japão, onde pesquisadores da Universidade de Kyoto descobriram uma espécie de bactéria capaz de quebrar as ligações moleculares do PET.

O PET é um polímero cujas ligações químicas são provenientes da união de um ácido com um álcool. Essas ligações, chamadas ésteres, podem se desfazer por tratamento ácido ou enzimático.

A pesquisa  foi publicada na revista Scienceem março deste ano, por Shosuke Yoshida, que faz parte de um grupo de pesquisa coordenado pelo Dr. Kohei Oda, que vem estudando a biodegradação do PET desde a década de 70. Segundo o artigo, a nova “menina dos olhos” para a biodegradação – batizada de Ideonella sakainesisfoi encontrada a partir da análise de consórcios microbianos de 250 amostras provenientes de uma usina de reciclagem, e é capaz de consumir uma folha fina de PET em 6 semanas.

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Figura 2 – I. sakaenesis. Fonte: Yoshida et al.

A bactéria é capaz de utilizar o PET como principal fonte de carbono e de produzir as enzimas, PETase e METHase, capazes de hidrolisar este polímero, e seus intermediários, em monômeros e compostos ambientalmente benignos, como dióxido de carbono e água, como mostrado na figura 3 .

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Figura 3 – Esquema de degradação do politereftalato de etileno. Adaptado de Yoshida et al.

O mais impressionante dessa descoberta é que o PET só existe há pouco mais de 70 anos, então como essas enzimas conseguem utilizá-lo tão bem como substrato em um tempo de contato que deve ser metade de um piscar de olhos para a evolução?

Essa é uma das próximas perguntas que o grupo de Yoshida objetiva responder, além de tentar compreender todos os mecanismos desse organismo promissor e como melhorá-lo para que a sua utilização seja viável e efetiva. Segundo o Dr. Kohei Oda, a degradação microbiana oferece a possibilidade de recuperar locais onde as embalagens estão acumuladas ao longo dos anos e é uma alternativa capaz de competir, em nível econômico, com a degradação química.

O que nos resta agora é aguardar os próximos capítulos dessa história e torcer para que Ideonella sakainesis  se torne a nossa heroína contra a poluição. Enquanto isso, continue nos acompanhando para ficar por dentro das novidades biotecnológicas no mundo e suas utilizações.

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