Bebês de laboratório: estamos caminhando para Gattaca?

Gattaca

Quem já assistiu ao filme GATTACA (sim, o nome do filme remete a uma organização de bases nitrogenadas), deve lembrar que a história gira em torno de uma sociedade em um futuro não muito distante, no qual os indivíduos “válidos” são aqueles manipulados geneticamente para obter uma “melhor combinação genética”. O filme traz aspectos éticos e científicos a tona, como o princípio da eugenia e benefícios e malefícios da manipulação. Se você não assistiu, corre pra tirar o atraso, porque vale muito a pena.

©1997 Columbia Pictures

No final do ano passado, o anúncio de um bebê com três pais reacendeu a chama dos debates éticos acerca do tema, ultrapassando a barreira da comunidade científica e se espalhando pela sociedade de forma geral. O que poucos sabem é que este não é, de fato, o primeiro indivíduo a ter três DNAs, embora uma nova técnica tenha sido utilizada. Dessa forma, o que acreditava-se ser possível apenas na ficção, não apenas existe, mas já está engatinhando para a rotina na fertilização in vitro.

Em 2001, foi publicado um artigo pela equipe do pesquisador Jacques Cohen que causou um alvoroço no meio científico na época: tratava-se de um estudo de implantação de 30 embriões humanos que passaram por um processo de transferência citoplasmática a fim de minimizar problemas de fertilidade causados por deficiências mitocondriais das mães “originais”.

Desta forma, os pesquisadores transferiram uma quantidade de citoplasma contendo mitocôndrias saudáveis para o ovócito da futura mãe, seguido de injeção do espermatozóide para que houvesse fecundação. Nesse processo, o DNA presente nas mitocôndrias passou a ser um “material extra” no feto.  

Em entrevistas dadas a diversos jornais na época, o coordenador da pesquisa afirmou que esta técnica não altera o material genético da linhagem germinativa dos indivíduos (logo, não passa para os descendentes) e que não havia o risco de problemas associados. Mas, em 2002, o órgão regulador americano, Food and Drug Administration (FDA), proibiu a técnica de transferência citoplasmática nos Estados Unidos, devido a preocupações de segurança e ética.

Não se tem ao certo o acompanhamento de todos os indivíduos nascidos a partir deste procedimento, mas sabe-se que, dos conhecidos, como Alana Saarinen, até então possuem saúde e desenvolvimento normal dos jovens da sua idade.  

Alana Saarinen em 2014

Embora pareça seguir o mesmo princípio, o que foi feito em 2016 foi diferente, de forma que o núcleo de um ovócito da futura mãe foi retirado e inserido num ovócito anucleado de uma doadora saudável que, em seguida, foi fecundado, como mostrado na imagem abaixo. Segundo o coordenador da pesquisa, John Zhang, o bebê não tem três pais, mas sim 2.01, tendo em vista que o DNA mitocondrial corresponde a 1% do material genético.

Os ovócitos das duas mulheres são coletados. Em seguida, é removido e destruído o núcleo do ovócito com mitocôndrias saudáveis, e o núcleo da “mãe” é inserido no lugar. Desta forma, obtém-se um ovócito com núcleo da mãe e mitocôndrias da doadora, pronto para ser fecundado.

Segundo o pesquisador, indo contra as críticas dos comitês e colegas bioeticistas, “ético é salvar vidas”. Isso porque o casal jordaniano, pais da criança, já havia tido dois bebês que morreram prematuramente devido a uma doença mitocondrial, conhecida como Síndrome de Leigh. Desta forma, o uso da técnica foi a única forma viável para possibilitar uma criança saudável deste casal.

Quando questionado acerca da “portas abertas” para outros tipos de modificações, Zhang foi breve e sucinto ao dizer que cabe aos países delimitarem legalmente até onde a manipulação deve ir, mas isso não pode impossibilitar de salvar vidas.

E você? O que acha desse tipo de manipulação? Estamos indo no caminho certo ou ultrapassando barreiras demais? Deixe seu comentário e nos acompanhe para saber mais.

3 Comentários
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Leoncio Batista
Leoncio Batista
6 anos atrás

Devemos ter cuidado sempre, por outro lado, o caminho é seguir em frente. Existem muitas doenças que nos afetam, zoonoses que podem ser curadas com o uso de ferramentas biotecnológicas. E o bom de tudo isso, que não é sonho, está aos poucos se tornando realidade.

Carol Rainner
6 anos atrás

Adorei o site, meus parabens!

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