Nesta quarta-feira (28/11/2018), o cientista chinês He Jiankui anunciou publicamente que realizou a primeira edição genética em bebês humanos. A técnica que ele diz ter utilizado é a CRISPR, forma de edição gênica que “bombou” em 2012 como ferramenta para auxiliar os cientistas a realizar manipulações genéticas para entender a função de determinados genes.
Entenda mais sobre a técnica nas reportagens do G1, do Centro de Informações em Biotecnologia (CIB) e em outros textos do Profissão Biotec.
O pesquisador diz ter feito in vitro uma mutação no gene CCR5, fundamental para a entrada do vírus HIV em células humanas, inativando o gene e tornando os bebês “resistentes” a infecção por esse vírus.
O cientista, entretanto, não publicou esse relato na forma de artigos científicos (que são revisados e valiados por outros cientistas) como fazem os demais pesquisadores. Hi Jiankui anunciou seu feito diretamente a jornalistas e através de vídeos postados no YouYube, o que levanta o questionamento da veracidade das suas afirmações.
Questões éticas
Diversas questões éticas podem ser levantadas por essa pesquisa, como destacou a geneticista brasileira e professora da USP, Dra. Lygia da Veiga Pereira em artigo para o O Globo. Para ela, o experimento do chinês abre caminho para o desenvolvimento de “bebês sob medida”. (Lembram do filme GATTACA – a Experiência Genética?).
Segundo a professora, a alta eficiência da técnica CRISPR para edição gênica levou pela primeira vez a Academia Nacional de Ciências dos EUA recomendar que modificações genéticas em gametas sejam permitidas no futuro e apenas em casos especiais, para a prevenção de doenças graves. “No futuro” porque a técnica [CRISPR] ainda não é 100% precisa, e pode causar modificações genéticas indesejáveis. E só para “prevenir doenças graves” e não para “melhoramento de raça” em humanos, onde casais encomendariam bebês mais inteligentes, atléticos e loiros de olhos azuis. Mesmo assim, a modificação genética de gametas ainda é ilegal nos EUA, em muitos países da Europa e também no Brasil.” disse a Dra. Lygia.
Além disso, afirma-se que He Jiankui não pediu permissão às autoridades científicas chinesas para conduzir o experimento, e que nem sua universidade e seus colaboradores estavam completamente informados de suas intenções. Afirma-se ainda que os casais que se voluntariaram a participar da pesquisa foram apenas informados que o objetivo era a busca de uma nova vacina, e não a manipulação genética.
O anúncio levou outros pesquisadores chineses a se manifestarem em carta contra as pesquisas de He. Saiba mais na notícia da Folha.