Devido à greve dos caminhoneiros no mês de maio, as questões sobre os combustíveis entraram em pauta. O Brasil é um país onde há dependência da malha rodoviária e, consequentemente, de combustíveis. Assim, com o aumento constante dos preços, a economia é afetada e estes ajustes interferem diretamente nos serviços e nos consumidores, como observamos durante a paralisação dos caminhoneiros.
Um dos destaques do movimento foi o valor do diesel, combustível que é principalmente usado em setores de extrema importância econômica para o país: o rodoviário e agrícola. De acordo com a imagem abaixo, podemos notar que há a presença do biodiesel na composição do diesel brasileiro. Essa mistura foi incentivada pelo governo no início dos anos 2000 para que o país tivesse uma maior produção deste biocombustível, além de incentivar a produção de matérias-primas favorecendo a agricultura familiar e o agronegócio.
Com o aumento da produção de biodiesel, a mistura no diesel poderia ser maior, ajudando desta forma a reduzir consideravelmente as emissões de fumaça e gás carbônico, e podendo eliminar as emissões de óxido de enxofre (SILVA, 2007). A partir de 1º de março deste ano, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu aumentar de 8% para 10% a mistura de biodiesel ao diesel mineral comercializado. Mas o que é o biodiesel? Será que ele pode se mostrar uma alternativa para os reajustes do diesel nacional?
O biodiesel é um combustível renovável proveniente de óleos retirados de plantas ou da gordura animal. Para se obter o biodiesel, misturam-se tais matérias-primas com um álcool primário (metanol ou etanol) na presença de um catalisador. O catalisador é um produto usado para que haja um reação química entre o álcool e o óleo gerando, desta forma, dois produtos finais: glicerina e éster.
Neste processo ocorre a transesterificação, que nada mais é do que a separação da glicerina do óleo vegetal (éster), que passará por diversos processos de purificação para que depois possa ser comercializado como biodiesel. Aproximadamente 20% de uma molécula de óleo vegetal é formada por glicerina. A glicerina é o que faz óleo ser mais denso e viscoso. Por isso, é necessário o processo de transesterificação: para retirar a glicerina do óleo vegetal, deixando o óleo mais fino e reduzindo a sua viscosidade.
Por mais controversa que possa parecer, a origem do biodiesel se deu junto à origem do diesel. Em 1890, o inventor do motor a diesel, Rudolf Diesel, desenvolveu um combustível à base de óleo de amendoim, que se adequava ao motor da mesma forma que o óleo à base de petróleo. No entanto, a economia na época acreditava mais em fontes provenientes de origem fóssil e, desta forma, a produção de diesel foi baseada no petróleo.
A produção de biodiesel só voltou a ter interesse após crises no preço de petróleo na década de 1970. E assim o interesse foi aumentando devido à preocupação ambiental, com a necessidade de se reduzir a poluição e as emissões de gases de efeito estufa, os quais são produzidos na queima dos combustíveis de origem fóssil.
No Brasil, o assunto começou a ganhar notoriedade em 2003 com a criação de uma política para o biodiesel. Em 2004 o governo federal lançou o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), com o objetivo inicial de introduzir o biodiesel na matriz energética brasileira. A sua mistura ao diesel fóssil teve início no mesmo ano, em caráter experimental, e, entre 2005 e 2007, no teor de 2%, a comercialização passou a ser voluntária. Somente em 2008 que se tornou legalmente obrigatória a mistura de 2% em todo o território nacional. Com o avanço das tecnologias e o amadurecimento do mercado brasileiro, esse percentual vem sendo gradualmente ampliado até o percentual de 10%, conforme mencionado anteriormente.
Em nosso país, muitas espécies podem ser utilizadas para a produção do biodiesel. Porém, 75% da produção brasileira é feita com óleo de soja, 20% com gordura animal e o restante com fontes variadas como o dendê, o óleo de algodão, a canola e o óleo de fritura recuperado.
Em território nacional existem diversas matérias-primas que podem acelerar o aumento da participação do biodiesel no diesel. Uma das grandes apostas atuais é o óleo do fruto da macaúba. A espécie Acrocomia aculeata é uma típica palmeira nativa presente no Cerrado, na região Centro-Oeste, Pantanal e até na parte oeste e sul da região amazônica.
O que chama a atenção é a quantidade de óleo produzido sem nenhum melhoramento. Em um de espaço de 10 mil metros quadrados ou 1 hectare (ha) o óleo do fruto da macaúba pode render até 4 mil litros (L), enquanto que a principal fonte brasileira, a soja, rende 500 L/ha. Outra promessa é a cultura do dendê, que pode render 4 mil L/ha também. Porém, por se adaptar melhor a região Norte, talvez sua produção se torne limitada.
Com o aumento da produção de biodiesel, poderia haver um aumento na quantidade da mistura no diesel, já que 10% representa um valor muito baixo em contraste com os 55 bilhões de litros consumidos anualmente. A biotecnologia entra como uma importante aliada para acelerar este processo de produção em grandes escalas. Com uso de ferramentas de engenharia genética, os cultivares utilizados para a extração do óleo que serve de matéria prima para o biodiesel, podem ser melhor selecionados e também apresentar resistência a pragas e doenças. Consequentemente, esses cultivares, atingiram notoriedade econômica igual as grandes culturas que movem a economia brasileira.
Desta forma, poderíamos tornar o biodiesel um limitador e até um competidor no preço do diesel, como igualmente acontece com o etanol em território nacional. O etanol anidro, aquele que é misturado junto a gasolina, tem um percentual de 27% na composição do combustível de origem fóssil. O etanol hidratado é um competidor da gasolina, já que grande parte da frota de automóveis no Brasil possui motores que podem utilizar tanto gasolina como álcool, os chamados automóveis “flex”. Entretanto, o diesel não possui um competidor para ajudar a regular seu preço e até mesmo ser uma alternativa ao combustível, que cada vez está caindo mais em desuso.
Enquanto o Brasil busca atingir 15% de biodiesel na composição do diesel até 2023, muitos países na Europa querem abolir o uso de automóveis movidos a este combustível. E o que você acha? O Brasil conseguirá reduzir o uso de combustíveis fósseis e acelerar os processos para energias renováveis? Esperamos que a ciência brasileira avance e nos ajude a alcançar o maior uso de fontes de energia limpas!
Referências
Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. BIODIESELBR (Org.). O que é Biodiesel? Disponível em: <https://www.biodieselbr.com/biodiesel/definicao/o-que-e-biodiesel.htm>. Acesso em: 27 maio. 2018.
FARMING BRASIL. B10 em vigor: mistura do biodiesel aumenta de 8% para 10%. 2018. Disponível em: <B10 entra em vigor e mistura do biodiesel ao diesel avança de 8% para 10% Artigo original do site SF Agro | Farming Brasil: https://sfagro.uol.com.br/b10-entra-em-vigor-e-industria-atendera-demanda-por-biodiesel-de-55-bilhoes-de-litros/>. Acesso em: 27 maio 2018.
COLOMBO, Carlos Augusto. Óleo para o biodiesel. 2016. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2016/07/14/oleo-para-o-biodiesel/>. Acesso em: 27 maio 2018.
Petróleo Brasileiro S.A. SILVA, GERSON HENRIQUE. CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE MAMONA: “Conhecimentos para Agricultura do Futuro”. Londrina: Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2007. 11 p.
Revisado por Thais Semprebom e Mariana Pereira
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