Quando vamos ao setor de hortifruti no comércio, costumamos escolher aqueles produtos cujas características mais nos interessam: frutos firmes, sem indícios de bichos, folhas vistosas, vagens menos tortas, etc. Sem nos darmos conta estamos, de certa forma, repetindo o que nossos antepassados faziam ao selecionar os melhores materiais vegetais. A diferença é que eles, há milhares de anos, tinham o objetivo de propagar essas plantas, melhorando a produtividade e a qualidade das espécies cultivadas.

Com o passar dos séculos, a tecnologia agrícola desenvolveu e ofereceu inúmeras opções para a produção de alimentos e fibras, diminuindo inclusive o tempo dedicado a essas atividades consideradas básicas. Maior produtividade em menor tempo é cada vez mais interessante em um mundo onde a população está em pleno crescimento.

Uma melhor compreensão da genética, a partir das descobertas de Gregor Mendel (1822-1884) sobre a transmissão de caracteres de organismos parentais para a prole, potencializou a seleção de plantas e animais para a reprodução. O cruzamento de plantas escolhidas de acordo com características de interesse resulta em novas variedades, porém as técnicas tradicionais levam tempo e muitas vezes a mão-de-obra não compensa economicamente.

Dentre vários pontos positivos, possibilitou retirar genes de praticamente qualquer ser vivo e introduzi-los no genoma de outro organismo, ou seja, há uma mudança direta no genoma das plantas.

Diversas ferramentas da Biotecnologia são utilizadas para resultar em melhorias na agricultura.

É importante mencionar que várias ferramentas, tanto tradicionais quanto biotecnológicas, visam à melhoria da produção agrícola. Mas quais as vantagens, de fato, da Biotecnologia na agricultura?

Hoje em dia, além da transgenia, técnicas como RNAi (RNA de interferência), marcadores moleculares, cultura de tecidos, mutagênese, entre outras, permitem o desenvolvimento de:

  • plantas resistentes a doenças, como feijão modificado para resistência ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro;
  • fertilizantes que diminuem custos, são mais eficazes e reduzem danos ambientais, como o hidrogel;
  • pesticidas mais específicos no combate a pragas;
  • variedades com incremento nutricional, como tomates com maior quantidade de carotenoides; arroz que sintetiza betacaroteno (com o intuito de ajudar a combater a deficiência de vitamina A, uma das causas da cegueira);
  • plantas melhor adaptadas a diversas condições ambientais, como a seca, a inundação ou solos salinos;
  • sementes e frutos maiores;
  • produtos vegetais que suportam maior tempo de transporte e armazenamento.

A Biotecnologia pode, inclusive, atuar na devolução, aos alimentos, de características que foram perdidas ao longo do tempo (como sabores dos frutos), resultado de sucessivas seleções.

Esquema mostrando como se produzem plantas de algodão resistentes a insetos utilizando a transgenia. O algodão transgênico contém um gene extra, retirado da bactéria ‘Bacillus thuringiensis’, que produz uma toxina que mata a larva do algodão, impedindo que esses insetos ataquem as plantas. Modificado de The Education University of Hong Kong.

No Brasil, de acordo com dados compilados pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), mais de 60% dos produtos transgênicos são de plantas, sendo soja, milho e algodão os três principais cultivos; destes, a maioria tem aprovação para plantas resistentes a insetos e tolerantes a herbicidas. Essas culturas têm apresentado maior produtividade sem, no entanto, aumentar a área equivalente de cultivo, além da redução de custos.

Quantidades relativas de produtos transgênicos aprovados no Brasil, por ano, desde 1998.

Os produtos resultantes da Biotecnologia agrícola devem ser submetidos a avaliações de segurança do alimento (para estabelecer se é “tão seguro quanto” seu equivalente convencional, assegurar alergenicidade, toxicidade e nutrição) e segurança ambiental (para identificar e avaliar potenciais riscos ao meio ambiente, bem como projetar medidas adequadas de gerenciamento de riscos).

No Brasil, os assuntos referentes à Biotecnologia são contemplados pela Lei de Biossegurança brasileira (Lei nº 11.105/05). Como toda tecnologia, a Biotecnologia agrícola tem impactos socioeconômicos e ambientais, sendo necessário o debate aberto de sua importância na sociedade, o que só é possível quando compreendemos essa tecnologia, os fatos e avaliamos seus benefícios.

Fontes consultadas

https://www.nature.com/scitable/knowledge/library/history-of-agricultural-biotechnology-how-crop-development-25885295

http://absp2.cornell.edu/resources/briefs/documents/warp_briefs_eng_scr.pdf

http://www.smithsonianmag.com/science-nature/geneticists-quest-return-tomatoes-full-flavored-glory-180961933/

http://www.the-scientist.com/?articles.view/articleNo/49752/title/First-RNAi-Insecticide-Approved/

http://www.the-scientist.com/?articles.view/articleNo/43020/title/Improving-Crops-with-RNAi/

http://cib.org.br/inseto-transgenico-podera-ajudar-a-conter-pragas-em-lavouras/?utm_source=post-fb-tracas-transgenicas&utm_medium=pragas

http://cib.org.br/wp-content/uploads/2017/06/20170216ApresentacaoBiotecnologia.pdf

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Dayse
Dayse
6 anos atrás

Ótimo texto!! Parabéns para a Thaís!

Severino Semprebom
Severino Semprebom
6 anos atrás

Filha, texto muito bem escrito e esclarecedor, pois tinha outra informação sobre transgênicos. Parabéns pelo texto!😘

Carla Almeida
Carla Almeida
6 anos atrás

Parabéns pelo texto! Maravilhoso!

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O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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