As doenças vegetais são responsáveis por perdas econômicas e produtivas no mundo todo. Para garantirmos um bom rendimento e a qualidade da colheita, temos visto, ultimamente, o uso intenso de pesticidas químicos, o que pode causar danos ambientais e à saúde humana.

No Brasil, o uso de pesticidas cresceu 190% nos últimos 8 anos, segundo o último relatório de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE. Na contramão das recomendações internacionais, somos os líderes no consumo de agrotóxicos.

São utilizados, em média, cinco litros de agrotóxicos por brasileiro por ano!

Essa disparada no uso de pesticidas mostra o desafio que temos pela frente: encontrar práticas agrícolas mais sustentáveis. Felizmente, a Biotecnologia pode ajudar, como mostram algumas alternativas que contribuem para a redução ou até eliminação do uso dos pesticidas convencionais:

  • Ativação de resistência

Ativar a resistência, de forma simplificada, consiste em estimular o sistema imune latente de uma planta com moléculas naturais que simulam um ataque patogênico e, consequentemente, desencadeiam uma reação da planta para controlar ou evitar a infecção. Podem ser usadas duas estratégias: a resistência adquirida e a induzida, estratégia similar à da vacinação.

Na adquirida, a resistência é promovida expondo a planta a substâncias elicitoras (que podem ser moléculas extraídas de micro-organismos, de algas ou de outras plantas, por exemplo) ou indutores químicos. Um receptor celular da planta reconhece essas substâncias e as interpreta como ameaças, disparando uma complexa resposta de defesa, levando à produção de compostos antimicrobianos ou ao fortalecimento da parede celular do vegetal, por exemplo. Já a resistência induzida pode ser estimulada por meio da colonização das raízes do vegetal por rizobactérias ou fungos, que também vão disparar uma cascata de reações e tornar a planta “imunizada” contra patógenos.

  • Biopesticidas

Diferentemente dos indutores, que promovem a defesa pela própria planta, os biopesticidas agem diretamente sobre as pragas. Eles podem ser obtidos, por exemplo, de animais, plantas e micro-organismos. São, normalmente, menos tóxicos que os pesticidas convencionais e são seletivos, agindo somente contra a praga que se deseja eliminar. Só nos Estados Unidos, até 2016, já haviam sido registrados 1401 biopesticidas ativos. Parece um bom potencial, hein?

Encontramos duas categorias principais:

Bioquímicos: substâncias naturais que controlam as pragas por mecanismos não tóxicos. Um exemplo são os feromônios extraídos de insetos que, quando usados como pesticidas, interferem no acasalamento desses organismos, impedindo sua reprodução.

Microbianos: contém micro-organismos como ingrediente ativo. É nessa categoria que encontramos um representante famoso, o Bacillus thuringiensis (Bt, para os íntimos). Diferentes linhagens dessa bactéria são combinadas para produzir proteínas capazes de se ligar a um receptor presente no trato digestivo de diferentes larvas, fazendo com que essas pragas morram de fome e deixem de causar danos às plantações.

Bt: guarde esse nome, ainda vamos falar nele novamente! Fonte: MicrobeWiki

  • Plantas transgênicas resistentes

As plantas são modificadas geneticamente e passam a expressar genes com atividade pesticida e/ou de resistência. Nesse caso, em vez de aplicarmos um organismo no controle da praga, isolamos dele o gene responsável e o incorporamos ao material genético da planta que será protegida. A própria planta, então, produzirá substâncias capazes de eliminar os patógenos ou pragas. O exemplo mais comum envolve, de novo, o nosso amigo Bt (aliás, falamos mais dele nesse texto). Um bom exemplo de autodefesa com uma ajudinha da genética, hum?

Apesar de serem alternativas potenciais, muitos estudos ainda precisam ser feitos para que possamos explorá-las de maneira eficaz. Mas essa é, justamente, uma das delícias da Biotecnologia: sempre haverá algo novo a se descobrir e desenvolver, especialmente quando podemos aplicar os aprendizados na resolução de desafios tão importantes, como a expansão agrícola sustentável e ecológica.

Referências:

BURKETOVA, L. et al. Bio-based inducers for sustainable plant protection against pathogens. Biotechnology Advances, v. 33, issue 6, 2015.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Relatório de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, 2015. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94254.pdf. Acesso em 30/06/2017.

United States Environmental Protection Agency. What are biopeticides? Disponível em: https://www.epa.gov/ingredients-used-pesticide-products/what-are-biopesticides. Acesso em 30/06/2017.

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