Como o microbioma intestinal afeta a saúde humana?

Você provavelmente já deve ter ouvido falar sobre microbioma, mesmo que sem conhecer exatamente por esse nome. Sabe aquele conjunto de microrganismos presentes em seu intestino, boca e em algumas outras partes de seu corpo? Eles fazem parte do seu grande e complexo microbioma. E, caso você não saiba ainda, ele está diretamente ligado à sua saúde. Quer saber como? Então continua lendo este texto, que vamos te contar um pouco mais sobre como seres tão pequenos podem ter uma interferência tão grande em nossas vidas.

Primeiramente, vamos te explicar um pouco sobre alguns tipos de microbiomas existentes no corpo humano. De acordo com Chardin et al., a flora oral é complexa e diversificada, sendo colonizada por centenas de diferentes espécies bacterianas, virais e fúngicas. Outro importante microbioma é o da nasofaringe, que contém os mesmos gêneros bacterianos do microbioma oral, além de anaeróbios como Staphylococcus, Neisseria e Corynebacterium. Além desses, existe o microbioma do trato urinário, da pele e do sistema gastrointestinal, sendo este último o mais importante relacionado à saúde e comportamento humano e sobre o qual iremos abordar melhor no decorrer deste texto.

Existe, no corpo humano, um conjunto de complexas vias chamado de eixo cérebro-intestino, que envolve, principalmente, o Sistema Nervoso Central (SNC), o Sistema Nervoso Entérico (SNE) e o Sistema Nervoso Autônomo (SNA). Esse eixo tem como objetivo integrar os centros cerebrais de controle cognitivo e emocional com os gânglios do SNE, permitindo a regulação de diversos mecanismos corporais, como imunidade e permeabilidade intestinal.

Por meio do estudo do eixo cérebro-intestino, diversas pesquisas têm sido feitas para investigar como a microbiota intestinal afeta o sistema imunológico, o humor, estresse e até mesmo algumas doenças. A partir disso, pesquisadores da Universidade de Kyushu, no Japão, foram alguns dos pioneiros nos estudos dos microrganismos agora conhecidos como “psicobióticos” , ou seja, que são capazes de alterar a saúde mental.

Nesses estudos, os cientistas analisaram camundongos livres de microrganismos e observaram que, quando expostos a situações de estresse, eles produziram duas vezes mais hormônios do estresse do que os camundongos normais. A única diferença entre os animais estudados era a presença de microrganismos no segundo grupo, o que indica que estes foram a causa das diferentes respostas apresentadas pelos camundongos.

Diante de um papel tão importante apresentado pelo microbioma humano, já foi comprovado que até transtornos como depressão, autismo e doenças neurodegenerativas estão ligados a esses pequenos seres que habitam nosso corpo.

Pensando nisso, apesar de parecer estranho, um “novo” tratamento vem sendo feito para aprimorar a microbiota das pessoas: o transplante de fezes, que é realizado para substituir alguns antibióticos e tratar doenças como infecções intestinais, colite pseudomembranosa, doença inflamatória intestinal e transtornos mentais e obesidade. O transplante fecal visa a diminuir os sintomas dessas doenças e alguns pacientes que o fizeram apresentaram uma significativa melhora.

Transplante fecal. Fonte: Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress/Uol  

Você talvez esteja se perguntando como ocorre esse estranho (e útil) transplante de fezes e o processo é, na verdade, bem simples. Para acontecer, as fezes de um doador testado (quanto à compatibilidade) são coletadas, misturadas a uma solução com soro fisiológico, coadas e posteriormente colocadas no intestino do paciente receptor com o auxílio de técnicas como colonoscopia, endoscopia ou enema. O doador, por questões psicológicas, geralmente é uma pessoa da família do paciente.

Um ponto interessante é que o intestino humano abriga cerca de 100 trilhões de bactérias, número dez vezes maior do que a quantidade de células que formam todo o corpo humano. Quando acontece um desequilíbrio no ambiente em que essas bactérias estão presentes, além do transplante fecal, outra solução que hoje em dia está em alta é o uso de probióticos.

Sabe aquela bebida (leite fermentado) chamada Yakult, que muita gente toma desde pequena? Ela é um riquíssimo probiótico e já foi comprovado que seu consumo pode melhorar significativamente a microbiota intestinal. Este e outros probióticos são conhecidos por serem capazes de melhorar a imunidade, problemas intestinais, doenças bucais, obesidade, pressão, colesterol, estresse e ansiedade, problemas na pele e até câncer e infecções como candidíase. Porém, um detalhe importante é que esses probióticos não são medicamentos e é necessário buscar a orientação de um médico ou nutricionista para uma indicação mais específica para cada caso.

Você sabia que os microrganismos atuavam de maneira tão importante em nosso corpo? Já viu ou estudou algo sobre o assunto? Conta para a gente sobre isso!

Referências
BURITI, F. C. A; SAAD, S. M. I. Bactérias do grupo Lactobacillus casei: caracterização, viabilidade como probióticos em alimentos e sua importância para a saúde humana. Scielo, São Paulo, v. 57, n. 4, 2007.
CHARDIN, H. et al. (2006). Microbiologie en odonto-stomatologie. Maloine, p. 141-164.
CARDOSO, Vanessa Marques. O Microbioma Humano. 2015. 71 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ciências Farmacêuticas, Universidade Fernando Pessoa, Portugal, 2015.
GALLAGHER, James. Como as bactérias que você carrega podem afetar seu estado de espírito. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-43881922> Acesso em: 14 de julho de 2018.
MANARINI, Thaís.Probióticos ajudam a combater 9 problemas sérios de saúde. Disponível em: <https://saude.abril.com.br/alimentacao/probioticos-ajudam-a-combater-9-problemas-serios-de-saude/> Acesso em: 14 de julho de 2018.
WATANABE, Phillippe. Transplante de fezes é testado contra a obesidade. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2018/01/1951967-transplante-de-fezes-e-testado-contra-a-obesidade.shtml> Acesso em: 14 de julho de 2018.
ZORZO, R. A. Impacto do microbioma intestinal no Eixo Cérebro-Intestino. International Journal Of Nutrology, São Paulo, p.298-305, mar. 2017.
Revisado porThais Semprebom e Mariana Pereira

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