A grande maioria dos biotecnologistas começa a carreira em um laboratório, não necessariamente durante a Iniciação Científica ou no estágio, mas naquela primeira aula de biologia, química ou física básica. O primeiro contato é excitante e você se vê pronto para fazer coisas incríveis e também realizar novas descobertas, contudo, a segurança vem sempre em primeiro lugar.

É necessário proteger a si mesmo, seus colegas e o ambiente de organismos biológicos e agentes com que se trabalha no laboratório. Os níveis de biossegurança são uma maneira de classificar as precauções que devem ser tomadas para a prática de uma ciência mais segura.

Existem quatro Níveis de Biossegurança (NB) definidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), designados em ordem crescente pelo grau de proteção proporcionado: NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4. O primeiro nível começa com precauções mínimas devido ao baixo risco de biossegurança. A medida de segurança aumenta nos próximos três níveis, proporcionalmente ao risco que os organismos e agentes utilizados oferecem ao operador e ao meio ambiente.

Símbolo da Biossegurança, desenvolvido pelo engenheiro Charles Baldwin, da Dow Chemical, em 1966, a pedido do CDC, com o objetivo de padronizar a identificação de agentes biológicos de risco. Sua intenção foi o de projetar um símbolo que não se alterasse com a posição da embalagem.

A classificação de laboratórios em níveis de biossegurança é importante porque dita o tipo de práticas de trabalho que podem ser realizadas, além de influenciar fortemente o projeto das instalações em questão e o tipo específico de equipamento de segurança utilizado. Neste texto, trouxemos uma breve introdução sobre os quatro níveis de biossegurança, confira!

NB-1 Nível de Biossegurança 1

Todos nós já estivemos em um laboratório de biossegurança nível 1, seja na luta diária para clonar um gene em Escherichia coli, isolar plasmídeos ou até fazer uma simples coloração de Gram.  Nesses laboratórios se trabalha com agentes bem caracterizados e que não causam qualquer doença ou dano em seres humanos adultos e sadios, como a Saccharomyces cerevisiae.

“Atualmente, trabalho na divisão de biotecnologia para produção de lotes pilotos de hormônio de crescimento humano recombinante em nível de biossegurança de grande escala 1 (ou NBGE-1). Seguimos uma série de procedimentos de segurança a fim de evitar contaminação durante o processo e dos próprios colaboradores, desde o uso de paramentação adequada a cada sala, até a própria estrutura física da planta produtiva. Seguimos uma série de procedimentos e instruções de trabalho, sempre com supervisão e segurança!” Isabella Caroline Klasener – Cristália

Laboratórios NB-1 possuem portas individuais e pelo menos uma pia para higienização das mãos. Não precisam ser localizados em uma região isolada do prédio e não há necessidade de equipamento especial de contenção. É possível trabalhar na bancada ao ar livre utilizando práticas microbiológicas padrões. Contudo, ainda assim é necessário conhecer os potenciais riscos dos agentes com os quais se está trabalhando. Também é importante contar com treinamento e supervisão, pelo menos no início da carreira em laboratório.

Pessoal trabalhando em laboratório NB-1. Nota-se que é possível e seguro trabalhar na bancada ao ar livre, sem equipamentos de proteção como luvas e máscaras.

NB-2 Nível de Biossegurança 2

Os laboratórios NB-2 são utilizados para trabalhar com agentes que apresentam riscos moderados para o pessoal e para o ambiente, como aqueles patogênicos ou infecciosos que podem causar doenças brandas ou moderadas, com tratamento acessível em humanos (por exemplo, vírus da hepatite B e Salmonella). São separados de outras construções, possuem acesso restrito e é ideal que tenham portas de fechamento automático com fechaduras e pia próxima à saída. Suas instalações devem conter equipamentos e fornecimentos necessários para descontaminação dos resíduos do ambiente (por exemplo, autoclave). Laboratórios NB-2 devem ter, ainda, cabines de biossegurança para evitar a propagação de aerossóis infecciosos criados durante os procedimentos normais ou por acidentes.

Dia a dia em um laboratório NB-2.

Para trabalhar em um NB-2, é necessário seguir todas as regras e regulamentos de segurança de um NB-1, além de receber treinamento específico para manipulação de agentes patogênicos. É importante também utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e sempre retirá-los ao sair do laboratório para áreas não NB-2. Se for trabalhar com possíveis patógenos, talvez seja necessário receber vacinas antes de começar.

“Durante a graduação, executei minha Iniciação Científica no Laboratório de Fungos de Importância Médica e Biotecnológica, orientada pela professora Marilene Henning Vainstein. Participei de projetos que possuíam Nível de biossegurança-2 (NB-2), por trabalharmos com fungos patogênicos de risco moderado ao ambiente e pessoas. Para trabalhar nele, em um primeiro momento, sempre devia estar acompanhada com algum pós-graduando devidamente treinado, sendo o laboratório isolado, com acesso limitado, obrigatório o uso de EPIs e uso de equipamentos restritos para o local. O foco principal é evitar qualquer possível contaminação por parte dos patógenos estudados ali, tais como Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii (esses organismos podem causar micose sistêmica)” Jéssica Scherer

NB-3 Nível de Biossegurança 3

Laboratórios NB-3 tratam agentes que têm potencial para causar doenças graves ou infecção letal por inalação. Nesses ambientes se trabalha com micro-organismos que causam doenças humanas graves, mas que que possuem tratamento ​​(por exemplo, Mycobacterium tuberculosis e o vírus da encefalite de St. Louis). Por isso, devem estar localizados separadamente das áreas de acesso irrestrito. Eles também possuem características especiais de engenharia e design. Por exemplo, a entrada em um laboratório NB-3 é através de duas portas de fechamento automático e pelo menos a porta externa pode ser bloqueada. A passagem entre as duas portas pode conter uma sala de mudança de roupa. Além disso, é necessário que pelo menos uma pia automática seja localizada perto da porta de saída. Se houver diferentes zonas de trabalho no mesmo laboratório, cada zona deve ter sua própria pia. O laboratório deve ter pelo menos um sistema de descontaminação e é necessário tratar  todos os resíduos antes de descartá-los.
Semelhante a um laboratório NB-2, é necessário treinamento especial para manipulação de agentes potencialmente letais. O supervisor deve ter muita experiência em lidar com agentes infecciosos e o instituto deve realizar exames sanguíneos regularmente para testar a exposição dos colaboradores a esses patógenos.

Cientista trabalhando no laboratório de segurança máxima NB-3 do Instituto de Biologia da USP. Nesse laboratório, os manipuladores utilizam necessariamente roupas e equipamentos de proteção individual criados especificamente para este tipo de pesquisa.

NB-4 Nível de Biossegurança 4

Laboratórios NB-4 tratam de qualquer agente que cause doenças com risco de vida, sem tratamento disponível e com alto potencial de infecção transmitida por aerossol, ou agentes que apresentem risco desconhecido (por exemplo os vírus Ebola e Lassa). Qualquer pessoa que trabalhe em um NB-4 deve ser bem treinada e seu supervisor deve ter muita experiência na área.
São encontrados em uma área isolada, longe do acesso normal do edifício ou em uma instalação completamente separada. Os laboratórios são da mais alta segurança: possuem janelas seladas não quebráveis, ventiladores protegidos por filtro HEPA, portas autobranquizadas e instalações com uma passagem sequencial contendo chuveiro e vestiários. Deve-se usar cabines de Biossegurança de classe III e trajes de proteção supridos com pressão de ar positiva. O instituto deve fornecer serviços médicos ocupacionais e todas as imunizações possíveis e deve coletar amostras de soro da equipe exposta ao risco regularmente.

Cientistas com alguns dos equipamentos e vestimentas necessários para trabalho em laboratório NB-4.

Essa foi apenas uma breve descrição dos níveis de biossegurança e, para saber um pouco mais, você pode verificar outras publicações do CDC sobre o tema. Para finalizar, lembre-se: proteja-se adequadamente sempre e cuide dos seus colegas e do meio ambiente. Assim,  você ajuda a manter o avanço científico com segurança para todos!

Referências:

Biosafety levels, what’s the difference? Acesso em: 06/01/2018. Disponível em: <https://consteril.com/biosafety-levels-difference/>

WIKIPEDIA. Biosafety level. Acesso em: 06/01/2018. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Biosafety_level>

FIOCRUZ. Níveis de Biossegurança. Acesso em: 06/01/2018. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/lab_virtual/niveis_de_bioseguranca.html>

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