Cientista brasileira fazendo bonito na Espanha: conheça Priscila Monteiro Kosaka

Para aqueles que sonham em seguir a carreira de cientista, nada melhor do que saber um pouco sobre a trajetória de cientistas de grande importância. Bom para se inspirar e ter a certeza de que dificuldades aparecem, mas se é o que você quer, não existe desafio que o detenha.

Confira abaixo a entrevista que o Profissão Biotec realizou com a pesquisadora brasileira Priscila Monteiro Kosaka. Ela é Membro do Instituto de Microelectrónica de Madrid há seis anos, e um dos seus grandes feitos foi o desenvolvimento de uma técnica para detecção de câncer que dispensa biópsias e consegue identificar a doença antes mesmo do aparecimento dos sintomas.

 

Quais as principais diferenças entre desenvolver suas pesquisas na Espanha e aqui no Brasil?

Eu fui embora do Brasil há 10 anos, porque terminei meu doutorado e o que eu queria fazer, uma pesquisa mais aplicada, era muito difícil de conseguir aqui. E o que eu queria trabalhar, que eram os sensores mecânicos, ninguém trabalhava no país. Por isso, decidi buscar uma oportunidade fora. Então, entrei em contato com o grupo que trabalho até hoje na Espanha, pedi uma vaga de pós-doutorado e, por sorte, eles tinham uma, e eu ainda consegui uma bolsa do governo espanhol para poder fazer minha pesquisa lá.

Priscila Kosaka palestrando no Campus Party Bahia

Como pesquisadora/cientista, quais os principais desafios você encontrou na sua carreira até hoje?

A carreira científica não é fácil em lugar algum. Quando eu cheguei na Espanha, chegou comigo a crise econômica, então tiveram 25% da população espanhola desempregada. Não é só no Brasil, eu vi que lá fora acontece a mesma coisa, que o primeiro corte de orçamentos que o governo faz são nas verbas para pesquisa. E quando eu cheguei lá, justamente o projeto que eu ia desenvolver, que tínhamos pedido, não foi financiado devido aos cortes. Então, a parte mais difícil quando você está trabalhando com pesquisa é você se manter motivado, porque recebemos muito mais não do que sim, recebemos mais críticas do que elogios. É difícil se manter motivado e mais difícil ainda é manter o seu grupo de pesquisa também motivado.

Hoje você já tem o seu grupo de pesquisa nesse laboratório?

Lá temos um grupo que sempre está trabalhando junto, eles são muito grandes. Temos um chefe de pesquisa principal que está trabalhando há mais tempo, e esse grupo grande vai ter subgrupos, cada um com sua linha de pesquisa, mas sempre colaborando com os outros. E sim, dentro desse grupo grande eu já tenho a minha linha de pesquisa. Eu batalhei bastante, depois de seis anos lá, foi que consegui a minha linha de pesquisa independente, tenho os meus estudantes. Você tem que batalhar, ir atrás para ter dinheiro para manter a linha de pesquisa e, pouco a pouco, fui crescendo lá e encontrando o meu lugar.

Você se sente satisfeita com tudo o que já alcançou?

Não, eu sempre quero mais, nunca estou satisfeita. Ainda não me sinto consolidada. Vejo tantos nomes, tantos exemplos e me sinto tão distante ainda para conseguir dizer que estou consolidada. Eu tenho um longo caminho para chegar lá e estou apenas no começo.

 Como você se sente estando no Campus Party Bahia?

Eu adoro porque recebo um carinho muito grande. Quando se está no laboratório, você se sente sozinho, não sabe o que está acontecendo, você sabe o que você faz, mas não sabe a dimensão do que a sua pesquisa conseguiu alcançar. Então eu fico muito feliz por saber que o que estou fazendo está causando impacto na sociedade e que pode inspirar muita gente. Eu quero inspirar as pessoas não para fazer pesquisa, mas para inspira-los a fazer o que eles querem.

Biotecnologia, como você enxerga essa ciência inserida nos trabalhos que desenvolve?

Quando você trabalha no campo da nanotecnologia é muito multidisciplinar. Eu, durante o pós-doc, aprendi sobre instrumentação ótica, fiz pós-doc em biofísica e olha que eu sou química. A Biotecnologia, ela é essencial quando você está trabalhando com aplicação biológica. Mas as pessoas que trabalham com ela vão ter que abrir mais a cabeça e sua visão e não se deixar apenas nessa ciência. Tem que aprender um pouco de física, muita química, matemática, às vezes eu tenho que estudar papers que são fórmulas puras. Então eu acho que você deve ter uma base forte de biotecnologia, mas também estar disposto a multidisciplinariedade.

As pesquisas que você conduz atualmente são apenas na Espanha ou existe algum trabalho sendo desenvolvido no Brasil?

Não, hoje eu só trabalho na Espanha. Eu tive um projeto bilateral há alguns anos atrás, entre esses dois países, mas nunca mais tive nenhum projeto assim. Se no futuro aparecer alguma oportunidade para colaborar com o Brasil, eu estou disposta.

Como você enxerga a crise brasileira, principalmente com relação a grande diminuição nos investimentos em ciência, tecnologia e educação?

É muito triste, me entristeço muito. O que as pessoas não veem é que investir em pesquisa agora é para colher frutos mais a frente. Não é como investir em construção e vamos ter muitos prédios amanhã. Na pesquisa você tem tem que fazer um investimento enorme hoje para futuramente criar novos empregos, novas empresas. E no Brasil, o governo tem que abrir os olhos para investir nisso, tem que pensar no futuro a longo prazo. Como queremos crescer como um país, como uma potência, se não temos tecnologia, sempre dependeremos de outros países?

Dos problemas mundiais mais urgentes, como você vê a atuação dos cientistas na sua área para resolvê-los?

Eu trabalho na área da saúde, mas tem toda uma parte da tecnologia que você vê a nanotecnologia permitindo termos computadores super pequenos, os smartphones, então eu acho que cada área tem o seu espaço. Mas voltada a área que atuo, a da saúde, pela qual sou apaixonada, nas pesquisas que desenvolvo, sempre busco algo que me inspire, que me motive, poder ajudar pessoas, para quem sabe no futuro salvar vidas, é o que me motiva a continuar.

Como pesquisadora, que já tem pesquisas que geraram patentes, que vão levar ao desenvolvimento de um produto mercadológico, se sente com o olhar empreendedor, já pensou em ter a sua própria empresa?

No meu trabalho colaboramos muito com empresas, são visões completamente diferentes, e quando você trabalha com empresa, muitas vezes tem que falar quem dá o dinheiro. Quem tem o dinheiro na mão, quem investiu mais dinheiro é quem vai poder mandar mais e poder direcionar o que você vai fazer. O que eu gosto da pesquisa que faço é que eu tenho a total liberdade de poder direcionar e fazer o que quero, fazer o que me apaixono. Mas a empresa é necessária, porque quando você tem uma patente, como no meu caso tenho diversas patentes que, no final, podem formar um produto, como o nanosensor, eu trabalho diretamente com uma empresa, e sou assessora científica dela, mas atualmente não tenho vontade de ter uma empresa própria. Eu adoro mesmo a liberdade intelectual que tenho como pesquisadora. Sei que a empresa é necessária, por isso colaboramos com ela, passo toda a tecnologia que desenvolvo para eles, só assim o que produzimos no laboratório vai para o mercado, isso que me motiva a fazer esse tipo de colaboração.

Qual seu conselho para aqueles que desejam seguir a carreira de cientista?

Perseverar, não desistir porque é muito difícil. Mas se é o que realmente que você quer, batalhe para conseguir.

Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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