Faça o melhor que puder, com aquilo que tiver!

O porquê das coisas é o tipo de pergunta que permeia a mente dos Biotecnologistas. Destas incógnitas, podem surgir grandes insights que permitem entender melhor o mundo a nossa volta, assim como as relações de trabalho, sociais, etc.

Por que empreendedores são empreendedores?

Imagino que esse pergunta trazia reflexões à mente de Saras Sarasvathy, uma professora da Universidade de Virgínia nos Estados Unidos (EUA). Ela realizou uma ampla pesquisa com 30 fundadores de indústrias e companhias variadas em 17 estados dos EUA, com o objetivo de tentar entender os processos pelos quais fazem um empreendedor ser o que é ! Após um amplo estudo, a pesquisadora propôs a teoria effectuation.

O effectuation e o universo do empreendedorismo

O effectuation, ou abordagem efetiva, nada mais é que um processo dinâmico e criativo que tem por objetivo o desenvolvimento de novas ideias em um ambiente empreendedor sem a necessidade de um plano de negócios. Essa abordagem refere-se fundamentalmente aos processos cognitivos utilizados por indivíduos para a tomadas de decisões.

“Abordagem Efetiva” passou a ser associada principalmente a criação de empresas em ambientes de incerteza e estágios iniciais de desenvolvimento. Não é difícil de associar  estas duas características a startups de Biotecnologia no Brasil.  Ao contrário de um plano de negócios tradicional, o qual  estabelece um objetivo predeterminado e utiliza métodos preditivos para obtenção dos meios necessários para alcançar os seus resultados. As premissas básicas da abordagem efetiva verifica que, em um ambiente com alto grau de incerteza, vários são os resultados possíveis para uma determinada ação. No entanto, podemos dizer que a única coisa que realmente é conhecida são os meios ou recursos existentes para execução tal ação.

A lógica da abordagem efetiva, parte dos meios que o empreendedor dispõe para o desenvolvimento de oportunidades de negócios. Partindo de tais pressupostos, Sarasvathy formulou cinco princípios que orientam os empreendedores que pretendem seguir a Abordagem Efetiva, estes são apresentados a seguir:

1. Princípio do Pássaro na Mão

Inicie com os meios ou recursos disponíveis.

O primeiro princípio estabelece que o empreendedor deva iniciar seu negócio com os meios ou recursos que têm disponíveis, orientados pelas perguntas:

  • Quem eu sou?
  • O que eu conheço?
  • Quem eu conheço?

O empreendedor deve agir com base nos recursos que já possui e, a partir daí, agir no sentido de obter comprometimento com as partes interessadas (clientes e colaboradores). A nomenclatura dada ao princípio remete ao jargão popular de que é melhor ter um pássaro na mão do que dois voando, ou seja, melhor aproveitar uma oportunidade que seja viável neste momento  (No aqui ! No agora !)  com os recursos que já possui, do que ficar esperando uma ótima oportunidade (aquela perfeita!) que para necessitará de mais recursos do que possui.

2. Princípio da Perda Suportável

Tome decisão com base no que suportaria perder.

Ao invés de tomar decisão em função do retorno esperado do investimento, é proposto que o empreendedor estabeleça o quanto suportaria perder em uma determinada oportunidade de negócio. Ao focar no possível fracasso, o empreendedor age de forma menos arriscada e foca na experimentação de diferentes estratégias disponíveis com recursos existentes.

Um bom link neste sentido são os formulários do Google Docs, que podem ser utilizados para avaliar se existe público consumidor para determinado produto ou não (os formulários são gratuitos!). É muito comum utilizar estes tipos de formulários no meio acadêmico, demonstrando que as ferramentas utilizadas por pesquisadores podem também ser utilizadas por empreendedores. Lembre-se sempre que existe uma forte conexão em empreender e fazer ciência (basta ligar os pontos).

3 . Princípio das Alianças Estratégicas

Obtenha o comprometimento de seus parceiros.

O empreendedor deve identificar as possíveis alianças que pode construir para a execução do negócio, ao invés de preocupar-se com a competitividade do mercado ou tão somente com os recursos da empresa. Aquela velha máxima aqui prevalece “juntos vamos mais longe”. Isso porque as alianças permitem ao empreendedor diminuir o grau de incerteza do ambiente.  Um bom exemplo são os produtores de cerveja artesanal que compram juntos sua matéria prima (malte), visando diminuir custos de transporte e negociando melhores preços com os fornecedores, a compra em grandes quantidades favorece este tipo de abordagem.   

4. Princípio da Limonada

Explore as possibilidades.

A teoria effectuation pressupõe que a experimentação de inúmeras possibilidades, tendo em vista que os objetivos do empreendedor ainda não estão completamente definidos. Quando o foco do desenvolvimento do novo negócio é baseado na exploração de um conhecimento preexistente, com um objetivo definido, ele é bem menos maleável às adversidade que podem aparecer no dia-a-dia.  A nomenclatura remete ao jargão popular de que se a vida lhe dá limões, faça uma limonada. Ou seja, ao invés de evitar as contingências do dia-a-dia, o empreendedor deve incorporá-las como uma forma de restabelecer objetivos.

5. Princípio do Controle X Predição

O futuro é incerto.

Não tente prever o futuro. Aceite o futuro como sendo imprevisível e incerto. Como não é possível prever o futuro, as decisões devem ser tomadas com base na experimentação (tem ou não tem mercado ?, produz lucro ou não? etc ).

Os cientistas testam hipóteses!

Com o intuito de controlar o futuro ao invés de prevê-lo, as decisões e ações  do empreendedor podem ser moldadas. Essa incerteza dispensa a necessidade de previsão. É muito comum, em um plano de negócio tradicional, cobrar do  empreendedor um prognóstico de desenvolvimento, ou lucro em X tempo de vida da empresa.  No entanto, a teoria effectuation caminha no sentido contrário.

Embora a teoria effectuation não reduza a probabilidade de fracasso, diminui seus custos, pois permite ao empreendedor falhar mais rapidamente, ou redirecionar o negócio, por meio de feedback e interação com o ambiente empreendedor.

Assim como no ambiente científico, no empreendedor, existem muitos eventos que acontecem meramente ao acaso.

Nem sempre é simples  fazer a conexão do conhecimento que temos com uma oportunidade negócio, mas certamente ter conhecimento e capacidade profissional para utilizar ferramentas científicas no meio empreendedor coloca os biotecnologistas numa posição de destaque. ( Biotecnologistas, basta ligar os pontos!)

Parafraseando Louis Pasteur:

O acaso favorece as mentes preparadas

Bibliografia consultada:

http://www.effectuation.org/sites/default/files/research_papers/what-makes-entrepreneurs-entrepreneurial-sarasvathy_0.pdf

https://www.youtube.com/watch?v=AQXAf7–8H8

https://www.youtube.com/watch?v=t5HZW4NqZ-E

Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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