Nesta quarta feira o Brasil se posicionará na fronteira da ciência e tecnologia ao inaugurar a primeira etapa do acelerador de partículas que se tornará a fonte de luz síncrotron mais avançada de todo o mundo! O nome do novo acelerador é Sirius, e ele está localizado em Campinas, no interior de São Paulo, dentro do campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
O que pouca gente sabe é que no Brasil já existe um acelerador de partículas em funcionamento, também no CNPEM. O acelerador UVX pertencente ao Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/CNPEM) foi o primeiro acelerador de partículas do hemisfério sul ao ser inaugurado em 1997, e atende cerca de mil pesquisadores por ano. Agora o UVX vai ser aposentado para dar lugar ao Sirius, um acelerador de quarta geração, com tecnologia mais moderna e avançada que fará em poucos minutos o trabalho que o UVX atualmente leva horas para fazer.
A construção do Sirius é uma grande conquista da ciência brasileira! O projeto foi idealizado por pesquisadores brasileiros altamente competentes e produzido com tecnologia também brasileira. Quando entrar em funcionamento vai permitir que nossos cientistas produzam ciência de alto nível competitiva com as pesquisas americanas e europeias! Saiba mais sobre as mentes por trás deste projeto nessa reportagem da BBC.
A entrega da primeira etapa do Sirius ocorre nessa quarta feira 14 de novembro e contará com a presença do atual Presidente Michel Temer e do atual Ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab.
Mas o que é um acelerador de partículas?
Por fora, o Sirius parece um estádio de futebol ou um moderno shopping center. Por dentro existe toda uma estrutura voltada para acelerar um feixe de elétrons em velocidade bem próxima da luz, e quando potentes campos magnéticos desviam a trajetória desse feixe, um tipo de radiação eletromagnética de alto fluxo e alto brilho chamado de luz síncrotron é liberado. Os cientistas utilizam essa luz síncrotron para analisar os mais diferentes tipos de materiais: rochas, proteínas, nanopartículas, tecidos e órgãos, fósseis e compostos químicos. Ou seja, o Sirius vai auxiliar no desenvolvimento científico de diversas áreas como: biologia, biotecnologia, química, física, história, materiais, engenharia, medicina..
De maneira simplificada, o Sirius é um ultra-aparelho de radiografia que os pesquisadores utilizam para conseguir informações detalhadas sobre os materiais de estudo.
Você pode já ter ouvido falar sobre o LHC (da sigla em inglês para Grande Colisor de Hardrons), um acelerador de partículas gigantesco que possui 27 km de circunferência e está enterrado a 100 m de profundidade entre as fronteiras da França e da Suíça. Diferentemente do Sirius, o LHC é um colisor de partículas, permitindo o estudo de como as partículas se comportavam em abientes como após o Big Bang.
Saiba mais sobre a estrutura do Sirius na reportagem do CanalTech.
Quais as vantagens para a sociedade?
Você pode estar pensando “está bem, isso é muito legal para os cientistas, mas o que um investimento de R$1,8 bilhão como este traz para a sociedade?”. As informações obtidas com os estudos com luz síncrotron podem auxiliar no :
- Desenvolvimento de novos medicamentos;
- Aprimoramento de materiais usados na construção civil e na exploração de petróleo;
- Desenvolvimento de plantas que necessitem de menos água para crescer;
- Desenvolvimento de compostos químicos e materiais para a indústria;
- e muito mais!
Quem financiou a construção do Sirius?
O Sirius é o projeto científico mais ambicioso realizado no Brasil, e seu custo já alcança R$1,8 bilhão. Num momento de crise econômica no Brasil e principalmente de crise na ciência e tecnologia é importante ressaltar que a verba para a construção do Sirius já estava na conta do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC).
Grande parte da verba para a construção do Sirius veio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), criado em 1999 pelo governo FHC e que hoje é a principal fonte federal para financiamento de pesquisas. O projeto Sirius saiu do papel em 2012, no entanto dois anos depois começou o período de queda nos investimentos em ciência e tecnologia no país, o que deixou os cientistas preocupados se ocorreria a conclusão do projeto. Em 2015, o então ministro da ciência e tecnologia Aldo Rebelo garantiu a inclusão das obras do Sirius no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), garantindo que o governo tratasse este projeto como prioridade.
Em maio de 2018, o primeiro feixe de elétrons foi gerado no aparelho conhecido como Linac, que agora está sendo conectado ao primeiro anel de aceleração, conhecido como Booster. A previsão é que o Sirius esteja em funcionamento para a comunidade cientifica brasileira e da América Latina em 2019.
Saiba mais sobre a história do projeto Sirius na reportagem da Revista Época.