Pesquisa realizada pela editora Elsevier, em 2017, indica que no Brasil as mulheres já são 49% do total de pesquisadores. Somente Brasil e Portugal apresentaram números tão expressivos sobre a participação feminina na pesquisa científica na qual 12 países foram avaliados, dentre eles Chile, EUA, Japão, Austrália, França, entre outros países europeus.
Visando estimular a participação das mulheres na ciência e contribuir para maior produção científica das nossas pesquisadoras, a Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou que a partir de 11 de fevereiro de 2020 – data em que se comemora o Dia de Mulheres e Meninas na Ciência – irá iniciar a entrega do Prêmio Carolina Bori Ciência e Mulher. O prêmio será dividido em duas categorias, de acordo com o tempo de carreira da candidata: uma para jovens estudantes e outra para pesquisadoras que atuam em projetos de pesquisa.
A escolha do nome do prêmio é uma homenagem a uma grande pesquisadora brasileira. Carolina Bori foi professora na Universidade de São Paulo (USP), e esteve a frente de pesquisas na área de psicologia educacional e experimental. Participou da criação dos departamentos de psicologia em outras universidades do país – como a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – além de ter sido a primeira presidenta da SBPC (1986 a 1989).
As palavras ensinam mas os exemplos arrastam
Além de premiações como a da SBPC, a divulgação e reconhecimento do trabalho desenvolvido por nossas pesquisadoras também é fundamental para incentivar a participação feminina na pesquisa. Recentemente, as autoras Hildete Pereira de Melo e Ligia Rodrigues escreveram o livro Pioneiras da Ciência no Brasil, onde um dos objetivos é usar grandes pesquisadoras para influenciar positivamente as novas gerações de meninas e mulheres que sonham com a carreira científica (link para o livro).
No site do CNPq você também pode encontrar a série de Pioneiras da Ciência no Brasil e a série de Jovem Pesquisadoras, mostrando que Ciência também é coisa de mulher!
Nós do Profissão Biotec também acreditamos que os exemplos reais são a melhor forma de incentivo!!! Por isso a seguir destacamos mulheres citadas no livro que atuaram em áreas relacionadas à biotecnologia, para que você – menina ou menino – se inspire nesses grandes exemplos!
Graziela Maciel Barroso
Graziela Maciel Barroso nasceu em Corumbá, Mato Grosso do Sul em 1912. Somente aos 30 anos, casada e com filhos, começou a aprender botânica com o marido, o agrônomo Liberato Joaquim Barroso. Em 1946 foi aprovada em segundo lugar no concurso de naturalista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Graduou-se em Biologia na Universidade do Estado da Guanabara. Somente aos 60 anos, defendeu sua tese de doutorado.
Dra Graziela, também chamada de “primeira grande dama da botânica brasileira”, possui mais de 25 espécies batizadas com seu nome, se tornou a maior catalogadora de plantas do país e um de seus livros: Sistemática de angiospermas do Brasil, considerado uma referência internacional em botânica.
Ela foi a única brasileira a receber a medalha Millenium Botany Award prêmio internacional concedido a botânicos. Faleceu em maio de 2003, deixando um grande legado para os estudos da área de botânica.
Johanna Döbereiner
Johanna Döbereiner nasceu em Aussig, na antiga Tchecoslováquia, no ano 1924. Somente em 1950, já graduada em Agronomia na Universidade de Munique e recém casada, Johanna veio para o Brasil, onde naturalizou-se brasileira. Começou como assistente de pesquisa no Laboratório de Microbiologia de Solos, no antigo Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas do Ministério da Agricultura (SNPA), hoje conhecido como Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
Na década de 1970, suas pesquisas sobre fixação biológica do nitrogênio foram decisivas para a expansão do cultivo de soja no Brasil, pois reduziu o uso de fertilizantes hidrogenados, aumentando a produção agrícola. Seu método de cultivo também foi aplicado na produção de cana-de-açúcar e de leguminosas, sempre visando a redução de custo de cultivo e os danos ambientais.
Recebeu diversos prêmios ao longo da carreira e em 1997 foi indicada ao Prêmio Nobel de Química, pois seu trabalho favorecia o acesso de milhares de pessoas a alimentos mais baratos e saudáveis. Faleceu em 2000, no Rio de Janeiro. Apesar de ter sido tão importante para o desenvolvimento da ciência brasileira e ter reconhecimento internacional do seu trabalho, Johanna ainda é pouco conhecida pelos brasileiros.
Maria José von Paumgartten Deane
Maria José von Paumgartten Deane nasceu no Pará em 1916. Filha de um austríaco e de uma francesa, formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará no ano de 1937.
Destacou-se na área de parasitologia, contribuindo na fundação do Instituto de Patologia Experimental do Norte, do Instituto Evandro Chagas e do Serviço de Malária do Nordeste. Na década de 1980, foi chefe do departamento de Protozoologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e posteriormente vice-diretora desta Instituição.
Suas pesquisas contribuíram para erradicação das epidemias causadas por parasitas, melhorando significativamente a saúde pública brasileira. Em reconhecimento ao seu empenho bem como do trabalho de seu marido, o também pesquisador Leônidas de Melo Deane, a Fiocruz nomeou um de seus centros de pesquisa como Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia).
Faleceu em 1995, no Rio de Janeiro, tornando-se referência na área de doenças endêmicas de origem parasitária.
Bertha Lutz
Bertha Maria Júlia Lutz nasceu em São Paulo em 1894. Filha do cientista Adolfo Lutz e da enfermeira Amy Fowler. Completou a licenciatura em Ciências pela Universidade da Sorbonne, em Paris, e retornou ao Brasil em 1918.
Ingressou no Museu Nacional no Rio de Janeiro, sendo a segunda brasileira a ingressar no serviço público (no início do século XX não era comum mulheres ingressarem no serviço público). Durante 40 anos foi docente e pesquisadora do desta instituição. Ganhou reconhecimento internacional por suas pesquisas na área de zoologia, onde identificou espécies como a Liolaremus Lutzae (lagartixa de praia), Hylas, H.Squalirostris, e Perpusilla.
Bertha também atuou na política lutando para que as mulheres tivessem reconhecidos seus direitos trabalhistas e direito ao voto. Em 1945, foi a única mulher da delegação brasileira a participar da Conferência de São Francisco – que posteriormente originou a ONU, Organização das Nações Unidas – sendo uma das responsáveis por inserir a igualdade de direitos entre homens e mulheres na carta de criação da ONU.
Faleceu em 1976 no Rio de Janeiro. Sua trajetória a tornou um exemplo da participação feminina na ciência, na educação e na política.
Quer conhecer exemplos de outras mulheres do Brasil e do mundo que atuam em biotecnologia? Leia nosso texto Musas da biotecnologia: 8 mulheres que mudaram o rumo da ciência.
Também ficou impressionado com as histórias dessas mulheres? Compartilhe nosso texto e ajude a inspirar outras futuras cientistas brasileiras!! Conhece outras cientistas brasileiras que merecem destaque? Deixe o nome delas nos comentários!
Referências
Melo, H.P; e Rodrigues, L.M.C.S. Pioneiras da Ciência no Brasil. Disponível em http://cnpq.br/documents/10157/6c9d74dc-0ac8-4937-818d-e10d8828f261 Acessado em 01 de março de 2019.
http://portal.abipti.org.br/dia-internacional-de-mulheres-e-meninas-na-ciencia-celebra-avancos-e-relembra-luta-feminina-no-meio-de-cti/ Acessado em 01 de março de 2019.
http://www.abc.org.br/2019/02/08/sbpc-realiza-seminario-sobre-mulheres-e-meninas-na-ciencia/ Acessado em 01 de março de 2019.
https://www.elsevier.com/__data/assets/pdf_file/0008/265661/ElsevierGenderReport_final_for-web.pdf Acessado em 01 de março de 2019.