Prezados leitores, apesar de não conhecê-los, não tenho dúvidas de que já ouviram sermões maternos durante a infância sobre a importância de uma alimentação saudável. Quem nunca ouviu: “Deixa de comer doces e coma frutas e verduras, elas têm vitaminas!”? Nossas mães são sábias pois, em uma explicação quase literal, as vitaminas são elementos nutritivos essenciais para a vida (VITA), que normalmente possuem em sua estrutura compostos nitrogenados (AMINAS). Nosso organismo não produz vitaminas, portanto deve recebê-las através da alimentação (via oral ou injetável) ou por aproveitamento das vitaminas formadas pela flora intestinal.
O consumo destes alimentos é importante, pois apesar de necessárias em quantidades pequenas, as vitaminas são essenciais para garantir o bom funcionamento do sistema imunológico, cicatrizar de feridas, manter os ossos fortes e atuar em conjunto com algumas enzimas em atividades celulares. Elas são classificadas em:
- Lipossolúveis: Solúveis em lipídeos, são absorvidas com as gorduras da alimentação (vitaminas A, D, E e K).
- Hidrossolúveis: Solúveis em água não são armazenadas no organismo, são excretadas pela urina em pequenas quantidades (vitaminas B, C e H).
A maioria das vitaminas hidrossolúveis são constituintes necessários de coenzimas. Mas onde a biotecnologia entra neste assunto? Antigamente, as vitaminas comerciais eram produzidas através da extração em alguns alimentos, mas atualmente são sintetizadas, tanto pelo metabolismo de alguns microrganismos quanto por fermentação, duas técnicas antigas porém clássicas da Biotec. Vejamos alguns exemplos:
Cianocobalamina (Vitamina B12)
Comercialmente, a cianocobalamina (vitamina B12) é um sólido cristalino de cor vermelha, inodoro e insípido, solúvel em água.
Para sua produção industrial são utilizados microrganismos Propionobacterium freundereichii, P. shermanii e Pseudomonas denitrificans, que são capazes de produzi-la durante a fermentação. O processo ocorre em aerobiose intensa, é necessário adicionar sal de cobalto e DBI (5,6-dimetilbenzimidazol), essenciais para a biossíntese.
Riboflavina (Vitamina B2)
Também conhecida como lactoflavina ou vitamina G, além do processo sintético, esta vitamina pode ser obtida por microrganismos como, por exemplo, Ashbya gossypii pela transformação de glicose em D-ribose e em seguida em riboflavina. Este ascomiceto favorece alto rendimento, pois é capaz de produzir 40 vezes a quantidade de riboflavina do que necessita, além de não ser sensível ao ferro e gerar um rendimento de 15g dessa vitamina por litro de meio. A vitamina B2 é separada das células através de tratamento térmico a120 ºC por uma hora, seguida da separação do micélio.
B- caroteno
É um precursor da vitamina A, estimula o sistema imunológico, combate os radicais livres e ajuda a manter altos níveis de anticorpos. O betacaroteno é essencial para a saúde de todos os tecidos do organismo, auxilia no rejuvenescimento da pele e favorece o bronzeado tão desejado pelas mulheres. Pelo processo fermentativo, foi verificado bom rendimento da sua produção utilizando-se ambas as formas sexuadas de cepas de Blakeslea trispora, em que a forma sexual (-) é utilizada em maior proporção do que a (+) para aumentar o rendimento.
Ergosterol
Também conhecido como provitamina D2, o ergosterol está presente em cerca de 2% da biomassa seca em alguns fungos e leveduras. No primeiro grupo ele está presente na superfície das células, sendo então muito utilizado devido à facilidade de isolamento, embora o rendimento seja baixo. Utilizando Fusarium sp. em meio de cultura obtém-se 0,65 g/L de palmitato de ergosterol e 0,2 g/L de ergosterol livre.
Como exemplos de leveduras utilizadas para a produção de ergosterol podemos citar os gêneros Saccharomyces e Candida. A cepa Saccharomyces cerevisae MY 813 já foi utilizada e demonstrou bons rendimentos de 3,8g de ergosterol por litro. A extração do ergosterol em leveduras é mais complexa, uma vez que ele está intimamente associado à parede celular e não é possível ser extraído diretamente com solventes. O ergosterol é transformado em vitamina D sob ação da luz (raios ultravioletas). Veja a sua estrutura química:
Além dos exemplos citados no texto, existem outros suplementos e aminoácidos produzidos por técnicas biotecnológicas. Na próxima vez que você utilizar alguma vitamina ou suplemento lembre-se de que a biotecnologia possibilitou o conhecimento e as técnicas necessárias para síntese do mesmo.
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Referências:
AQUARONE, E, Produção de vitaminas. Biotecnologia industrial, v. 3, p. 81- 97, 2007.
Biochemical Engineering Journal, v.5, p. 129-136, 200.
NINET, L., RENAULT, U. In: PEPPLER, H.Y., PERLMAN, D. eds. Microbial technology. Nova York: Academic Press, v.1, p. 529-544, 1979.