Aqui no Profissão Biotec já explicamos a definição do termo Biotecnologia em diversos materiais, mas não custa mais um para dar uma introdução clichê a este texto. De acordo com a definição dada pela Organização das Nações Unidas (ONU) na Convenção sobre Biodiversidade Biológica (revisada em 2015), Biotecnologia significa “qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica”.
Mas pra quem pensa que a Biotecnologia é uma área recente, está muito enganado. Apesar do termo “biotecnologia” ter surgido apenas em 1919, com o engenheiro húngaro Karl Ereky, essa prática tem sido realizada desde o início da civilização. Para Ekery, biotecnologia significava apenas a produção de produtos a partir de matéria prima com a adição de organismos vivos. Mas ela abrange muito mais áreas do que apenas essa definição.
Primórdios da Biotecnologia
O tipo mais primitivo de biotecnologia data de 10.000 anos atrás, quando nossos ancestrais começaram a se estabelecer com a agricultura, selecionando e mantendo plantas como uma boa fonte de alimento. Os primeiros exemplos de plantas domesticadas são arroz, cevada e trigo. Ademais, as plantas domesticadas passavam por métodos primitivos de polinização cruzada, a fim de obter variedades melhores.
Além das plantas, a domesticação de animais nessa mesma época, para obtenção de leite e/ou carnes, também foi uma forma de biotecnologia primitiva, visto que os nossos ancestrais utilizavam métodos de cruzamentos para a obtenção de “animais melhorados”.
Biotecnologia antes da Era Comum
Ainda no período datado como BCE (Before Common Era), o equivalente à AC (Antes de Cristo), as diferentes civilizações utilizavam diversos processos biotecnológicos no seu cotidiano. Por volta do ano 7000 BCE, os chineses descobriram a fermentação alcoólica e desenvolveram técnicas para a produção artesanal de cervejas e queijos.
Aproximadamente em 6000 BCE, diversos povos, como os sumérios e babilônicos já utilizavam também a fermentação para a produção de cerveja, bem como a produção de iogurte e queijo através de bactérias ácido-láticas.
A fermentação de pães utilizando leveduras só começou a ser utilizada por volta de 4000 BCE pelos egípcios. E, em 2019, um Egiptologista amador “comprovou” o uso de leveduras provindas das cerâmicas egípcias para a fermentação de pão nos dias atuais. Apesar de parecer loucura, Seamus Blackley, Egiptologista amador e um dos inventores do console de Xbox, extraiu leveduras adormecidas de cerâmicas de mais 5000 anos e utilizou na produção de um pão similar aos que os egípcios faziam. De acordo com Blackley, o resultado foi “horrível, pães parecidos com pedras”. Leia mais sobre aqui!
Os dados disponíveis nos mostram um grande espaço de tempo entre a próxima descrição do uso da biotecnologia. Em 500 BCE, os chineses utilizaram pela primeira vez coalho de soja mofado como antibiótico para tratar furúnculos, isso porque alguns tipos de bolores possuem capacidade antibiótica, como é o caso da penicilina, descoberta ao acaso por Alexander Fleming em 1928. Essa substância que é produzida e secretada pelo fungo Penicillium notatum possui capacidade de matar bactérias.
Biotecnologia na Era Comum
O destaque na biotecnologia para o início da Era Comum (início a partir do primeiro ano do calendário gregoriano, também conhecida como Era Cristã) também foi na China! Isso porque no ano 100 CE (Common Era, Era Comum), os chineses começaram a utilizar o pó feito a partir da planta Chrysanthemum spp. como inseticida natural. No caso, eram e ainda são utilizadas as flores da Chrysanthemum cinerariifolium (atualmente o gênero foi atualizado para Tanacetum cinerariifolium). O pó dessas flores possui uma família de componentes ativos denominados de piretrinas, que atacam o sistema nervoso de insetos.
A partir de então já entramos na Biotecnologia chamada de “Pré Século 20” (começa aproximadamente com a descoberta de Hooke em 1663 e acaba, aproximadamente, em 1985 com a vacina anti-rábica de Pasteur). Nesse período se encontram diversas descobertas de extrema importância para a Biotecnologia, como a descrição de células por Robert Hooke (1663), o desenvolvimento das técnicas de coloração para bactérias por Robert Koch (1877) e o desenvolvimento de vacinas por Louis Pasteur (1881 e 1885).
Seguindo na linha do tempo, ainda temos a Biotecnologia do Século 20, na qual ocorre o primeiro uso do termo Biotecnologia em 1919. No século 20, ainda é possível destacar a descoberta do primeiro antibiótico, a penicilina por Alexander Fleming, em 1928; a descrição da estrutura dupla-hélice do DNA por James Watson e Francis Crick, em 1953, e, a concepção da técnica de PCR, em 1983, que atualmente está sendo amplamente utilizada no diagnóstico da Covid-19 (leia mais em nossos outros textos linkados aqui, aqui e aqui!).
Por fim, há a Biotecnologia do Século 21, a qual estamos atualmente vivendo. E nesse período, ainda tão curto, podemos dar grande destaque à conclusão do Projeto do Genoma Humano (Human Genome Project, HGP), que foi concluído em 2003 e desde então auxilia em diversas pesquisas relacionadas à saúde humana e outras áreas.
Como visto nesse texto, apesar do termo Biotecnologia ser relativamente novo, nossos ancestrais já utilizavam processos biotecnológicos no seu cotidiano. Toda a história por trás dessa área realça a importância da Biotecnologia para o desenvolvimento das civilizações! Por isso, nós precisamos continuar difundindo os conhecimentos biotecnológicos para alcançar o maior número de pessoas possível, então fique sempre nos acompanhando aqui no Profissão Biotec!!