Quantas vezes você já escutou a palavra, biotecnologia e pensou: “Beleza, biotecnologia é legal, pode ajudar a melhorar o mundo, mas é uma coisa muito distante do meu cotidiano, acho que só os cientistas e biotecnologistas têm contato com essas coisas”?
A biotecnologia está mais perto do seu cotidiano do que você imagina. Trazemos uma lista de produtos biotecnológicos comestíveis que você pode encontrar na cozinha de casa, mas você nem imaginava !
1 – Molho tabasco
Ao degustar um delicioso lanche, muitas vezes complementamos o sabor adicionando um dos molhos mais famosos do mundo: o Tabasco. Originário de Louisiana, Estados Unidos, e produzido através de pimentas vermelhas Capsicum frutescens da variedade Tabasco. Quando as pimentas alcançam o tom perfeito de vermelho, elas estão no seu estado mais suculento, nesse momento, elas são cuidadosamente colhidas à mão.
Após a colheita, elas são lavadas, maceradas e mantidas com 10% de sal em galões de aço. O grande diferencial de sabor é o processo de fermentação, um processo de transformação química de açúcares feita por microrganismos vivos, como fungos e bactérias. Nesse processo, além de gerarem energia, sintetizam outras moléculas orgânicas complexas de que precisam para viver. E são essas inúmeras moléculas que dão os diferentes sabores e cheiros característicos de cada alimento fermentado.
A fermentação da pimenta ocorre durante três anos em barris de carvalho, no qual o molho adquire características únicas, os quais a fazem famosa. (1)
2 – Chocolate
Quem não gosta de um bom chocolate que atire a primeira pedra.
Você deve estar se perguntado: “Desde quando o chocolate é produto biotecnológico, se você usa o cacau pra fazê-lo”?
Senta que lá vem explicação. Antes da amêndoa do cacau ficar pronta para produzir o chocolate, ela passa por um processo de fermentação, no qual um fungo age sobre as sementes do cacau durante sete dias. O gosto marcante e característico do chocolate aparece depois da fermentação e torra das sementes. (2)
3 – Molho tipo Shoyu
Quem não gosta daquele sushi com molho tipo Shoyu para realçar o sabor?
Este também é um produto biotecnológico cuja produção consiste nas seguintes etapas:
- Preparo dos ingredientes: molha-se a soja com água, para ser cozida a vapor, e torra-se e mói-se o trigo.
- Fermentação: a soja cozida e o trigo triturado são misturados com koji (fungos do gênero Aspergillus). Nesse processo, os fungos são cultivados durante três dias.
- Envelhecimento: a salmoura é misturada aos ingredientes, formando o Moroni, que é envelhecido em um tanque por meses, ocorrendo a fermentação do ácido lático e de outros ácidos orgânicos nesse período. Durante o envelhecimento, que pode levar de 6 meses a 2 anos, as enzimas produzidas pelos microrganismos decompõem as proteínas da soja em aminoácidos e o amido do trigo em glicoses.
- Extração: após o envelhecimento, o liquido é submetido a compressão.
- Esterilização: terminada a filtração, o shoyu é aquecido para esterilizar os microrganismos, encerrando o processo de fermentação, e adicionar o aroma e a cor próprias do molho de soja. Após essa etapa, o shoyu será engarrafado, estando pronto para o consumo.(3)
4 – Chucrute
Prato típico da culinário alemã, o chucrute nada mais é que uma conserva de repolho fermentado.
Seu modo de preparo segue os seguintes passos:
- Remoção do centro e corte: As cabeças de repolho são previamente murchas em local com fluxo de ar adequado, para facilitar o corte. Depois, ele é cortado em tiras finas e levado para a fermentação.
- Salga: O tipo de fermentação que transforma o repolho em chucrute é a fermentação lática. Nesse processo, deve ser utilizado grande quantidade de sal para evitar a degradação por microrganismos indesejados e facilitar o desenvolvimento das bactérias de fermentação lática. O repolho deve ser pressionado no tanque onde estiver sendo salgado.
- Fermentação: Os principais microrganismos participantes do processo são o Leuconostoc mesenteroides, o Lactobacillus brevis e o Lactobacillus plantarum, bactérias naturalmente presentes na microflora dos vegetais frescos, embora não sejam os únicos. As condições existentes permitem um rápido crescimento dos microrganismos com produção de gás inicial. Forma-se uma salmoura de suco de repolho acrescida de sal. Ao fim da fermentação, os tanques são vedados e posteriormente levados para serem enlatados.(4)
5 – Queijo Roquefort
Um dos mais famosos queijos franceses com sabor único, o queijo roquefort produzido através de leite cru de ovelhas, possui sua principal característica devido ao crescimento do fungo benéfico Penicillium roquerforti, que é injetado em sua massa durante a maturação.
O fungo é uma criatura sensível. Ele gosta de ar, mas pode morrer se for exposto a muito oxigênio. Então os fabricantes espetam o queijo com varetas metálicas, fazendo buracos pequenos e protegidos onde os fungos ficarão em segurança para se multiplicar. Uma vez acomodados, eles segregam enzimas que quebram as gorduras do queijo em ácidos graxos, o que confere a ele o sabor ligeiramente ardido, que lhe garante o odor característico. (5)
6 – Leite fermentado
Quem nunca, ao ir no supermercado com a mãe, implorou para comprar um leite fermentado, cuja marca mais conhecida é o Yakult?
O Leite Fermentado Yakult é um alimento à base de leite desnatado, fermentado por lactobacilos, o exclusivo probiótico (organismos vivos que quando ingeridos exercem efeito benéfico no balanço da flora bacteriana intestinal da pessoa que os consumiu.)
Os Lactobacillus casei Shirota são microrganismos selecionados, que, devido à sua forma de bastonetes, são chamados de “bacilos”, e por transformarem, através da fermentação, o açúcar do leite (lactose) em ácido láctico, são chamados de lactobacilos. Estes são capazes de atravessar a acidez do estômago, chegando vivos aos intestinos e proporcionam o equilíbrio das funções intestinais através da produção do ácido láctico. O meio ácido favorece o aumento dos microrganismos benéficos que auxiliam na redução dos riscos de doenças, na regularização das funções intestinais e na proteção do sistema digestório.(6)
7 – Picles
Picles são conservas de vegetais em vinagre. Este tratamento produz a fermentação láctica do alimento. É uma fermentação natural por ação das bactérias do gênero Leuconostoc e Lactobacillus do próprio vegetal
A fermentação lática é um importante método de preservação de alimentos, conhecido há centenas de anos.
Os produtos mais utilizados são: pepino, cebolinha e couve flor. A ação das bactérias láticas transforma uma parte dos carboidratos do vegetal em ácido lático originando os verdadeiros picles.
A fermentação lática inicia lentamente e atinge seu auge após 3 a 4 dias. Deve ser mantida a uma temperatura de 18 a 20°C, podendo também ser realizada entre 20 a 25°C com bons resultados. Com a fermentação, deseja-se a transformação de substâncias fermentáveis em ácido lático.(7)
A história dos picles é antiga. Relatos históricos apontam o consumo de picles de pepino há 4000 anos atrás, principalmente na Mesopotâmia, atual Iraque. Na Roma Antiga, a tradição foi mantida. Conta a história que os soldados romanos mantinham sua saúde comendo picles de pepino.
Benefícios de comer picles:
- Ajudam a promover o sistema digestivo.
- Possuem uma grande concentração de Vitamina C.
- Ajudam na absorção de ferro.
- Reintrodução de bactérias “boas” para o intestino, tais como os Lactobacillus acidophilus (o mesmo do iogurte Activia), que é extremamente favorável para os diabéticos.
- Melhora a saúde das articulações, dos ossos, pressão arterial e o sistema imunológico.
- Combate as infecções urinárias.(8)
Portanto, ao comer um desses produtos, lembre-se que a biotecnologia está mais presente no nosso cotidiano do que pensamos, deixando os alimentos mais saborosos!
Cite este artigo:
TONIAL, G. 7 Produtos biotecnológicos comestíveis que você nem imaginava. Revista Blog do Profissão Biotec, v.1, 2016. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/7-produtos-biotecnologicos-comestiveis/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências
1- http://www.tabascobrasil.com.br/historia/
2-http://paladar.estadao.com.br/noticias/comida,o-chocolate-e-um-alimento-fermentado,10000010092
3- http://www.kikkoman.com/soysaucemuseum/portugal/making/03.shtml
4- AQUARONE, Eugênio. et al. Biotecnologia Industrial. vol.IV. São Paulo: Blucher, 2001.
5- http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/01/141230_vert_fut_queijo_biologia_ml
6- http://www.yakult.com.br/Yakult/default.aspx?mn=217&c=229&s=0
7- http://www.comofazer.net/conserva-de-picles/
8- http://www.liberoalimentos.com.br/2012/03/nao-retire-o-picles-do-seu-sanduiche.html