Temperaturas extremas (tanto baixas como altas), enchentes e secas, epidemias… os efeitos das mudanças climáticas são inegáveis. Suas causas também, e se devem, sobretudo, à atividade humana.
A partir da Revolução Industrial, no final do século 18, começamos a lançar, na atmosfera, quantidades cada vez maiores de gases associados ao efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). O efeito estufa, por vez, é um fenômeno natural, e é ele, inclusive, que permite a manutenção das condições que possibilitam a vida na Terra. Entretanto, à medida que nossas atividades levaram à disparada das emissões nas últimas décadas, o efeito estufa foi intensificado, e a atmosfera da Terra passou a reter mais calor que antes. É essa interferência no delicado balanço que mantém nosso planeta que tem provocado as mudanças climáticas.
Na última década, batemos recordes de temperaturas extremas desde que a humanidade começou a manter registros desse parâmetro. Em comparação ao final do século 19, quando o nível de atividade humana era menor, a temperatura média na Terra atualmente está, aproximadamente, 1,1 °C mais elevada. Apesar de parecer pouco, esse aumento tem impactos grandiosos sobre diversos sistemas que se interconectam e que permitem a vida em nosso planeta.
Algumas consequências das mudanças climáticas são a perda da biodiversidade e, por conseguinte, de diversos recursos naturais, como medicamentos; crise hídrica e energética; prejuízos à agricultura; mortes e incêndios em função de temperaturas extremas… a lista não pára por aí e mostra que precisamos, urgentemente, frear as causas e reduzir os impactos que já estão nos afetando e que não podem mais ser evitados.
Vários cenários nada promissores são esperados caso nada, ou pouco, seja realizado para combater as mudanças climáticas. Por isso, para que tenhamos meios de lutar contra elas efetivamente, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu um dos seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o ODS 13, na Agenda 2030.
Quais as metas do ODS 13?
As mudanças climáticas são o alvo do ODS 13, cujo enunciado é:
“Adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos”.
O ODS 13 é dividido em cinco metas. Conheça, a seguir, aquelas que estão mais intimamente relacionadas à Biotecnologia:
- Reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação a riscos relacionados ao clima e às catástrofes naturais em todos os países.
- Integrar medidas da mudança do clima nas políticas, estratégias e planejamentos nacionais.
- Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a capacidade humana e institucional sobre mitigação, adaptação, redução de impacto e alerta precoce da mudança do clima.
A Biotecnologia apresenta alternativas não só para o combate às mudanças climáticas mas também para a adoção de um modo de vida menos danoso ao ambiente. Conheça algumas delas a seguir.
Como a Biotecnologia pode contribuir?
1 – Bioenergia e biocombustíveis
A queima dos combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, é considerada um dos principais fatores que afetaram o delicado equilíbrio do nosso planeta e agravaram as mudanças climáticas. Por isso, a redução da dependência dos combustíveis fósseis e o desenvolvimento de alternativas “limpas” são os principais objetivos quando se trata de propor medidas para a redução dos impactos ambientais.
Felizmente, a partir das aplicações da Biotecnologia, são desenvolvidas soluções inovadoras para o fornecimento de energia e combustíveis. As alternativas biotecnológicas incluem rotas para a produção de bio-hidrogênio, sistemas para produção de biogás em casa e superorganismos produtores de biocombustíveis.
2 – Sequestro e reciclagem de carbono
Já pensou em capturar os gases que contribuem para as mudanças climáticas e transformá-los em produtos úteis e que apresentem impacto ambiental reduzido? Por meio da Biotecnologia, é possível!
Um exemplo clássico e já mais difundido é o cultivo de microalgas, que consomem CO2 durante a fotossíntese e podem ser aplicadas para a produção de biocombustíveis, como o biodiesel.
Novos processos também vêm sendo desenvolvidos neste sentido, como os da empresa LanzaTech, com sede nos Estados Unidos. A companhia realiza a fermentação de CO2 para a produção de etanol e combustíveis por meio da bactéria Clostridium autoethanogenum. O CO2 utilizado como substrato para alimentação dos biorreatores pode vir de emissões industriais, que, se não aproveitadas, poderiam ir para a atmosfera e contribuir para o efeito estufa.
A empresa também vem desenvolvendo bioprocessos para a produção de químicos como acetona e isopropanol via fermentação com saldo negativo de carbono, isto é, que consome mais carbono do que a quantidade liberada durante a produção. Posteriormente, esses químicos podem ser utilizados como matéria-prima em diversos processos industriais, com a vantagem de apresentarem reduzido impacto ambiental. Para chegar a estes resultados, foram aplicadas, ainda, ferramentas biotecnológicas, como a engenharia genética nos microrganismos responsáveis pelo processo fermentativo.
3 – Bioeconomia
É importante “frearmos” as mudanças climáticas e atenuar suas consequências. Mas esses esforços não serão suficientes se não repensarmos, também, nosso modo de vida. Neste sentido, a Bioeconomia representa uma perspectiva que pode colaborar para alcançarmos relações entre produção e consumo que sejam mais sustentáveis.
Há, ainda, outras alternativas biotecnológicas para minimizar os efeitos e conter as mudanças climáticas. Exemplos são a produção de carne em laboratório, que causa menores impactos ambientais comparada à carne produzida de modo convencional, e a criação de plantas “engenheiradas”, que pode reduzir a participação da agricultura no agravamento da crise climática.
Além disso, de maneira geral, vários outros ODS estão relacionados ao ODS 13 e podem, indiretamente, auxiliar no cumprimento das metas deste último. O ODS 9, por exemplo, visa à sustentabilidade da indústria, que é um dos maiores emissores dos gases e poluentes associados às mudanças climáticas. Já o ODS 2 e o ODS 7 buscam, respectivamente, assegurar práticas mais sustentáveis para a agricultura e para a produção de energia limpa. Como ambos os setores também figuram entre os maiores poluentes, ações para implementar práticas menos impactantes certamente têm efeito sobre a contenção das mudanças climáticas.
As mudanças climáticas e seus efeitos se tornaram parte do nosso cotidiano e afetam a vida de todos em algum grau. Porém, embora as notícias pareçam desanimadoras muitas vezes, ainda há esperança de contê-las e evitar cenários catastróficos. Mas, para isso, muito precisa ser feito pela sociedade, comunidade científica e governos. Diante disso, a Biotecnologia pode oferecer uma contribuição relevante e é uma ferramenta para se atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que buscam garantir um futuro viável e digno para a Terra e seus habitantes.
Cite este artigo:
LATOCHESKI, E. C. ODS 13: a Biotecnologia no combate às mudanças climáticas. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/ods-13-biotecnologia-combate-mudancas-climaticas/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências:
NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Objetivo de Desenvolvimento Sustentável: 13 – Ação contra a mudança global do clima. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/13>. Acesso em: 17 ago. 2022.
NAÇÕES UNIDAS BRASIL. O que são as mudanças climáticas? Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/175180-o-que-sao-mudancas-climaticas>. Acesso em: 12 set. 2022.
PEPLOW, Mark. The race to upcycle CO2 into fuels, concrete and more. Nature, v. 603, p. 780-783, 2022. Disponível em: <https://doi.org/10.1038/d41586-022-00807-y>. Acesso em: 12 set. 2022.
UNITED NATIONS. Goal 13: Take urgent action to combat climate change and its impacts. Disponível em: <https://www.un.org/sustainabledevelopment/climate-change/>. Acesso em: 17 ago. 2022.
Fonte da imagem destacada: Pixabay.