Uma das coisas que os fãs de ficção científica, com certeza, sabem é que vemos muitas vezes tecnologias improváveis de existirem naquele momento, mas que certamente estarão no mercado em alguns anos. Isso aconteceu com os submarinos descritos, quase 100 anos antes, em “Vinte mil léguas submarinas” por Julio Verne (1870), o carro voador dos “Jetsons” (1962), com a impressora 3D vista como replicator em “Star Trek” (1966), automação residencial vista em “A casa inteligente” (1999), e muito mais.
Da esquerda para a direita, de cima pra baixo: Replicator (Star Trek), Nautilus (Julio Verne), imagem do filme “A casa inteligente” e figura do carro voador do desenho “Jetsons”.
Pensando nisso, trouxemos hoje 4 ideias da ficção científica que se tornaram realidade graças à biotecnologia:
- Dispositivos que fazem diagnóstico médico instantâneo
Em toda a franquia de Star Trek (1966), está presente um dispositivo utilizado pelo Dr. McCoy chamado Tricorder, capaz de examinar em segundos um paciente, coletar informações distintas e diagnosticar diversas patologias, que apareciam em forma de relatório no console.
Tricorder Médico. Fonte: Tricorder Xprize
No mundo atual, dispositivos como Scanadu Urine já estão a um pé de entrar no mercado, e são capazes de detectar a presença de substâncias na urina, índice de álcool e gravidez. Por motivos óbvios (segredo industrial, patentes e afins), a tecnologia propriamente dita não está disponível para acesso aberto, mas certamente é surpreendente.
Existe também outra versão do dispositivo – baseado em pulsos: Scanadu Vitals – a partir da qual se pode aferir a pressão sanguínea, batimento cardíaco, temperatura, oximetria, respiração e stress. Para completar, os dados aparecem no smartphone através de um aplicativo próprio e podem ser compartilhados por e-mail.
Scanadu Vitals e Urine, respectivamente. Fonte: PCMag
Além disso, há uma iniciativa para criar o chamado Qualcomm Tricorder, que promete diagnosticar 12 doenças e 5 sinais vitais, com a promessa de um prêmio de 10 milhões de dólares. A competição já está na fase final e o grupo vencedor será anunciado no segundo semestre de 2017. Você pode acompanhar os passos dessa jornada no site da competição.
Há também um dispositivo resultante de um trabalho publicado em 2015 que, acoplado a um smartphone, é capaz de diagnosticar se a pessoa é portadora do HIV ou Treponema pallidum, que desencadeiam AIDS e sífilis, respectivamente.
Para fazer o teste basta picar o dedo da pessoa e colocar a gota de sangue num dispositivo de plástico e carrega-se uma alavanca (como aquelas de fliperama). O resultado aparece no smartphone em cerca de 15 minutos. Neste link, há um vídeo mostrando como o aparelho funciona. A técnica é baseada num ensaio de imunoabsorção enzimático (ELISA) e o custo da produção gira em torno de 34 dólares.
Dispositivo para diagnosticar infecção por HIV e T. pallidum acoplado a um smartphone. Fonte: Sia Lab
- Híbridos
Um dos primeiros indícios desta ideia na ficção científica data de 1816, com o romance Frankstein, em que um indivíduo é formado a partir de partes de outros. Ao longo do tempo, o universo das histórias aperfeiçoou este tema, apresentando quimeras como no anime Full Metal Alchemist (2001) e no filme Splice (2009), onde animais e humanos foram fundidos.
Da esquerda para a direita: Frankstein, Full Metal Alchemist e Splice.
Hoje já existem diversos híbridos documentados – apesar de nenhum ser humano – como o Rama, que é proveniente do cruzamento de um camelo e uma lhama, nascido em 1998. A sua criadora na época disse acreditar que ele fosse fértil, por conta do número similar de cromossomos entre as espécies de origem (diferentemente da mula, que é um híbrido infértil), mas não foram encontradas publicações relacionadas a este assunto.
Rama na frente, com os progenitores (camelo e lhama) atrás. Fonte: Jornal dos Bichos
Existem também os Ligres (mestiços entre um leão e uma tigresa) e Tigrons (cruzamento entre um tigre e uma leoa). Ligres são os maiores felinos do mundo e Tigrons são propensos ao nanismo, sendo geralmente menores do que seus pais. Quanto à fertilidade, os machos Ligres/Tigrons são estéreis, enquanto as fêmeas são geralmente férteis. Existem outros animais híbridos que você pode verificar aqui.
Ligre com sua cuidadora. Fonte: Biologia Vida
- Robôs que podem entrar no corpo para combater doenças
Saída diretamente de um livro de 1966, intitulado “Viagens Fantásticas” e escrito por Isaac Azimov, a ideia de fazer robôs capazes de entrar no corpo para combater doenças é real e já está sendo implantada para diversos fins.
Podemos utilizar esses micro e nanorobôs para tratar câncer, distúrbios neurológicos, auxiliar na captação de imagens e direcionamento de equipamentos durante cirurgias, identificar patologias, desentupir artérias e até facilitar a chegada de um espermatozóide a um ovócito. Ficou interessado? Saiba mais lendo este texto.
- Recriação de animais já extintos
Por último, o mais controverso e intrigante de todos: a recriação de animais extintos. Apesar de parecer completamente fora de questão, a recriação vista em Jurassic Park (escrito em 1990 e com várias adaptações cinematográficas) pode se tornar realidade. Apesar dos inúmeras implicações éticas, o debate acerca do processo denominado “de-extinção” vem ganhando cada vez mais força e defensores e já existem relatos de animais cuja existência foi restabelecida (embora não tenha sobrevivido por mais de 10 minutos).
Jurassic Park: The Ride. Fonte: Universal Studios Hollywood
Este animal é o bucardo dos Pirinéus (Capra pyrenaica pyrenaica), uma criatura grande e com longos chifres ligeiramente curvos, extinto no início deste século. Viveu no alto dos Pirenéus, que divide a França da Espanha, e que é de onde os pesquisadores que tentaram trazê-lo de volta são. o Dr.José Folch, responsável pelo projeto injetou núcleos de células isoladas do último indivíduo da espécie (chamada Célia, que morreu devido a queda de uma árvore no parque de conservação) em ovócitos de cabra sem o seu próprio DNA e, em seguida, os implantou em mães de aluguel.
Após 57 implantações, apenas um híbrido se desenvolveu por completo, mas, enquanto o veterinário que fez o parto segurava o bucardo recém-nascido, foi observado que ele apresentava muita dificuldade para respirar e, após dez minutos, o clone morreu. Na necropsia foi encontrado um lobo extra (e bastante sólido) em um de seus pulmões. Recentemente saíram notícias de que o grupo conseguiu financiamento para realizar uma nova tentativa, mas nenhum publicação científica a respeito foi encontrada.
Corpo empalhado de Celia, último bucardo, no Parque Nacional de Ordesa. Fonte: BBC.
Dos grupos atuais, o mais famoso é o Woolly Mammoth Revival, de Harvard, comandado pelo biólogo molecular George Church, que promete a reexistência de mamutes na terra. Através da tecnologia de edição por CRISPR, os pesquisadores inseriram genes de células epiteliais dos animais extintos em células de elefantes asiáticos e juram ter obtido resultados fantásticos (trabalho não publicado). Segundo Church, a partir da edição, pôde-se obter características como as orelhas pequenas, gordura subcutânea, pelos longos e a cor da pele dos mamutes cujo material foi extraído.
Eles defendem os benefícios que essa recuperação de biodiversidade traria, como os animais podem ser reintroduzidos na Sibéria sem grandes impactos, e como podemos tirar proveito disto depois que o processo estiver bem estabelecido.
Você pode checar quais são os outros animais candidatos a este processo, quais são as características e chances de cada um e até mesmo fazer comparações para saber qual “vale mais a pena” aqui.
Inovação. Fonte: Universidade de São Paulo.
E então, lembrou de mais alguma ideia que já foi transformada em realidade? Comente abaixo pra a gente também ficar sabendo! Lembre-se de compartilhar a nossa nossa matéria, para que cada vez mais pessoas vejam como a biotecnologia é importante para o avanço da humanidade e também não deixe de acompanhar o nosso blog e página do facebook pra ficar por dentro das novidades!