Todos nós sabemos que fazer ciência no Brasil é um desafio por si só. Sofremos pela falta de estrutura básica para conduzir pesquisas, falta de investimento, desincentivo à tecnologia e inovação, e burocracia excessiva que acaba drenando boa parte do tempo e energia dos pesquisadores. Tais barreiras são a ponta do iceberg de problemas que fazem parte da vida de praticamente todo cientista brasileiro, seja ele atuante na área pública ou privada.
Podemos começar pela má administração pública dos recursos destinados à ciência e tecnologia. Quando analisamos os dados mais recentes dos indicadores, vemos que o dispêndio na área dobrou entre 2002 e 2013. No entanto, vemos que até hoje tais gastos nunca ultrapassaram 1,2% do PIB, enquanto que a média de gasto mundial é de 2,7%. Ou seja, estamos há mais de 15 anos estagnados no quesito investimento. O impacto é sentido diariamente nos laboratórios, universidades e instituições de pesquisa, onde faltam materiais, infraestrutura básica e equipamentos de qualidade. Esse cenário acaba gerando uma situação de indignação por parte dos atuais pesquisadores, e desmotivação e medo de quem algum um dia pensou em trabalhar na área.
Além de cientistas, os pesquisadores brasileiros têm que aprender como se portar diante do jogo de interesses que move a política nacional. É necessário que se gaste boa parte da energia criativa lutando contra a burocracia, legislações e falta de apoio no âmbito político. A complexidade desnecessária, intrínseca do sistema público faz com que dificilmente uma pesquisa básica chegue ao estado de aplicação, gerando produtos inovadores. Quase não existem empresas inteiramente dedicadas à biotecnologia no país, e quando uma ou outra despontam, logo são englobadas por grandes multinacionais, incapazes de crescer por conta própria.
Recentemente fomos destaque no portal da Nature, devido aos cortes dramáticos nos investimentos destinados ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC). A principal justificativa seria a crise e a necessidade de economizar, sendo esta uma medida controversa e inconsistente, já que o desenvolvimento, aplicação e comercialização em setores inovadores como a biotecnologia poderiam justamente ajudar a reverter o quadro econômico atual.
O fato é que esse tipo de situação nunca se resolverá sozinha. Uma biotecnologia forte e atuante se faz com a mobilização de todos aqueles que trabalham com e pela ciência. Seja você um pesquisador bem estabelecido ou um futuro estudante de biotecnologia, o importante é manter-se minimamente informado sobre os movimentos que trabalham em prol do fortalecimento da ciência e inovação. Um exemplo é o Projeto de lei 3747/2015 que regulamenta a profissão de Biotecnologista e cria os Conselhos Federais e Regionais de Biotecnologia, que está atualmente tramitando na Câmara dos Deputados. O projeto foi redigido por estudantes de biotecnologia e, quando aprovado, será um marco de extrema importância para a profissão. No entanto, para que possamos crescer é imprescindível a atuação de todos, cobrando, se informado, participando e lutando para que a ciência seja reconhecida no Brasil.
E você? O que está fazendo para que a ciência seja reconhecida no Brasil? Conte nos comentários se você participa de algum projeto de divulgação científica, e como ele impacta a sua comunidade!
Referências
http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/10/o-brasil-esta-beira-de-um-apagao-cientifico.html
http://istoe.com.br/cortes-ameacam-sobrevivencia-dos-institutos-federais-de-ciencia-e-tecnologia/