A importância das competências técnicas em biotecnologia (mesmo para quem deseja trabalhar fora da bancada) e como adquirir experiência

Neste texto, destacamos as competências técnicas que mais aparecem como requisitos nos diferentes tipos de vagas, e no final temos uma SUPER DICA de como conseguir experiência técnica - ainda na graduação! Vem com a gente!

Já falamos aqui no Profissão Biotec que os biotecnologistas possuem diversas opções de carreira fora do laboratório. Também já mostramos que você deve aproveitar ao máximo sua graduação para desenvolver soft skills que sejam um diferencial para conseguir “aquela” vaga no mercado de trabalho. 

Porém, mesmo que você já tenha percebido que empregos na bancada não são seu grande sonho, as competências técnicas (hard skills) em biotecnologia não podem ser deixadas de lado; elas são importantíssimas para quem deseja atuar na área, seja na bancada ou fora dela! 

Neste texto, destacamos as competências técnicas que mais aparecem como requisitos nos diferentes tipos de vagas, e no final temos uma SUPER DICA de como conseguir experiência  técnica – ainda na graduação! Vem com a gente!

Analista de Laboratório, Pesquisa & Desenvolvimento, Bioprocessos

As carreiras acima citadas requerem bastante das habilidades práticas de biotecnologia diretamente no dia a dia do trabalho. Saber pipetar, preparar  meios de cultura e tampões, calcular molaridade e concentração, nomes e manejo dos equipamentos são habilidades genéricas e básicas para esses tipos de vagas. 

Dependendo da área de atuação, da empresa ou do projeto, outras habilidades técnicas podem ser requeridas, por exemplo: extração de RNA ou DNA, realização de PCR ou qPCR, sequenciamento de nova geração (NGS), produção e purificação de proteínas recombinantes, fermentação, cultivo de células, entre outras.

Algumas vezes é necessário criar novos protocolos e iniciar um projeto do zero. E neste contexto, aplicar um protocolo de um artigo científico pode ser muito complexo, uma vez que ali está apenas um resumo da técnica. Para entender bem o processo, desde o tempo que irá levar até os possíveis problemas que podem surgir, a prática laboratorial é o maior aliado para otimizar e dar início ao novo protocolo.  De toda forma, a experiência técnica irá proporcionar ao profissional a autonomia e criticidade necessárias para a execução de suas atividades.  

Em algumas empresas de bioprocessos, por exemplo, na própria entrevista com o gestor são dados desafios para resolução. Algumas vezes colocam o entrevistado de frente para o biorreator, dizendo: “Vamos começar esse processo “X”. Como iniciamos a organização do biorreator?” Agora, imagina você passando por isso, sem ter iniciado qualquer fermentação sozinho? Pois isso tem sido comum e como pode-se imaginar, o candidato já é desclassificado, mesmo tendo sido selecionado pelo setor de RH.

Gestão de projetos de biotecnologia e coordenação de laboratório

Quem atua na gestão de projetos ou coordenação de laboratórios e possui experiência técnica prévia pode atingir resultados diferenciados dentro da sua empresa. Neste caso, a experiência prática ajuda o profissional a avaliar criticamente os problemas e entraves que normalmente ocorrem em projetos de biotecnologia. Ter vivência no desenvolvimento técnico de um projeto ou no cotidiano de laboratório torna o profissional mais preparado para identificar tais problemas, minimizá-los e indicar soluções factíveis e eficazes. Por exemplo, a prática ajuda o profissional a saber quais são os reagentes necessários para os experimentos, onde são vendidos e quanto tempo demora a sua entrega.

Ainda, pode aproximar o profissional de sua equipe de pesquisadores, uma vez que ele já esteve no lugar de seus colaboradores e sabe quais são os desafios encontrados no dia a dia. Outro ponto relevante, está na elaboração do projeto: uma vez que já conhece o tempo que pode levar para a padronização de experimentos, o quanto uma técnica pode variar comparada a inicialmente prevista pelo protocolo do artigo, você poderá ser mais assertivo ao definir prazos e orçamentos. 

Essas são tarefas em que a prática laboratorial irá contribuir e muito no desenvolvimento da trajetória profissional.

Vendas técnicas e área comercial

Para atuar em vendas técnicas é preciso entender dos produtos que serão vendidos. Como convencer o cliente da necessidade de realizar a compra se você não souber as aplicações daquele reagente ou equipamento? 

Se o experimento não está funcionando, pode ser que você tenha que propor adaptações de protocolo ou sugerir outros produtos para sanar a dificuldade do seu cliente. Algumas vezes, o cliente pode estar iniciando uma etapa da pesquisa em que não possui referência prática alguma, nesse momento você pode ser essa referência e conquistar um cliente assíduo. Portanto, a experiência técnica prévia proporciona ao profissional maior confiança e credibilidade no processo de venda. 

Conversamos com a Thaís Lopes*, Especialista de Produtos na Pró-Análise, atua na área de vendas e nos contou sua opinião sobre experiência prática em bancada para a área de vendas: 

“Imagine o seguinte cenário: você entra em uma loja de roupas íntimas femininas sendo atendida por um rapaz, que lhe indica as mais confortáveis opções do momento. Você, em dúvida, não sabe quais opções decidir. Ele, muito educado e simpático, foi bem treinado para lhe informar os benefícios de cada produto. Eis, então, que surge aquela dica excepcional e imprevista, vinda da colega dele: “Sabe, uso esse e adoro! Não puxa fio quando lavo na máquina de lavar”. Pronto: está decidido! Naquele momento, com uma simples frase, ela fechou a venda do colega. Sabe por quê? Porque ela estava falando como usuária. O ser humano é um bichinho social e a conexão que rola quando conseguimos ver empatia e veracidade nos olhos da pessoa que nos atende é impagável.
Na área comercial de laboratório, principalmente atuando como especialista, nos deparamos com dúvidas técnicas a respeito de qual melhor produto para determinado fim; visitamos clientes e conversamos sobre as dificuldades enfrentadas no dia a dia de suas pesquisas – e como resolvê-las. Sem a experiência de bancada, a pessoa pode acabar ficando um passo atrás de concorrentes, podendo perder oportunidades de projetos e negócios pela falta daquele “feeling” para saber pescar a simples frase que pode transformar-se em uma oportunidade. Em outros casos, a troca de experiências e ideias com o cliente traz aquilo que chamamos de “valor”, ou seja, significado para o atendimento. Nunca iremos saber tudo ou ter feito todas as técnicas possíveis. Porém, a experiência prática em uma rotina de laboratório dá uma bagagem profissional que lhe ajuda nos estudos, treinamentos e resoluções de problemas. Na maioria das vezes, você nunca viu ou fez algo, mas usa seu imaginário para compreender fazendo um paralelo com aquilo lhe é familiar. A teoria lhe apresenta as ferramentas existentes, mas a prática lhe ensina a usá-las. E, na nossa área, isso é parte fundamental e indispensável da formação.”

Consultor científico 

A consultoria científica exige um conhecimento profundo sobre legislação, metodologias de ensaios e aplicações de produtos. Um fato: a notoriedade na área é iniciada pela trajetória do profissional, que será a referência para o assunto.

Para falar um pouco sobre essa experiência convidamos a PhD Izabel Vianna Villela*  – CEO da INNVITRO, empresa que presta suporte científico em gestão da qualidade para laboratórios, ensaios biológicos, avaliação de toxicidade, entre outros.

“A experiência dentro de um laboratório de prestação de serviços em toxicologia pré-clínica trabalhando em um sistema de gestão da qualidade acreditado é a base do meu trabalho atual em suporte em toxicologia. Só quem esteve na bancada entende as nuances que fazem diferença nos resultados. Ter vivenciado o dia a dia do laboratório agrega conhecimento prático sobre preparo de soluções, manutenção de equipamentos, utilização de controles, cuidados sistemas testes, controle do tempo de cada etapa, entre outros, que não podem ser aprendidos nos livros. Só a rotina diária precisando cuidar para que todas as etapas sejam corretamente executadas nos faz enxergar a importância de cada detalhe, que, por exemplo, não adianta ter um super equipamento calibrado se a vidraria não está bem limpa ou se o pessoal não está treinado para operar este equipamento. Além disso, a necessidade de trabalhar em equipe, confiar no trabalho dos colegas e gerir o tempo são aprendizados que se leva para a vida. Esta bagagem me permite atuar como consultora avaliando com segurança o delineamento experimental e a confiabilidade dos resultados de relatórios, gerir de forma assertiva os projetos obedecendo os requisitos de qualidade relevantes e implementar ensaios de forma mais ágil e confiável.”

 Além de consultoria científica em laboratórios de prestação de serviços,  um biotecnologista pode atuar em carreiras de consultoria científica em indústrias farmacêuticas, analisando e repassando o conhecimento científico proveniente de artigos e pesquisas clínicas para os médicos, como no caso dos Medical Science Liason (MSL) e dos Especialistas de Informação Médica (Medical Information Specialists, MIS).

Desenvolvimento de novos negócios e inovação

Á área de Novos Negócios e Inovação aliada ao P&D é algo novo para empresas da área de biotecnologia, porém vem conquistando um espaço único e singular sob uma ótica diferenciada da empresa. 

Para falar sobre essa área convidamos a biotecnologista Ana Cristina Lemos Pereira* que atua como Analista PL de P&D Novos Negócios  na empresa de biotecnologia SuperBac:

“Atuar na área de novos negócios requer um conhecimento geral em inovação e uma aproximação do setor de marketing buscando o entendimento, à nível de P&D, das tendências de mercado. Além disso, busca-se entender o modelo de negócio que sua empresa pratica e como ele pode relacionar ao core business da empresa para o estabelecimento de parcerias promissoras. Não obstante e também não menos importante, se faz necessário o conhecimento prévio da rotina em laboratório e da pesquisa em bancada, na execução de experimentos e de todos os entraves relacionados ao desenvolvimento de um processo/produto. Atuar nessa área requer, muito mais do que as habilidades acima descritas, a busca de aprendizados constantes e um perfil dinâmico com um conhecimento multidisciplinar. É certo que não existe nenhuma regra para atuar nessa área, basta ter o interesse e a oportunidade de poder aprender na prática.”

Gestão da qualidade

Todos já devem ter ouvido falar que a qualidade é um dos principais pilares de uma empresa. Porém, em nosso meio, muitos acreditam que a qualidade é limitada ao controle microbiológico e ao controle de matérias primas. Ledo engano, o conceito da qualidade pode ditar o ritmo de uma empresa, alinhar expectativas e concretizar o sonho inicial da empresa. 

Para contribuir e trabalhar efetivamente em cargos relacionados são exigidas algumas hard skills fundamentais que podemos encaixar muito bem em 4 dos 8 fundamentos da Gestão da Qualidade Total: visão sistêmica, aprendizado organizacional e inovação, desenvolvimento sustentável e gerência por processos (você pode saber mais informações sobre o assunto neste link).

O setor de qualidade também é responsável por implementar as “temidas” ISO 9001, ISO 18001, ISO 17025… Para tanto, as normas aplicáveis devem ser adaptadas para a realidade da empresa, verificando os pontos relevantes e entendendo os processos. O conhecimento prático, pode contribuir para que a “tradução” da norma seja mais tranquila e eficiente, padronizando, verificando e analisando o que realmente é importante para a empresa. O conhecimento prático, pode contribuir para que a “tradução” da norma seja mais tranquila e eficiente, padronizando, verificando e analisando o que realmente é importante para a empresa.

Assuntos regulatórios e propriedade intelectual

Nós sabemos que essas duas áreas são bem diferentes entre si, mas resolvemos agrupá-las em um mesmo tópico por considerarmos que tem um ponto em comum: para trabalhar com assuntos regulatórios ou para patentear um objeto de interesse é extremamente importante que o profissional saiba as características técnicas essenciais do objeto em questão como, por exemplo, as etapas de sua produção, as dificuldades encontradas em seu desenvolvimento e as soluções encontradas. 

 Adicionalmente, para o correto desempenho do trabalho, é imprescindível, no caso de assuntos regulatórios, que o profissional conheça as legislações e normas necessárias para redação dos dossiês de registro e pós-registro, e no caso da propriedade industrial, que ele tenha conhecimento e domine o ordenamento jurídico que regula as atividades deste setor. No entanto,esses conhecimentos podem ser aprendidos e desenvolvidos tanto diretamente no trabalho quanto em cursos teóricos na área, mas para o entendimento dos aspectos técnicos do produto e dos processos para seu desenvolvimento é um diferencial que o profissional tenha alguma noção prática experimental na área.

Se você se interessar pela área de assuntos regulatórios, pode obter mais informações sobre a carreira nesse e nesse link.

Agora, falando especificamente das patentes, os requisitos de patenteabilidade analisados pelo INPI são: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Além disso, há também a análise de requisitos formais, tais como a clara e precisa definição do objeto de proteção e sua suficiente descrição. Neste sentido, entender a fundo a tecnologia que foi desenvolvida permite uma melhor leitura da invenção, possibilitando a detecção dos aspectos que podem/devem ser patenteáveis ou não. Assim, o conhecimento técnico adquirido de forma prática durante a graduação e/ou pós graduação, além de consolidar os conhecimentos teóricos, aproxima o especialista de patentes do inventor, de forma que ambos consigam conversar sobre a tecnologia desenvolvida em certo pé de igualdade para entenderem qual aspecto técnico essencial pode e deve ser protegido.

O biotecnologista Guilherme K. Zanini* trabalha como Especialista de Patentes no escritório Gusmão & Labrunie e nos contou sobre seu ponto de vista:

“Eu acredito que a experiência prática, seja qual for o ramo de atuação, é fundamental para a solidificação dos conhecimentos e desenvolvimento de habilidades que os livros e aulas não são capazes de ensinar. Assim, quando me perguntam se minha experiência na bancada me ajuda no dia a dia de patentes, eu não hesito em dizer que sim, pois ter vivenciado o lado de lá (do pesquisador), faz com que eu compreenda melhor seus anseios resultando em uma proteção patentária mais adequada.
Apesar da principal ferramenta de trabalho do especialista de patentes ser a Lei Nº 9.279, de 14 de maio de 1996, juntamente com as Diretrizes e Instruções Normativas do INPI, o esforço interpretativo destas normas para atender ao cliente é muito beneficiado pela experiência prática vivenciada quando da sua formação acadêmica. Veja, quando se conhece na pele os problemas/desafios que os pesquisadores enfrentam no decorrer de seus projetos, é mais fácil identificar os pontos importantes a serem mencionados em um pedido de patente, e os pontos que podem ou não serem objetos de  proteção.
Portanto, eu não diria que a experiência na bancada é essencial para atuar no mundo das patentes, mas posso afirmar que minha vida acadêmica, apesar de exígua, me ajuda bastante todos os dias. Contudo, não posso deixar de mencionar que, tão importante quanto o conhecimento técnico em si, o especialista de patentes deve ter uma boa capacidade de interpretação das leis e normas. Por fim, concluo que as pipetas empunhadas por mim por alguns bons anos formaram o alicerce para a construção dos conhecimentos jurídicos que tenho hoje, então, sou grato a elas eternamente.”

Onde conseguir experiência prática?

Muitas vezes buscando vagas encontramos aquele paradoxo “mas como conseguir experiência se para ter experiência é preciso experiência?”

Ainda bem que na área de biotecnologia temos uma maneira de conseguir experiência prática: fazendo iniciação científica! 

As universidades públicas costumam oferecer oportunidades de iniciação científica (IC) em seus laboratórios de pesquisa. 

Vantagens de se fazer IC: 

  • Os horários são flexíveis. Ou seja, você não precisa esperar os últimos semestres do curso para ter 20h-30h livres na sua grade curricular, como requerido em estágios em empresas. Você pode fazer IC logo nos primeiros períodos da faculdade, nos espaços livres entre suas disciplinas ou somente em um turno, dependendo de como for sua grade curricular. Os laboratório costumam ser flexíveis, você pode negociar e encaixar seu tempo fora da sala de aula para trabalhar no laboratório. 
  • Pode ser remunerado. Algumas ICs podem ser remuneradas com bolsas de iniciação científica de cerca de R$400,00 a R$600,00. 
  • Você recebe tutoria. Os alunos de IC costumam ter acompanhamento dos professores ou dos pós-graduandos em seus primeiros experimentos. 
  • É o momento de descobrir com quais áreas você mais se identifica. Área agrícola? Oncologia? Virologia? Bioprocessos? Alguma vezes nos interessamos pela teoria de determinados assuntos, mas apenas no dia a dia descobrimos do que realmente gostamos. Neste texto, destacamos 9 possibilidades de carreiras para um biotecnologista. A IC pode ser uma maneira de você explorar quais áreas mais se encaixam com seu perfil!
  •  É o momento de errar e aprender. Momento único em sua vida, que irá abrir horizontes ainda não explorados. Ainda, se você mostrar interesse poderá aprender muito mais que as técnicas do seu projeto, você poderá participar de outras atividades que irão te ensinar ainda mais sobre o mundo da biotec!

Esperamos que as dicas de ajudem a conseguir experiência prática ainda na graduação! Se quiser acessar outros conteúdos sobre carreira em biotecnologia clique aqui e também siga nossas redes sociais!

*as opiniões emitidas aqui são pessoais e não refletem a opinião das empresas nas quais trabalham.

Texto revisado por Carol Vasconcelos e Ísis Bienbengut

Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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