Alimentos biofortificados: Ponderações atuais

A escassez de alimentos é uma das causas de desnutrição em vários países, principalmente nos subdesenvolvidos. Este problema pode ser mais acentuado em bebês, crianças, mulheres e famílias cuja situação financeira é precária. Neste cenário, o melhoramento genético é uma ferramenta biotecnológica para desenvolver plantas com alto potencial nutritivo, popularmente conhecidas como alimentos biofortificados.

Talvez a primeira imagem que venha em sua cabeça ao ler: “alimento biofortificado” seja a do marinheiro Popeye, que ao comer espinafre fica muito mais forte. Bem, é quase isso!! Esses alimentos possuem maior valor nutricional do que outros da mesma espécie. Isso  é interessante para reduzir os problemas de deficiências em micronutrientes, e eles podem ser utilizados para complementar estratégias de intervenção nutricional.

Os alimentos biofortificados são obtidos pelo melhoramento convencional através da seleção e cruzamento entre variedades selvagens com maiores concentrações de nutrientes para obter cultivares com maiores teores de ferro, zinco e pró-vitamina A. Além do melhoramento convencional, pode-se utilizar o melhoramento genético.

Um exemplo é o desenvolvimento do arroz dourado, (Figura 1) que é modificado por técnicas de engenharia genética, como Agrobacterium tumefaciens e biobalística, cujo objetivo é fazê-lo produzir o pigmento betacaroteno, um dos precursores da vitamina A,  importante para o crescimento adequado e diferenciação dos tecidos de vários órgãos, principalmente os olhos.

No Brasil, estudos foram conduzidos para avaliação agronômica e desenvolvimento de três cultivares de mandioca com maiores teores de pró-vitamina A, três cultivares de feijão-caupi e feijão comum com altos teores de ferro e zinco.

Além do enriquecimento dos grãos com micronutrientes é muito importante avaliar a sua biodisponibilidade para os consumidores. Neste aspecto, os programas de melhoramento também pretendem favorecer a redução de substâncias inibidoras bem como o aumento das promotoras, para garantir que as cultivares selecionadas com características biofortificadas também possuam teores de micronutrientes altamente biodisponíveis.

No geral, as plantas contêm vários compostos (ácido fítico, tanino, lignina, cutina, suberina, ácido oxálico, etc.) que reduzem a biodisponibilidade de alguns micronutrientes, principalmente ferro e zinco. A capacidade genética do cultivar e as condições edafoclimáticas em que ele foi cultivado interferem na concentração dos fatores antinutricionais.

Os grãos contêm teores de fitatos, compostos derivados do ácido fítico, que se ligam aos minerais essenciais como o cálcio, magnésio e zinco, limitando sua absorção pelo organismo (Figura 2). A precipitação e bloqueio destes minerais dificulta a produção de enzimas digestivas, o que provoca uma redução na digestibilidade e consequentemente maior aumento de sua excreção.

Diante disso, a biotecnologia possui o desafio de ponderar a seleção dessas características, pois o ácido fítico é importante como estoque de fósforo, reserva de grupos fosfatos reativos, estoque energético, fonte de cátions e iniciação da dormência para as plantas.

Mesmo após o desenvolvimento de variedades biofortificadas, é necessário superar desafios para popularizar seu cultivo pelos agricultores e a divulgação delas para incentivar o consumo. Neste contexto, esforços têm sido realizados por vários projetos, como a HarvestPlus, que é  uma aliança global de diferentes instituições, a fim de desenvolver pesquisas e melhorias na alimentação humana.

Alguns programas como o Agrosalud promovem consórcios entre diferentes constituições com intuito de promover ações que favoreçam o manejo das culturas e consequentemente a nutrição e divulgação dos alimentos à população. A rede BioFort possui vários projetos e pesquisas em fortificação de uma gama de produtos agrícolas no Brasil, além do desenvolvimento de produtos comerciais fabricados com matéria-prima biofortificada, e investe em pesquisas de embalagens que favoreçam a conservação destes alimentos por mais tempo. Ela também incentiva a aceitação destes produtos pelos proprietários rurais e consumidores.

Aprenda mais sobre a história dos projetos HarvestPlus, AgroSalud e BioFort no Brasil clicando nesse link!

Que tal contribuir compartilhando este texto para alcançar mais leitores e nos contar nos comentários caso conheça mais algum alimento biofortificado e os benefícios do seu consumo?!

  

Revisado por Thais Semprebom e Mariana Pereira

Cite este artigo:
DUARTE, D. D. Alimentos biofortificados: Ponderações atuais. Revista Blog do Profissão Biotec, v.3, 2018. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/alimentos-biofortificados-ponderacoes-atuais/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

Welch, R.M.; Breeding Strategies for Biofortified Staple Plant Foods to Reduce Micronutrient Malnutrition Globally. Symposium: Plant Breeding: A New Tool for Fighting Micronutrient Malnutrition. The journal of nutrition 495-499, 2002.

Pedersen,H.B.; Borg,S.; Tauris,B.; Holm,P.B.; Molecular genetic approaches to increasing mineral availability and vitamin content of cereals. Journal of Cereal Science 46:308–326, 2007.

Paine,J.A.; Shipton,C.A.; Chaggar S.; Howells, R.A.; Kennedy,M.J.; Vernon,G.; Wright,S.Y.; Hinchliffe,E.; Adams,J.L.; Silverstone, A.L.; Improving, R.D.; The nutritional value of Golden Rice through increased pro-vitamin A content. Nature biotechnology 23:4, 2005.

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