“Black Biotechnology”: o Bioterrorismo e o anti-bioterrorismo

Biotecnologia pode ser definida como qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos com o objetivo de trazer algum benefício, seja ele industrial, ambiental e/ou a saúde.

Entre as aplicações, podem ser citadas a produção de insulina humana recombinante, pão, cerveja, plantas transgênicas resistentes a estresses bióticos e abióticos, biorremediação de áreas contaminadas, entre outras. Contudo, a biotecnologia nem sempre é utilizada para o benefício da humanidade e as Armas Biológicas e o Bioterrorismo são grandes exemplos disso. Esta aplicação biotecnológica é conhecida e classificada como “Black Biotechnology” (The Colours of Biotechnology: Science, Development and Humankind).

As armas biológicas estão entre as mais temidas na atualidade, pois são capazes de devastar sociedades contaminando a água, o ar, a terra e fonte de alimentos. São feitas a partir de toxinas ou microorganismos como bactérias, vírus e fungos. O uso da contaminação por patógenos como arma é muito antigo, com registros de 1.500 A.C., quando os hititas da Ásia Menor enviavam vítimas de praga para terras inimigas. Relatos ao longo da história de exércitos catapultando cadáveres de doentes em fortalezas sitiadas e envenenando poços inimigos também são muito comuns.

Já a partir da primeira metade do século XX, a área das armas biológicas se tornou muito explorada pelo poder militar e pela ciência, principalmente durante os períodos das I e II Guerras Mundiais. O Japão foi um dos principais países a realizar estudos deste tipo de armas, tendo conduzido pesquisas com os agentes biológicos da peste (Yersinia pestis), antraz (Bacillus anthracis), cólera (Vibrio cholerae), entre outros. Estima-se que mais de 1000 poços de água foram contaminados na China pelo japoneses apenas para testes. Além dos japoneses, diversos outros países criaram programas de Guerra Biológica, entre eles a Alemanha, os Estados Unidos e a União Soviética.

A maioria destes programas foi encerrado após esses países tornaram-se signatários da Convenção para a Proibição de Armas Biológicas e Toxinas (CPAB). Esta convenção ocorreu em 1972 e proíbe o desenvolvimento, produção, estocagem,  aquisição, conservação e a transferência das armas biológicas, além de exigir sua destruição. Porém, mesmo com o acordo, novos eventos de ataques biológicos ocorreram, provenientes até mesmo de nações signatárias da CPAB. Países como Rússia, África do Sul, Israel, Iraque e outros, desenvolveram ou ainda desenvolvem armas biológicas.

Além da utilização militar, as armas biológicas podem ser utilizadas através de um ataque terrorista. O Bioterrorismo pode ser definido como uso intencional de microorganismos ou toxinas derivadas de organismos vivos, vírus ou príons causando morte ou doença em pessoas, animais ou plantas. Geralmente está associado com pequenos grupos que têm como objetivo atacar outros indivíduos de uma determinada região ou característica (por exemplo, sua religião). Exemplo destes tipos de ataques ocorreram em 2001, logo após o ataque de 11 de setembro, quando esporos de antraz foram disseminados através de cartas nos Estados Unidos.

Porém, não só o bioterrorismo e a utilização de armas biológicas são classificadas como Black Biotechnology, mas também as medidas e atitudes de anti-bioterrorismo. Os Estados Unidos possuem uma política de estímulo à produção de tecnologias associadas ao combate e diagnóstico de patógenos que possam ser utilizados como arma (FDA: Countering Bioterrorism and Emerging Infectious Diseases). Contudo, poucos países possuem uma regulamentação correta e a maioria, dentre eles o Brasil, não estão preparados para um possível ataque.

Sendo assim, frente a possibilidades, a utilização militar e policial da Biotecnologia para monitoramento e combate a este tipo de ataque são importantes e deveriam ser mais estimuladas. E esta é mais uma interessante área da Biotecnologia.

Konrad Lachmayer. Legal aspects of “black biotechnology” – Counter-terrorism between prevention and use of biotechnological products. Journal of international biotechnology law, v.3, 2006.

Dora Rambauske CardosoI; Telma Abdalla de Oliveira Cardoso. Bioterrorismo: dados de uma história recente de riscos e incertezas. Ciênc. saúde coletiva, v. 16, 2011.

Friedrich Frischknecht. The history of biological warfare. EMBO Rep., v. 4(Suppl 1), p. S47–S52, 2003.

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/armas-biologicas.htm

http://www.stufftoblowyourmind.com/blogs/10-scariest-bioweapons.htm

https://www.icrc.org/por/resources/documents/misc/5yblc9.htm

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