Você tem medo de comer um alimento geneticamente modificado e isso te afetar? Venha entender o porquê desses alimentos serem seguros para o consumo.

Os organismos geneticamente modificados (OGMs) são um tabu até os dias atuais. Por definição, OGM é o organismo que teve seu material genético (DNA ou RNA) modificado por alguma técnica de engenharia genética. Como engenharia genética entende-se a produção ou manipulação de DNA ou RNA. Muitas pessoas acham que a manipulação do material genético de um organismo pode causar danos à saúde em caso de consumo, como por exemplo, no caso dos transgênicos.

Todo organismo transgênico é um OGM, mas nem todo OGM é um transgênico. Isso porque para ser um transgênico deve haver a inserção de material genético de outra espécie naquele organismo. Esse também é o tipo de OGM mais conhecido, principalmente na agricultura.

Relação entre OGMs e transgênicos

O transgênico é um tipo de organismo geneticamente modificado. Só que nem todas as alterações genéticas realizadas por técnicas de engenharia genética envolvem a inserção de material genético exógeno (não pertencente àquele organismo). Algumas alterações genéticas que dão origem aos OGMs podem ser por desativação ou exclusão de determinado gene.

A produção de OGMs não transgênicos ocorre através da manipulação genética do próprio organismo sem inserir material genético exógeno. Algumas modificações genéticas para a produção desses organismos são denominadas de knockin ou knockout. Uma alteração genética é denominada knockout quando há deleção ou inativação de um gene. Quando é feita manipulação genética adicionando um gene ou inserindo material genético a um gene ela é denominada knockin.

fitas de dna
#ParaTodosVerem: Imagem lúdica ilustrativa demonstrando como ocorre a modificação do DNA quando ocorre alteração genética do tipo knockin e knockout. Fonte: Imagem obtida no Pixabay e modificada pela autora.

Por que são produzidos OGMs?

Os OGMs normalmente são produzidos para uma finalidade específica. Plantas geneticamente modificadas (GMs) são desenvolvidas a fim de trazer melhorias, como por exemplo: aumentar a produtividade, resistência a uma praga ou à condição ambiental e enriquecer nutricionalmente um alimento. Animais GMs podem ser produzidos para objetivos pré determinados como: dizimar população de pragas,  colaborar com estudos para compreensão de como funciona o corpo humano e aumentar a produtividade da pecuária.

A produção de OGMs tem como objetivo melhorar algum aspecto que não está sendo benéfico, normalmente para o produtor, tendo como exemplo pragas e/ou baixa produtividade. Sua produção pode ser útil para resolução de alguns problemas atuais como a fome e desnutrição. A contribuição dos OGMs para reduzir o problema da desnutrição ocorre devido ao enriquecimento nutricional de alimentos (biofortificação), como por exemplo o arroz dourado, rico em beta-caroteno, e o milho com aminoácido da carne essencial para saúde da pele, unhas e cabelos. É possível também baratear os custos de produção de alimentos e como a fome também está relacionada ao preço dos alimentos quanto mais barato mais pessoas têm acesso. 

O primeiro alimento GM aprovado no mundo foi o tomate. A principal característica desse era o retardo em seu amolecimento. No Brasil, o primeiro transgênico a ser aprovado foi a soja tolerante a herbicida. Nos anos seguintes, até 2010, a principal característica de transgênicos aprovados no país era de tolerância a herbicida representando 81,5% do total. Com o passar do tempo esse tipo específico de transgênico foi sendo mal visto devido a possibilidade de aumentar o uso de produtos químicos tóxicos à saúde humana. De 2011 a 2021 o número de transgênicos autorizados aumentou em mais de 300%. No entanto, foi observada uma sutil redução dos transgênicos tolerantes a herbicida para 69,3% do total. Em contrapartida, houve um leve aumento dos transgênicos resistentes a insetos e surgiram transgenes “alternativos” tendo em vista a adição de características não relacionadas a pesticidas ou insetos diretamente.

Os OGMs são seguros?

Os OGMs só são liberados após a comprovação de que são seguros para o ambiente e os animais. Não há evidências científicas que possam basear o receio do consumo de um OGM, pois esses não são capazes de modificar nosso DNA. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), três pontos principais são levados em consideração para determinar a segurança de um OGM para consumo: a alergenicidade*, a capacidade de transferência de genes para humanos e a capacidade de transferência de genes para outras espécies.

Devido a todos os cuidados, protocolos e testes realizados antes da autorização para produção e consumo, é possível afirmar que os OGMs aprovados pelas autoridades competentes são produtos seguros.

*Alergenicidade: capacidade de um produto induzir resposta alérgica em um indivíduo.

Legislação que regulamenta OGMs no Brasil

lei n 11.105
#ParaTodosVerem Imagem com fundo vermelho contendo as informações “Lei nº 11.105 (24 de março de 2005)” e “Resolução Normativa nº 24 (7 de janeiro de 2020)”. Fonte: autoria própria.

No Brasil, a Lei nº 11.105 é a que regulamenta a produção e o uso de OGMs. Um OGM não é criado e utilizado de qualquer maneira, existem normas e elas devem ser seguidas. Essas normas foram criadas para impor limites, definindo até que ponto pode-se realizar alterações genéticas em um organismo e em quais seres vivos essas podem ser realizadas. Por exemplo, não pode ser feito nenhum tipo de modificação genética em humanos ou em seus embriões.

Para um OGM possuir o certificado de qualidade de biossegurança, emitido pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), é necessário que ele seja comprovadamente seguro e que seu uso ou consumo não leve a impactos negativos. Em caso de ser observado algum potencial risco após a liberação, essa é imediatamente suspensa. A legislação de biossegurança brasileira é uma das mais rígidas existentes.

Benefícios do uso de OGMs

Fotografia das mão de uma pessoa segurando dois tipos de arroz
#ParaTodosVerem: Fotografia das mão de uma pessoa segurando dois tipos de arroz diferentes. Ao lado esquerdo o popular arroz branco e ao lado direito o arroz dourada, também conhecido como golden rice rico em betacaroteno. Fonte: Global Farmer Network.

O uso de OGMs ainda está em seu início. O primeiro alimento GM aprovado para consumo no mundo foi o tomate, em 1994, há menos de 30 anos. Os OGMs são uma alternativa extremamente importante para resolver problemas na produção de alimentos, tornando-os mais produtivos, diminuindo a incidência de pragas, e tornando-os mais resistentes às diferenças climáticas. Também são uma forma de tentar diminuir a desnutrição mundial, pois podem ser adicionados genes importantes em alimentos de baixo custo.

É possível perceber que quando se fala de OGMs, em geral, o foco acaba sendo as plantas alimentares. Isso ocorre porque elas estão diretamente relacionadas ao consumo da população. No entanto, também existem animais GM que são destinados ao consumo humano, apesar de serem mais frequentemente usados na pesquisa. O uso de animais GM em pesquisas está muito relacionado ao estudo de genes e como eles influenciam na saúde ou em doenças.

Atualmente, os OGMs vêm se tornando cada vez mais essenciais na pesquisa e na alimentação, mostrando serem necessários para alcançarmos objetivos como alguns dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS).

Texto revisado por Sofia Hohmann e Ísis Venture

Cite este artigo:
LOPES, N. R. Desmistificando OGMs: o que devemos saber para não temê-los. Revista Blog do Profissão Biotec, v.8, 2021. Disponível em:<https://profissaobiotec.com.br/desmistificando-omg-devemos-saber-para-nao-teme-los/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

BRASIL, 2005. Lei nº 11.105. 24 de março de 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm> Acesso em julho de 2021.
BRASIL, 2021. Resolução normativa nº 32. 15 de junho de 2021. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-normativa-n-32-de-15-de-junho-de-2021-326241632> Acesso em agosto de 2021.
National geographic. Genetically Modified Organisms. Disponível em: <https://www.nationalgeographic.org/encyclopedia/genetically-modified-organisms/> Acesso em julho de 2021.
U.S. Food and Drug Administration (FDA), 2020. Science and history of GMOs and other food modification processes. Disponível em: <https://www.fda.gov/food/agricultural-biotechnology/science-and-history-gmos-and-other-food-modification-processes> Acesso em julho de 2021.
World Health Organization (WHO), 2021.Food, Genetically modified. Disponível em: <https://www.who.int/health-topics/food-genetically-modified#tab=tab_2> Acesso em julho de 2021.
Fonte da imagem destacada: Montagem feita pela autora a partir de imagens obtidas no Pixabay.

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