Os efeitos colaterais da vacina AstraZeneca/Oxford são normais e sua ocorrência não é um problema e nem deve gerar preocupação. Saiba mais!

A vacina da AstraZeneca, Oxford, Covishield ou Fiocruz são nomenclaturas usadas para se referir ao mesmo imunizante. O nome oficial da vacina é Covishield, no entanto, essa ficou mais conhecida pelas instituições que a desenvolveram (Universidade de Oxford e farmacêutica AstraZeneca). No Brasil, também é conhecida como “vacina Fiocruz”, instituição responsável por sua produção. Na maioria das vezes é chamada apenas de vacina AstraZeneca, e vem sendo muito comentada nos últimos meses devido aos seus efeitos colaterais. 

Esses relatos estão fazendo com que algumas pessoas não queiram se vacinar com esse imunizante, rejeitando a vacinação caso a vacina AstraZeneca seja a única disponível. No entanto, isso é causado pela falta de conhecimento. No atual cenário brasileiro, é extremamente importante que o máximo de pessoas se vacinem, por isso, vamos explicar um pouco mais sobre essa vacina e o porquê desses efeitos colaterais estarem sendo frequentes. 

Vale lembrar que, na maior parte dos casos, os efeitos colaterais são leves a moderados, duram poucos dias, e que a vacina AstraZeneca possui registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para obter esse registro, o imunizante passa por um processo bastante criterioso. No processo avaliativo é levado em consideração fatores relacionados à produção como: a forma na qual foi produzido e a tecnologia usada. E também se o imunizante mostrou-se efetivo (capaz de gerar resposta imunológica) e a segurança.

Avaliação de eficácia

Para a determinação da eficácia vacinal, antes do registro, foram feitos estudos clínicos em: Reino Unido, Brasil e África do Sul. Foram selecionados voluntários de forma aleatória para o recebimento da vacina ou do placebo (grupo que não recebeu o imunizante). Ambos os grupos foram acompanhados e comparados para determinar se houve diferença na porcentagem de infecção e o tipo de caso desenvolvido. Com isso, foi observado que as pessoas que receberam a vacina foram menos infectadas e quando adoeceram tiveram casos mais leves que o placebo.

No Brasil, estão sendo desenvolvidos mais estudos testes com a vacina AstraZeneca em Paquetá (RJ) e Botucatu (SP). O estudo de Botucatu encontra-se mais avançado e já foi constatada a redução de casos diários em mais de 80% e 51% em internações. Isso enfatiza a eficácia do imunizante da AstraZeneca.

Tecnologia de vetor viral

A vacina AstraZeneca utiliza a tecnologia de vetor viral não replicante contendo uma parte do material genético do SARS-CoV-2, o coronavírus causador da COVID-19. O vetor viral é um  vírus não é patogênico (não provoca doença) para ser humano, no qual administra-se a molécula (material genético) do microrganismo de interesse, nesse caso, a glicoproteína Spike (S) do SARS-CoV-2, presente na superfície do nucleocapsídeo viral.

A ideia da tecnologia do vetor viral surgiu na década de 1970 e vem sendo aprimorada desde essa época. Nos dias atuais, existem diferentes vetores virais que já foram descritos e testados. O uso de vetor viral recombinante normalmente induz uma resposta imunológica robusta que é capaz de estimular respostas imunes celular e humoral, possuindo assim, alta imunogenicidade, ou seja, alta capacidade de gerar resposta imunológica.

A resposta imune celular envolve as células T citotóxicas (CTLs). Enquanto que a resposta imune humoral está relacionada a produção de anticorpos. Ambas são capazes de produzir memória imunológica, principal objetivo das vacinas. As CTLs são células da resposta imune adaptativa, sendo antígeno-específicas e possuindo a capacidade de destruição de células infectadas e estimulação da resposta inflamatória, desencadeando sintomas similares aos de uma infecção (efeitos colaterais ou reações adversas).

Na tecnologia do vetor viral são utilizados vírus contendo uma parte do antígeno de interesse. É recomendado utilizar vetores virais contra os quais haja pequenas chances da maior parte da população ter entrado em contato anteriormente, porque, em caso de exposição prévia, haverá contenção ou eliminação do vetor viral sem resposta imunológica contra o antígeno de interesse. Isso pode prejudicar o reconhecimento do gene-alvo inserido no vetor e tornar a vacina ineficaz, tornando a escolha do vírus vetor extremamente importante.

No caso da vacina AstraZeneca, o vetor viral utilizado foi um adenovírus recombinante de chimpanzé modificado geneticamente para não ser capaz de se replicar. O uso de um adenovírus de outro animal como vetor diminui as chances do ser humano já ter memória imunológica contra esse vírus. O fato desse adenovírus ter sofrido modificação para se transformar em não replicante torna a vacina segura. Assim, a vacinação não deixa o indivíduo vacinado doente e é incapaz de haver transmissão entre as pessoas.

O porquê das reações adversas relatadas

Como supracitado, o imunizante da AstraZeneca faz uso da tecnologia do vetor viral recombinante. Ou seja, será administrado um vírus vivo, que não causa danos à saúde, com um “pedaço” (molécula) do SARS-CoV-2. No entanto, o sistema imunológico não sabe que aquele organismo estranho não vai prejudicá-lo, então, são desencadeadas medidas para combatê-lo.

A administração da vacina ocorre de forma intramuscular e existe a possibilidade de desencadear efeitos colaterais que duram, no máximo, poucos dias. Porém nem todos apresentam efeitos colaterais e a ausência não indica ineficácia da vacina. Essa vacina não é indicada a indivíduos que possuem alergia a qualquer componente da fórmula, além de menores de 18 anos, grávidas ou lactantes e pessoas com histórico da síndrome de extravasamento capilar.

As reações relatadas pela maioria das pessoas são similares a quando ocorre qualquer tipo de infecção viral e são normais. Quando o corpo entra em contato com um microrganismo ele tende a se defender e, com isso, ocorrem diversas alterações no corpo. Essas podem ser sentidas ou não pelo indivíduo. As reações que acontecem em mais de 20% dos indivíduos são: dor de cabeça, nas articulações, no corpo e no local da injeção; sensibilidade no local da injeção; fadiga, mal-estar, febre, calafrios e náusea.

Sentir ou não algo após a vacinação ou contato com um microrganismo varia de pessoa para pessoa e de como está sua saúde no momento em que ocorre. Você já deve ter presenciado uma situação em que duas pessoas com gripe possuem características totalmente diferentes: uma está visivelmente gripada e a outra está só com uma coriza. Esses quadros clínicos distintos são ocasionados devido a formas diferentes de respostas de cada organismo.

Reação adversa grave

A reação grave que causou mais preocupação foi a trombose. Os casos relatados de trombose são extremamente raros, ocorrendo de 0,0001% a 0,0008% das doses aplicadas. Em contrapartida, a probabilidade de desenvolver trombose por decorrência da COVID-19 é muito maior, assim como, é possível ocorrer o óbito. É recomendada a vacinação pois os benefícios são muito maiores que os riscos.

Em quais países a vacina da AstraZeneca é aprovada

A vacina da AstraZeneca é registrada no Brasil pela Anvisa, tem aprovação de uso pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e pelo Reino Unido, primeiro país a aprová-la.

Países da União Europeia (UE) começaram a autorizar a entrada de turistas vacinados com determinadas vacinas, dentre elas a AstraZeneca, demonstrando a confiança da UE na eficácia dessa vacina.

Esquema de vacinação

Para obter os benefícios protetivos da vacina AstraZeneca é preciso receber as duas doses vacinais com um intervalo de 4 a 12 semanas para concluir o esquema de vacinação e, 15 dias após a segunda dose, o indivíduo terá maior segurança da eficácia, ou seja, terá maior chance de não desenvolver casos graves da COVID-19

A ciência já comprovou que a vacina AstraZeneca/Oxford/Covishield/Fiocruz é segura, eficaz e capaz de salvar vidas. Os efeitos relatados por muitas pessoas são possíveis e descritos, inclusive, na bula da vacina. Para maior eficácia é importante seguir os prazos indicados e tomar as duas doses. 

O importante é se vacinar independente da vacina que esteja disponível, pois todas elas são eficazes e diminuem o desenvolvimento de casos graves e óbitos. Para a vacina chegar até você ela foi avaliada rigorosamente pela Anvisa.

Texto revisado por Sofia Hohmann e Bruna Lopes

Cite este artigo:
LOPES, N. R. Entendendo a vacina da AstraZeneca/Oxford/Fiocruz/Covishield. Revista Blog do Profissão Biotec, v. 8, 2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/entendendo-a-vacina-astrazeneca/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

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