Muitos tratamentos medicamentosos abordados para uma série de doenças não são completamente efetivos. Nesse sentido, a descoberta de novas abordagens terapêuticas é, atualmente, um objetivo fundamental. Muitos centros de pesquisa de universidades e empresas têm dedicado seus esforços para o encontro de novas terapias. O câncer está no topo das doenças que lideram as pesquisas para novos tratamentos.
A biotecnologia tem auxiliado na busca por novas terapias de diversas formas, de acordo com a amplitude de pesquisas que abrange. Entre as áreas de pesquisa dentro da biotecnologia estão: busca por novas moléculas naturais ou sintéticas com atividade antitumoral, imunoterapia e terapia com RNA de interferência.
Neste texto, vamos explorar um pouquinho como funcionam e em que status estão as pesquisas que utilizam técnicas de imunoterapia e terapia com RNA de interferência aplicadas ao câncer.
O câncer e a imunoterapia
De acordo com a definição da revista Nature, a imunoterapia aplicada ao câncer é uma forma de terapia biológica, ou seja, utiliza moléculas de organismos vivos para tratar a doença. Pode consistir no uso de anticorpos que se ligam a antígenos tumorais específicos e inibem as células cancerígenas ou, também, em vacinas e na infusão de linfócitos T. Saiba mais sobre o sistema imune neste texto.
Essa terapia, de forma geral, pode ser dividida em 4 classes: estímulo inespecífico do sistema imune, transferência celular, imunização ativa e terapia com anticorpos. A primeira classe consiste na aplicação de substâncias que aumentam a resposta do sistema imune, como as citocinas (interferons e interleucinas) e o BCG (Bacillus Calmette-Guérin). O uso do BCG já tem sido relatado para o tratamento com câncer de bexiga.
A transferência de células T também é utilizada como tratamento do câncer. Essa técnica visa a aumentar a habilidade natural das células do sistema imune adaptativo, nomeadamente as células T, para atacar o câncer. Para tanto, as células T do tumor do paciente são coletadas e cultivadas in vitro até obter-se um número significativo. O paciente então passa por uma depleção do sistema imune e então as células T são infusionadas no paciente.
A imunização ativa no tratamento do câncer é baseada em vacinas, que aumentam a resposta natural do sistema imune contra um ou mais antígenos específicos do tumor em questão. As vacinas podem ser preparadas a partir de todas as células do tumor ou a partir de peptídeos e proteínas específicos, que são antígenos que compõem o tumor. Outros tipos de vacinas estudados são os que aumentam a taxa de apresentação dos antígenos pelas células dendríticas e as vacinas genéticas, contendo a sequência genéticas para um ou mais antígenos do tumor.
Além das opções já citadas, a biotecnologia também auxilia no tratamento do câncer por meio de terapias com anticorpos. Nessa abordagem, utilizam-se anticorpos monoclonais, ou seja, específicos para um único antígeno. Esses anticorpos são produzidos em sistemas biológicos, como ratos ou culturas celulares, processados e então vendidos. O primeiro anticorpo produzido e aprovado nos EUA para uso clínico foi o Rituximab, utilizado no tratamento de linfoma não Hodgkin. Atualmente, existem diferentes anticorpos no mercado para diversas doenças.
FO câncer e RNA de interferência
O RNA de interferência (RNAi) é uma molécula de RNA dupla fita que, após passar pelo processamento por algumas enzimas específicas, é capaz de silenciar RNAs mensageiros (RNAm) impedindo, assim, a tradução da proteína ali codificada. É uma tecnologia recente e promissora no silenciamento de genes. Desde sua descoberta, o RNAi tem sido estudado no tratamento do câncer em todas as fases e na redução do tumor e da metástase.
Algumas das pesquisas mais recentes têm utilizado a tecnologia do RNAi para impedir que proteínas codificadas pelos oncogenes sejam traduzidas. O objetivo desse tratamento é evitar que as proteínas responsáveis pela metástase entrem na circulação sanguínea. Também tem sido estudado o silenciamento de genes que afetam negativamente a sobrevivência e a taxa de apresentação de antígenos pelas células dendríticas (CD). Com isso, é esperado que a taxa de apresentação pelas CD aumente, estimulando positivamente o sistema imune.
BÔNUS
Em 2018, o primeiro fármaco produzido com a tecnologia de RNAi foi aprovado para a comercialização pelo FDA (Food and Drug Administration) nos EUA, após 20 anos de pesquisa. Contudo, esse fármaco não é utilizado no tratamento do câncer, mas sim, para uma doença rara e hereditária, a amiloidose por transtirretina. Entretanto, já é um passo dado em direção ao futuro do desenvolvimento de fármacos.
O câncer precisa do desenvolvimento de novas terapias, mais específicas e menos agressivas, para evitar o sofrimento dos pacientes. Entretanto, como bem sabemos, o desenvolvimento de novos tratamentos e fármacos é um caminho longo, árduo e tortuoso, levando muitos anos para se obter um produto comercial. Ainda assim, não podemos perder a esperança e impulsionar cada vez, mais pesquisas nesse tema.