Uma pesquisa realizada com jovens brasileiros entre 15 e 24 anos mensurou, pela primeira vez, o acesso ao conhecimento científico, a desinformação e a percepção deste público sobre fake news. O que será que eles pensam sobre ciência?

Uma pesquisa realizada com jovens brasileiros entre 15 e 24 anos mensurou, pela primeira vez, o acesso ao conhecimento científico, a desinformação e a percepção deste público sobre fake news.

O estudo foi divulgado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) em janeiro de 2019 e contou com o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e da Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais). 

A pesquisa foi realizada com 2.206 jovens, entre 15 e 24 anos, residentes de todas as regiões do Brasil, e os resultados foram animadores: a maioria dos  jovens brasileiros manifesta apoio e confiança na ciência, defende o investimento no setor, possui uma imagem positiva sobre os cientistas e acredita que homens e mulheres têm a mesma capacidade para trabalhar na área científica.

 Confira os principais resultados da pesquisa:

Quais são os principais interesses dos jovens?

O tema “ciência e tecnologia” surge em terceiro lugar (cerca de 70% de interesse) na lista de interesse dos jovens entrevistados. Em primeiro lugar foi citado o meio ambiente (80% de interesse), seguido de medicina e saúde (74% de interesse), que são temas também relacionados à ciência e tecnologia.  Entretanto, a pesquisa destaca que ter interesse não significa necessariamente ler, participar e se informar, pois muitas vezes o interesse pode estar relacionado simplesmente à concepção de relevância ou prestígio do assunto.

Principais interesses dos jovens. Adaptado de INCT-CPCT, 2019.

Qual opinião dos jovens sobre ciência?

A pesquisa também demonstra que os jovens possuem uma visão positiva sobre o que é ciência. A maioria dos entrevistados (70%) considera que a ciência traz “benefícios para a humanidade” e 82% deles concordam que “a ciência e a tecnologia estão tornando nossas vidas mais confortáveis”.Cerca de 57% dos entrevistados acredita que “a ciência e a tecnologia vão ajudar a eliminar a pobreza e a fome no mundo”.

Pontos positivos sobre Ciência e Tecnologia relatados pelos jovens. Adaptado de INCT-CPCT, 2019.

Por outro lado, alguns jovens ainda acreditam que a ciência traz muitos riscos para a humanidade (15,9%) e cerca de 54% dos entrevistados consideram que os cientistas “exageram sobre os efeitos das mudanças climáticas”. Por fim, 40% concordam que “se a ciência não existisse, meu dia a dia não mudaria muito”. Esses dados demonstram que, embora a maioria dos jovens tenha uma visão positiva sobre a ciência, muitos deles ainda desconhecem a real importância do trabalho dos cientistas.

Pontos negativos sobre Ciência e Tecnologia relatados pelos jovens. Adaptado de INCT-CPCT, 2019.

O que os jovens acham dos cientistas?

Na pesquisa, 84% dos entrevistados afirmam que a profissão cientista é muito atrativa, porém 93% acreditam que seria muito difícil alcançá-la.

Os jovens também atribuem aos cientistas características como criatividade (96%), “capacidade de aprender rapidamente” (96%) e organização (93%). Muitos dos entrevistados (acima de 70%) acreditam que os cientistas são mais reclusos, possuem poucos amigos e pouca vida social.

Percepção dos jovens sobre os cientistas. Retirado de INCT-CPCT, 2019.

Quais as principais dúvidas dos jovens?

Muitos assuntos ainda despertam dúvidas nos jovens. Cerca de metade dos entrevistados afirma que não possui ninguém para esclarecer suas dúvidas sobre ciência e tecnologia.

Principais assuntos que despertam dúvidas nos jovens. Adaptado de INCT-CPCT, 2019

Como os jovens acessam as informações sobre ciência e tecnologia?

Segundo a pesquisa, o principal meio utilizado pelos jovens brasileiros para obter informações sobre ciência e tecnologia é a internet. Os entrevistados afirmam ainda que Whatsapp e Facebook são os principais meios de disseminação de fake news.

Como os jovens acessam as informações sobre ciência e tecnologia. Retirado de INCT-CPCT, 2019.

Uma pequena parcela dos entrevistados (apenas 6%) afirma ter visitado um museu ou centro de ciência nos últimos 12 meses, índice que é menor do que em pesquisas anteriores realizadas no Brasil, além de ser muito baixo se comparado a outros países. Contudo, os jovens afirmam que a baixa frequência não seria por falta de interesse e sim por dificuldade de acesso ou falta de tempo. Esses resultados ressaltam a importância da ampliação da oferta de museus, parques ambientais ou centros de ciência pelo país e da divulgação destes ambientes entre os jovens.

A internet é a principal meio de acesso às informações sobre ciência e tecnologia. Fonte: Pixabay

A importância da divulgação científica

A maioria dos entrevistados afirma que possui dificuldade em identificar  fake news.  “Esse dado também é muito preocupante, porque o consumo passivo de conteúdo deixa os jovens suscetíveis às informações impulsionadas por lobbies de grupos com interesses políticos e econômicos”, destaca a microbiologista e divulgadora de ciência Natalia Pasternak,  pesquisadora colaboradora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência.

A pesquisa do INCT-CPCT destaca que a capacidade de identificar fake news depende principalmente do nível de acesso e consumo das informações científicas e dos hábitos dos jovens (participação em eventos, visitas a museus ou centros de ciência, etc). Logo, quanto maior o acesso à informação, mais crítico será esse jovem ao selecionar as informações corretas.

Além disso, 93% dos jovens não souberam dizer o nome de algum cientista brasileiro. Este resultado ressalta que é preciso investir na ampliação da divulgação científica, utilizando fontes seguras e confiáveis. “Temos grandes projetos científicos, produzindo resultados muito importantes, mas que passam despercebidos pela grande imprensa, só por serem de instituições públicas”, ressalta Nelio Bizzo, professor e especialista em educação científica da Faculdade de Educação da USP.

Os pesquisadores reforçam a importância da divulgação científica, fornecendo uma informação clara, objetiva e confiável para a população e, principalmente, para os jovens, sobre ciência e tecnologia.  Eles também destacam que é preciso estimular a participação dos jovens, de todas as regiões e classes sociais, em grupos de discussão, eventos e projetos sobre ciência.

A pesquisa ressalta a importância da divulgação científica. Fonte: Gerd Altmann – Pixabay.

Os resultados deste estudo demonstram que o interesse dos jovens existe, porém ainda falta estímulo. Por esse motivo, um dos principais objetivos do Profissão Biotec é estimular o interesse da população sobre ciência! 

Em breve, o Profissão Biotec divulgará uma série de entrevistas com grandes pesquisadores brasileiros! Fique ligado nas nossas postagens para conhecer melhor a ciência brasileira!

Texto revisado por Carolina Vasconcelos e Luana Lobo
Referências:

ESCOBAR, Herton. Jovens defendem a ciência, mas desconhecem produção científica do País. Disponível em:<https://jornal.usp.br/universidade/politicas-cientificas/jovens-defendem-a-ciencia-mas-desconhecem-producao-cientifica-do-pais/> Acesso em 29 de junho de 2019.

FIOCRUZ – FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (Rio de Janeiro). Jovem brasileiro tem interesse por temas de ciência e tecnologia, mas desconhece cientistas e instituições de pesquisa nacionais. Disponível em: <http://www.coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1635-jovem-brasileiro-tem-interesse-por-temas-de-ciencia-e-tecnologia-mas-desconhece-cientistas-e-instituicoes-de-pesquisa-nacionais.html#.XTTd4OhKjIU> Acesso em 29 de junho de 2019.

MASSARANI, Luisa et al. O QUE OS JOVENS BRASILEIROS PENSAM DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA? Disponível em :  <http://www.coc.fiocruz.br/images/PDF/Resumo%20executivo%20survey%20jovens_FINAL.pdf>.Acesso em 29 de junho de 2019.

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