Em janeiro de 2018, o relógio do apocalipse chegou novamente ao seu ponto mais preocupante: 2 minutos para a meia-noite. Criado em 1947 pelo comitê de cientistas atômicos dos EUA, o relógio é uma representação simbólica. Quanto mais perto da meia-noite os cientistas movem seus ponteiros, mais perto de uma catástrofe global estamos. Um dos motivos para o ajuste neste ano foi a preocupação com as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global.
O aquecimento global é causado pelo acúmulo de certos gases na atmosfera, dentre eles o dióxido de carbono, que intensifica o efeito de estufa. O efeito estufa é um processo natural e importante para a manutenção da temperatura adequada à vida na Terra. Esse fenômeno impede que parte dos raios solares se dissipe para o espaço tornando a temperatura da Terra mais amena. O problema é quando ele é intensificado pela atividade humana. Seu efeito mais direto é o aumento anormal da temperatura global, impactando os ecossistemas, o clima e a vida na Terra.
E o que isso tem a ver com a biotecnologia?
A biotecnologia pode se tornar uma grande ferramenta para reduzir as emissões de carbono e combater os problemas decorrentes das mudanças climáticas. Confira na nossa lista três exemplos de como a biotecnologia pode ajudar nesse desafio:
1- Bioenergia
A bioenergia tem como fonte resíduos ou matéria orgânica produzida biologicamente. Por ser de fonte renovável, pode ser regenerada rapidamente, diferente do petróleo e seus derivados. Exemplos disso são os biocombustíveis e o biogás. A utilização deste tipo de fonte energética pode ser benéfica no combate aos gases do efeito estufa por conta do reciclo de carbono.
Os biocombustíveis, por exemplo, são normalmente produzidos a partir de plantas (milho, cana-de-açúcar, mamona) que, por sua vez, utilizam o carbono atmosférico para produção de energia. Isso gera uma espécie de crédito de carbono: mesmo que a emissão de carbono seja similar aos derivados de petróleo, na sua produção já existe uma compensação por isso. Produzidos normalmente por processos fermentativos, possui um imenso campo de melhorias já realizadas pela biotecnologia.
2- Carne Sintética
Estima-se que a indústria de carnes no mundo seja responsável pelo uso de 70% das terras cultiváveis e 18% das emissões de gases do efeito estufa. Considerando que a previsão é que a população mundial chegue a quase 10 bilhões de pessoas até 2050, é esperado que o consumo de carne no mundo cresça em 70%. Esta enorme demanda aumentaria ainda mais os impactos ambientais e emissões de carbono desta indústria.
Muitas empresas e pesquisadores já pensaram em uma alternativa para esse cenário. E se pudéssemos sintetizar carne em laboratório? E se utilizássemos as técnicas de cultivos celulares animais para produzirmos nossa comida? Start-ups como a Mosa Meat (Holanda), Memphis Meats (EUA) e Super Meat (Israel) têm arrecadado fundos para suas iniciativas e prometem lançar alguns produtos no mercado até 2021.
A maior parte dessas ideias consiste em isolar células animais (normalmente musculares) e propagá-las, utilizando meio de cultura e técnicas de cultivo de células em grande escala. O maior desafio aqui é fazer com que o custo e a escala possam se assemelhar ao processo de produção tradicional.
Se interessou pelo assunto? Você pode conferir mais detalhes neste texto do Profissão Biotec.
3- Plantas engenheiradas
As mudanças climáticas no nosso planeta com certeza irão afetar a agricultura e nossas técnicas de cultivo. A ocorrência de chuvas irregulares e o aumento da temperatura podem resultar na perda de safras, menor produtividade e o aumento de pragas. Além disso, algumas práticas de agricultura como o desmatamento, utilização de fertilizantes inorgânicos e o uso de pastos são responsáveis por cerca de 25% das emissões globais de gases do efeito estufa.
“Engenheirar”, isto é, modificar geneticamente esses cultivos para que sejam mais resistentes à mudanças climáticas e pragas e mais produtivos utilizando menos recursos, pode ser uma solução.
Desde os primórdios da agricultura, o homem tem realizado aprimoramentos genéticos em seus cultivos, selecionando e cruzando indivíduos que possuem diferentes características de interesse. Cientistas podem acelerar e melhorar esse processo com técnicas de biologia molecular. A engenharia genética possibilita que a propagação do fenótipo de interesse seja mais rápida e outras características que não seriam possíveis de se obter por cruzamento possam ser obtidas com os organismos transgênicos.
Podemos criar, por exemplo, cultivos mais resistentes e produtivos, alimentos com maior conteúdo de vitaminas e plantas com maior capacidade de absorção de CO2 atmosférico. E se utilizássemos árvores modificadas fluorescentes para iluminar nossas cidades? Alguns estudos já buscam esta solução. Poderíamos reduzir o consumo de energia elétrica e, consequentemente, reduzir a emissão de carbono.
E você, conhece outras maneiras de como a biotecnologia pode ajudar na redução das emissões de carbono?