Os fenômenos naturais são acontecimentos não artificiais, ou seja, que acontecem sem a intervenção humana. Muitas pessoas os relacionam com desastres naturais, mas aqui você verá que eles vão muito além disso, principalmente quando os microrganismos entram em ação! Trazemos aqui 4 fenômenos naturais relacionados à presença de microrganismos!
1 – Cheiro de Chuva
“Era uma vez, um lugarzinho no meio do nada, com sabor de chocolate e cheiro de terra molhada.” (Toquinho)
É só ouvir essa música que, quase instantaneamente, aquele cheirinho aconchegante de chuva e terra molhada nos vem como memória olfativa. Mas você sabia que esse aroma inconfundível é proporcionado por uma bactéria?
As bactérias do gênero Streptomyces, que crescem naturalmente no solo, entram em estado de latência, formando esporos por conta da falta de água e produzem a geosmina, um metabólito secundário. Essa substância além de dar característica ao cheiro de chuva, também é responsável pelo gosto terroso que podemos sentir em alguns vegetais, como a beterraba.
O cheiro da chuva que sentimos é devido a uma mistura de óleos secretados das plantas em tempos de seca com a geosmina. No momento em que as gotas da chuva caem na terra, os dois compostos são liberados do solo e aprisionados por minúsculas bolhas de ar que, com a ação do vento, espalham esses dois elementos aromáticos do solo. Por isso, o cheiro é mais forte no começo da chuva, após um período de seca.
Um outro fato interessante sobre a geosmina foi observado pelo microbiologista Keith Charter, o qual liderou a equipe que identificou como ocorre a biossíntese da geosmina em actinobactérias. A partir de seus estudos, ele supõe que a fragrância da geosmina possa guiar os camelos, que andam pelo deserto, para encontrar solos úmidos. Em contrapartida, os camelos podem transportar os esporos de actinobactérias, que são liberados pelas fezes, para locais que proporcionam um melhor desenvolvimento ao microrganismo.
2 – Bioluminescência nos mares
No processo de respiração celular, ocorre a utilização da energia armazenada em moléculas orgânicas para que o organismo realize as mais diversas atividades. A luciferina (do latim lúcifer, portador de luz ou que traz a luz), é uma classe de pigmentos capazes de provocar o fenômeno da bioluminescência por ação da enzima luciferase. Por meio de uma reação exotérmica, a luciferase facilita a descarboxilação da luciferina, formando a oxiluciferina e luz. Esse processo é conhecido como bioluminescência.
Este fenômeno natural pode ocorrer em variados organismos, como bactérias, fungos, algas, celenterados, moluscos, peixes, e principalmente, no ambiente marinho. A bioluminescência está relacionada à quantidade de nutrientes nas águas. Quanto mais matéria orgânica, maior a chance de ocorrer. Ela também tem como função a comunicação biológica, sendo muitas vezes utilizada para aproximação sexual e na captura de alimentos.
Em ambientes marinhos esse fenômeno ocorre em algumas espécies de algas planctônicas unicelulares dinoflageladas. Com a agitação das águas, especialmente na rebentação das ondas, elas liberam fótons de luz, deixando a maré iluminada, proporcionando uma beleza única. Confira o vídeo incrível feito pelo fotógrafo Kris Williams na costa do País de Gales.
Confiram um outro conteúdo nosso sobre bioluminescência: “Por que os vagalumes brilham, e o que a biotecnologia pode fazer com isso?”
3 – Insetos Zumbis
Você já ouviu falar sobre o famoso jogo de videogame “The Last of Us” (PlayStation®)? Ele traz uma história complexa onde um fungo parasita se move lentamente pelo corpo das pessoas até chegar ao cérebro, a fim de controlar suas mentes. Pois então, saiba que essa ideia surgiu da vida real!
O fungo do gênero Ophiocordyceps é capaz de tornar formigas “zumbis”. Os insetos infectados saem dos formigueiros e, em determinado momento, já não respondem mais por si mesmos. Sob efeito da infecção fúngica, que domina seu corpo, o último ato da formiga zumbi é agarrar fortemente alguma folha com suas mandíbulas e então morrer. Esse lugar tende a ser escolhido considerando a umidade e temperatura, que somadas com a cavidade formada pelo corpo da formiga, devem ser ideais para o desenvolvimento e proliferação do fungo.
Três grupos deste mesmo fungo foram recentemente estudados na Amazônia pelo biólogo brasileiro José Aragão Cardoso Neto e seus colaboradores, durante seu mestrado na Universidade Federal do Amazonas. A forma como as formigas são transformadas em zumbis e o comportamento que elas apresentam depois disso, varia de fungo para fungo, dependendo também de fatores externos. Fazer com que a formiga consiga se fixar em um local alto pode ser uma grande vantagem ecológica para o fungo, que conseguiria lançar seus esporos numa área maior, infectando mais formigas.
4 – Flores Congeladas
Apesar de levarem o nome de flores congeladas do Oceano Ártico, trata-se de um evento raro que pode ocorrer em regiões de temperaturas negativas extremas quando pequenas quantidades de gelo que flutuam na água congelam as gotas ao seu redor e criam uma reação em cadeia.
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E por que elas estão citadas aqui? Ainda mais fascinante que sua beleza, é o grau de bactérias e pequenos organismos que são encontrados dentro das flores congeladas é bastante alto, muito maior do que na água do oceano. Pesquisadores acreditam que as flores congeladas abrigam seus próprios ecossistemas de modo temporário, favorecendo a vida e a sobrevivência desses pequenos organismos durante as temperaturas extremas.
Esses são apenas alguns dos curiosos fenômenos naturais relacionados aos microrganismos. De belos a macabros, há ainda uma infinidade para se descobrir.
Cite este artigo:
MELLO, L.P.S. 4 Fenômenos naturais relacionados aos microrganismos. Blog do Profissão Biotec, v.8, abril/2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/4-fenomenos-naturais-relacionados-aos-microrganismos/>. Acesso em: dd/mm/aaaa