O desenvolvimento e crescimento da Biotecnologia, não só no Brasil, mas no mundo todo, vêm sendo associado com o estabelecimento das redes de inovação. Mas como essas redes são formadas e como elas operam?
Redes de inovação são formadas por entidades como empresas, centros de pesquisa e universidades, e que são chamadas de atores ou players quando participam de uma aliança desse tipo. Os atores de uma rede possuem diferentes características, habilidades e conhecimentos, porque o objetivo do estabelecimento de uma rede é compartilhar e complementar uns aos outros. Dentro desse sistema, os atores compartilham seus recursos, conhecimento, pessoal e infraestrutura em diferentes projetos.
Na Biotecnologia, a formação de redes de inovação focadas em parcerias para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) é muito importante devido à multidisciplinaridade e complexidade da área. Uma vez participando de uma dessas redes, as instituições públicas e/ou privadas têm acesso a fontes de conhecimento que não estão disponíveis na sua própria organização. Algumas vantagens em participar de redes de inovação são a aceleração no desenvolvimento de novos produtos, acesso aos serviços e mão-de-obra qualificada e a redução e compartilhamento de gastos envolvidos na P&D.
De acordo com a recente e lenta difusão da Biotecnologia no Brasil, as redes de inovação na área também apresentam formação recente. As empresas e as redes de inovação brasileiras são bastante dependentes dos conhecimentos gerados nas universidades, que representam mais de 50% dos atores nas redes de inovação em Biotecnologia.
Agora que já sabemos um pouco sobre o que são e a importância das redes de inovação em Biotecnologia, vamos explorar um pouco sobre as redes que existem no Brasil!
1 – RENORBIO
A Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO) foi criada em 2004 e teve como motivação o Fórum da Comunidade em Biotecnologia (2004), no qual apresentou a necessidade de formação de corpo técnico em Biotecnologia e do conhecimento produzido por grupos dessa área. Além da criação da rede, esses fatores também foram motivadores para a criação do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Biotecnologia da Rede Nordeste de Biotecnologia, que iniciou as atividades em 2006.
A criação da RENORBIO tem como finalidade o incentivo à contribuição da região nordeste com tecnologia e indústria. As linhas de pesquisa iniciais foram direcionados para a bioprospecção (busca sistemática) de plantas com propriedades medicinais e/ou funcionais aos seres humanos, a otimização de processos e/ou produtos biotecnológicos para os seres humanos (por exemplo, vacinas, kits de diagnósticos e terapias), além do estudo genético de sistemas de melhoramento vegetal e a criação e/ou melhoramento de técnicas voltadas para a reprodução animal.
A RENORBIO conta atualmente com um total de 200 pesquisadores e com instituições de todos os estados do Nordeste e do Espírito Santo. Os objetivos da formação dessa rede são: acelerar o desenvolvimento da região Nordeste através da integração de esforços e recursos; melhorar o desempenho da ciência e da tecnologia na região; e, articular diversos setores da sociedade através da rede, buscando multiplicar a geração de empregos para profissionais qualificados, aumentar a qualidade e relevância da produção científica e tecnológica da biotecnologia, bem como a transferência para a sociedade, visando à inovação e o interesse social e econômico.
Os frutos da RENORBIO são numerosos, mostrando a importância das redes de inovação! A rede conta com aproximadamente 667 pedidos e/ou depósito de patentes. Além disso, discentes e egressos do PPG RENORBIO fundaram 15 diferentes empresas de base biotecnológica! Para saber mais, entre no site da rede nesse link.
2 – BIONORTE
A Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (Rede BIONORTE) foi criada em 2008. As principais motivações que instituíram a formação da rede foram: a ampliação do conhecimento acerca da biodiversidade da Amazônia utilizando também o desenvolvimento de processos e produtos biotecnológicos; e a formação de recursos humanos visando o desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal.
Para alcançar os objetivos propostos, a BIONORTE propôs a criação do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia – Rede BIONORTE (PPG-BIONORTE) em 2011. O PPG abrange nove estados da Amazônia Legal (cerca de 60% do território brasileiro) e é estabelecido de forma interestadual, multiinstitucional e interdisciplinar baseado no tripé Biodiversidade – Biotecnologia – Conservação. A rede BIONORTE atualmente é composta por 18 instituições públicas brasileiras.
As linhas de pesquisas que compõem os projetos da rede BIONORTE e do PPG-BIONORTE se dividem em: conhecimento da biodiversidade de fauna, flora e microbiota da Amazônia brasileira; conservação e uso sustentável da biodiversidade, com a manutenção e caracterização de bancos de germoplasma (germoplasma é o material que constitui a base física da herança genética, como as células germinativas) e melhoramento genético; e bioprospecção e desenvolvimento de bioprodutos e bioprocessos, incentivando a inovação e o empreendedorismo.
Em números, a BIONORTE é recheada de produções importantes até a data de hoje! Desde sua criação, já foram 2 cultivares protegidas, 3 cultivares registradas, 259 pedidos e/ou depósitos de patentes e 124 produções relacionadas ao desenvolvimento de processos e técnicas. Para saber mais, entre no site da rede nesse link.
3 – BiotecMar
A Rede Nacional de Pesquisa em Biotecnologia Marinha (BiotecMar) foi criada em 2018 a partir da união de competências e da articulação entre grupos de pesquisa que possuíam protocolos comuns de trabalho e interação. A BiotecMar está estruturada em quatro eixos temáticos e conta com laboratórios temáticos e grupos de pesquisa consolidados e emergentes das cinco regiões brasileiras (ver figura a seguir). Os estudos desenvolvidos pela rede BiotecMar são focados na solução de problemas que afetam a sociedade brasileira visando o desenvolvimento econômico e social com responsabilidade ambiental.
Os eixos de atuação (esquematizados na figura abaixo) visam as seguintes pesquisas: o eixo 1 (biodiversidade e sustentabilidade) possui o objetivo de desenvolver estudos relacionados à biodiversidade de moléculas e sistemas marinhos; o eixo 2 (ômicas) (você pode ler sobre as ciências ômicas aqui) visa desenvolver análises de sistemas biológicos, conteúdo de genomas e proteínas, metabólitos secundários e engenharia metabólica marinha metabólica marinha; o eixo 3 (bioinformática) possui o objetivo de desenvolver ferramentas de bioinformática para a análise de sequenciamento de DNA de organismos marinhos; por fim, o eixo 4 (setor produtivo) visa a transferência de conhecimento para a indústria.
Estruturação dos eixos de atuação e das regiões abrangidas pela ação da rede BiotecMar. Esquema forma setas indicando que o primeiro eixo, de biodiversidade de holobiontes, novas moléculas e sustentabilidade está ligado diretamente ao terceiro eixo, que é da bioinformática e ao quarto eixo, que é o setor produtivo. O eixo da bioinformática (3) e o segundo eixo, da genômica e pós-genômica, estão unidos em um loop, pois são interdependentes. O setor produtivo está conectado com a junção dos eixos 2 e 3 que, por sua vez, estão conectados com o eixo 1. Fonte: Rede BiotecMar (http://biotecmar.com.br/?page_id=1841), acessado em 18 dez. 2020.
A BiotecMar conta com 23 instituições públicas e privadas brasileiras e com 9 laboratórios temáticos distribuídos entre as instituições. Diferentemente das outras redes, a BiotecMar não possui um programa de pós-graduação, mas diferentes cursos de graduação e pós-graduação das instituições estão inclusos na formação de recursos humanos. A BiotecMar já desenvolveu 13 ferramentas baseadas na web para análises de bioinformática. Para saber mais, entre no site da rede nesse link.
4 – SulBiotec
A Rede de Biotecnologia da Região Sul (Rede SulBiotec) foi proposta em 2014 com o intuito de promover a interação entre a academia e o setor empresarial da Biotecnologia. Para esse propósito, essa rede direciona suas ações para três vertentes: integração entre as instituições dos três estados da Região Sul; incentivo ao empreendedorismo em Biotecnologia; e a cooperação entre a academia e o setor produtivo-empresarial.
A SulBiotec é formada por uma associação entre universidades, empresas e potenciais empreendedores a fim de firmar propostas de cooperação que possam promover a competitividade do setor de Biotecnologia; incentivar e promover a aproximação entre instituições de ciência e tecnologia com o setor produtivo; potencializar o empreendedorismo em Biotecnologia; e promover e incentivar o desenvolvimento de tecnologias alternativas.
A formação de recursos humanos é realizada através dos 12 programas de pós-graduação bem conceituados de universidades da região do sul associados a SulBiotec. A rede possui 53 laboratórios de biotecnologia vinculados que possuem uma ampla gama de serviços em diversos setores da Biotecnologia, como saúde, agroindústria, melhoramento genético, alimentos, engenharias, cosmética e produtos marinhos. Alguns trabalhos fornecidos por parceiros da rede incluem diagnósticos moleculares e sorológicos, testes de avaliação e validação de vacinas e transferência de tecnologia. Em números, a SulBiotec possui 12 laboratórios com patentes, 2 laboratórios com processos e produtos validados e 9 empresas parceiras.
Ao analisar as funções desenvolvidas por todas essas redes de biotecnologia do Brasil e ver os resultados atingidos vemos a importância das redes de inovação na disseminação e divulgação da Biotecnologia. Além disso, os resultados sociais e econômicos também são bastante importantes a curto e longo prazo, reforçando a importância do investimento nessas redes pelo Brasil
Cite este artigo:
Lourenço, D.A. 4 Redes de Biotecnologia no Brasil. Blog do Profissão Biotec, v.8, abril/2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/4-redes-de-biotecnologia-no-brasil/> Acesso em: dd/mm/aaaa