Você já deve ter olhado para seu braço direito e se perguntado para quê serve essa marquinha e nós iremos te responder: ela é sinal que você recebeu a vacina BCG quando era pequeno.
Mas afinal, o que é a BCG?
BCG é uma vacina contra a tuberculose, de dose única, utilizada para nos proteger contra a meningite tuberculosa, que é quando a doença se instala no nosso cérebro, e a tuberculose miliar, que é quando a doença se espalha dentro do corpo e gera pequenas lesões na pele. Essa vacina faz parte do Calendário Brasileiro de Vacinação, com rotina de aplicação após o nascimento e até antes da criança completar 5 anos. Ao receber a dose da vacina, surge uma pequena bolha no local da aplicação e, após a sua cicatrização, a marquinha será o sinal que ocorreu a vacinação.
Ei, não tenho a marca, então não estou imunizado?
Essa é uma pergunta corriqueira nos centros de vacinação. Mas fique tranquilo, se você foi vacinado estará imune mesmo que não tenha a marquinha.
A Organização Mundial de Saúde(OMS) juntamente com o Comitê Técnico Assessor de Imunizações emitiram uma nota informando que não é necessário tomar uma segunda dose da BCG. Estudos realizados com crianças que não tinham a marquinha, mas receberam a vacinação, comprovaram que elas estavam imunes a doença.
E como é feita a BCG? Como ela age no organismo?
A BGC é uma vacina composta pelo bacilo de Calmette-Guérin (nome dos cientistas criadores da vacina), que foi obtido pelo enfraquecimento de uma das bactérias que causam a tuberculose. Na vacina também encontramos glutamato de sódio, que ajuda a estabilizar e aumentar o tempo de vida da vacina, e a solução fisiológica a 0,9%.
Estudos mostraram que após a aplicação, o bacilo se espalha pelos linfonodos em poucos minutos e em poucas horas se espalha por todo o corpo através do sangue, podendo gerar pequenos granulomas.
Afinal, a BCG só protege contra a meningite tuberculosa?
Em 2011, pesquisadores da Dinamarca realizaram um estudo em Guiné-Bissau onde observaram que a taxa de mortalidade infantil foi reduzida significativamente após a vacinação. Eles acompanharam as crianças com 2, 6 e 12 meses de idade e perceberam que a queda da mortalidade neonatal ocorreu principalmente devido à redução dos casos de sepse neonatal, infecção respiratória e febre. Isso ressalta a importância da administração da BCG nos primeiros meses de vida, embora em muitos locais sua aplicação seja frequentemente atrasada.
Além da redução da taxa de mortalidade, também foi visto que a vacina previne contra outros patógenos, incluindo vírus, no seu primeiro ano após a aplicação da vacina. Você pode verificar este estudo aqui. Em outro estudo em humanos, pesquisadores também da Dinamarca, descobriram que a vacinação com BCG induz a reprogramação epigenética de monócitos, uma nova adaptação, em todo o genoma, além de proteger contra a infecção experimental de uma cepa vacinal enfraquecida do vírus da febre amarela. Estudos mais aprofundados estão sendo realizados para melhor compreensão dessa resposta.
Pensado em todos esses fatores, surgiu a dúvida: será que a vacina BCG pode nos proteger contra a Covid-19?
Como visto antes, estudos mostraram que a aplicação da BCG na idade correta reduz a taxa de mortalidade infantil e previne de cerca de 30% de futuras infecções respiratórias. No início da pandemia apareceram indícios de que alguns países que não possuíam a vacinação obrigatória para BCG pareciam apresentar maior taxa de mortalidade por COVID-19, o que instigou os cientistas a iniciarem estudos para verificar se existe um efeito protetor da vacina BCG contra a COVID-19.
Pensando nisso, pesquisadores estão organizando um ensaio clínico para testar se há algum efeito protetor da BCG contra a COVID-19. Esse estudo inicial será realizado com médicos e enfermeiros que estão na linha de frente do combate ao vírus. A Holanda iniciará os testes, recrutando 1000 profissionais em oito hospitais que vão receber a BCG ou o placebo. Pesquisadores da Universidade de Melbourne (na Austrália), Universidade de Exeter (na Inglaterra) e uma equipe do Instituto Max Planck de Biologia e Infecção (na Alemanha) também realizarão testes para a comprovação da BCG frente a COVID-19.
Após esses indícios, um grupo de pesquisa de Israel testaram adultos infectados pelo COVID-19 com idades entre 35 e 41 anos, dividiram os voluntários em dois grandes grupos, um que tiveram vacinação da BCG na infância e outro que não houve vacinação. Após a realização dos testes, não obtiveram uma correlação de associação sobre a ação da BCG e a gravidade dos casos. Isso significa que tanto os vacinados quanto os não vacinados tiveram uma taxa de infecção muito semelhantes.
Mesmo após 7 meses de pandemia, ainda pouco se sabe sobre a COVID-19, muitas pesquisas estão em andamento para entendermos bem como o vírus SARS-CoV-2 funciona e o que pode ser realmente eficaz para o seu combate. Como ainda não há evidências científicas robustas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda o uso da vacinação para BCG como forma de proteção contra o novo coronavírus.
Fique de olho em nossas redes sociais e em nossa página do blog que estamos acompanhando esses e outros resultados do combate à COVID-19.
E ai? Você sabia que a BCG tem todos esses efeitos benéficos? Nos conte e não esqueça de compartilhar com amigos e parentes!
Referências:
Cell Host & Microbe – BCG Vaccination Protects Against Experimental Viral Infection In Humans Through The Induction Of Cytokines Associated With Trained Immunity. Janeiro, 2018. Disponivel em: <https://www.cell.com/cell-host-microbe/fulltext/S1931-3128(17)30546-2>. Acesso em 03 de Abril de 2020.
BCG vaccines: WHO position paper – February 2018. Disponível em: <https://www.who.int/immunization/policy/position_papers/bcg/en/>. Acesso em 03 de Abril de 2020.
Fundação Ataulpho De Paiva – Bula Profissional Vacina BCG. Disponível em: <http://www.fundacaoataulphodepaiva.com.br/bula-profissional-vacina-bcg/>. Acesso em 03 de Abril de 2020.
JAMA Network – SARS-CoV-2 Rates in BCG-Vaccinated and Unvaccinated Young Adults. Maio, 2020. Disponível em:<https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2766182>. Acesso em 26 de julho de 2020.
Minuto Saúde – Vacina BCG. Disponível em: <https://minutosaudavel.com.br/vacina-bcg/.> Acesso em 03 de Abril de 2020.
Nota informativa – Sociedade Brasileira de Imunização. Disponivel em: <https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/nota-informativa-10-2019-cgpni.pdf>. Acesso em 03 de Abril de 2020.
Randomized Trial of BCG Vaccination at Birth to Low-Birth-Weight Children: Beneficial Nonspecific Effects in the Neonatal Period?. Disponível em: <https://academic.oup.com/jid/article/204/2/245/833883>. Acesso em 03 de Abril de 2020.
Science – Can a century-old TB vaccine steel the immune system against the new coronavirus?. Março, 2020. Disponível em: <https://www.sciencemag.org/news/2020/03/can-century-old-tb-vaccine-steel-immune-system-against-new-coronavirus>. Acesso em 03 de Abril de 2020.
Sociedade Brasileira de Imunização – Vacina BCG. Disponível em: <https://familia.sbim.org.br/vacinas/vacinas-disponiveis/vacina-bcg>. Acesso em 03 de Abril de 2020.