Os plásticos se fazem presentes no nosso cotidiano das mais diversas formas e variedades. Podem ser utilizados para os mais diversos fins, desde produtos de uso único, como em embalagens de comida, ou para bens duráveis, como no cano de PVC da pia do banheiro; trazendo muita comodidade e praticidade à vida moderna.
Contudo, ainda há um grande o consumo descontrolado e inconsequente, sobretudo desses produtos de uso único, associado a pouquíssimas práticas e incentivos de reuso, reciclagem e o descarte adequado.
E associado a incapacidade de decomposição e a emissão de gases do efeito estufa durante a produção, tem resultado em grandes problemáticas ambientais.
Para exemplificar: quem nunca se sentiu extremamente desconfortável ao ver aquelas imagens que circulam pela internet com oceanos repletos de plásticos e/ou animais marinhos mortos sufocados pelos mais diversos tipos de plásticos? É de partir o coração, não é mesmo?
Isso é apenas uma parte do retrato do enorme desafio a se enfrentar. Para entender melhor o quanto de resíduo de plástico é gerado no mundo (que está longe de ser pouco), quais os principais pontos de acúmulo nos oceanos e o desafio da reciclagem no Brasil, sugiro que você leia depois esse artigo da Fapesp: Planeta Plástico.
É inegável a necessidade de revermos questões relacionadas ao consumo e descarte dos produtos fabricados com plásticos. Portanto, muitos grupos de pesquisadores, principalmente na área de biotecnologia, vêm desenvolvendo novos tipos de plásticos. Os objetivos aqui vão desde mitigar questões relacionadas à produção altamente poluente até o descarte inadequado.
Assim, em contrapartida aos plásticos convencionais, aqueles de origem fóssil, vem sendo estudado e produzidos plásticos provenientes de biopolímeros, polímeros biodegradáveis e polímeros verdes (bio-based). Você achou que eram nomes diferente para a mesma coisa? Pois saiba que cada um possui a sua particularidade. Veremos cada uma a seguir:
Biopolímeros
Tratam-se de polímeros, ou polímero naturais, produzidos a partir de matérias-primas de fontes renováveis, como: soja, amido de arroz, milho e cana-de-açúcar. Mas você sabia que além das plantas os biopolímeros podem ser produzidos por bactérias? Para saber como isso é possível confira: Vamos repensar o plástico? E se ele fosse produzido por bactérias?
As matérias-primas de fonte renováveis, são assim conhecidas por apresentarem um ciclo de vida curto, ou seja, se renovam de forma rápida, quando comparado aos componentes de origens fósseis que levam milhares de anos para se formarem.
Outra grande vantagem dos biopolímeros é que estes são muito mais sustentáveis, visto que sua cadeia de produção é menos poluente, pois são produtos neutros em carbono e por isso, não elevam a produção dos gases do efeito estufa como os plásticos convencionais. Apesar dessa pegada mais sustentável, é importante ressaltar que nem todos biopolímeros são biodegradáveis.
Mas os biopolímeros também apresentam uma limitação: trata-se de um tipo de material que possui difícil processabilidade, limitando o seu uso para produção de apenas alguns tipos de plásticos. Assim, muitos pesquisadores vêm trabalhando em alternativas para modificar a estrutura dos biopolímeros pensando em viabilizar o processamento e o seu uso para uma maior variedade de aplicações.
Polímeros biodegradáveis
São materiais em que a degradação é proveniente da ação de microrganismos, tais como fungos, bactérias e algas, podendo ser degradados em semanas ou meses, desde que haja condições favoráveis para isso.
Esses polímeros podem ser produzidos a partir de fontes naturais e renováveis (biopolímeros), sintetizados por bactérias, derivados de fonte animal e até mesmo obtidos de fontes fósseis ou da mistura entre biomassa e petróleo.
Entre os polímeros biodegradáveis, os que mais tem chamado atenção são os obtidos a partir de fontes renováveis. Estes têm um apelo ambiental mais forte, devido ao menor impacto ambiental na obtenção, processamento e no descarte.
Um biopolímero bastante conhecido é a celulose, abundante na natureza, podendo ser extraído de qualquer vegetal, pois é constituinte da parede celular dos mesmos.
Por exemplo, os biopolímeros biodegradáveis podem ser empregados em plásticos de uso único/descartáveis, com o propósito de minimizar os impactos ambientais causados pelo descarte inadequado. Atualmente, a grande maioria das embalagens comercializadas são fabricadas utilizando polímeros não biodegradáveis, sendo biopolímeros ou não.
Você deve estar se perguntando, mas essas embalagens não podem ser recicladas? Muitas delas são passíveis de reciclagem, entretanto, nem sempre o sistema de reciclagem dos municípios funcionam de forma adequada (como podemos ver na imagem a seguir).
Além disso, muitas das embalagens são descartadas sujas e/ou apresentam multicamadas em sua composição com outros materiais, como alumínio por exemplo, fatores que dificultam e encarecem o processo de reciclagem.
Logo, os biopolímeros biodegradáveis tornam-se cada vez mais fortes candidatos como alternativas mais sustentáveis. Porém, esses materiais estão longe de eliminar as embalagens convencionais das prateleiras, pois, em muitos casos, a produção dos plásticos convencionais ainda é mais barata e há alguns desafios em relação à qualidade e estabilidade desses materiais em comparação aos materiais convencionais.
Polímeros verdes ou Bioplásticos
Os polímeros verdes, bioplásticos ou bio-based, são aqueles que possuem estrutura química similar aos polímeros convencionais, ou seja, possuem a estrutura que remete a polímeros petroquímicos, porém, estes são derivados parcialmente ou totalmente de fontes renováveis, principalmente substratos da biomassa derivada de resíduos agroindustriais.
Quer entender como esses resíduos são transformados em bioplásticos? Confira este artigo “Bioplásticos: o que eles realmente têm de BIO?”
Porém, assim como alguns biopolímeros, nem todos polímeros verdes são biodegradáveis. Sua degradação leva tanto tempo quanto os materiais convencionais fabricados por fontes não renováveis. Logo, o foco dos polímeros verdes não biodegradáveis é o menor impacto ambiental durante a produção de sua matéria prima e no processamento dos plásticos.
Um exemplo são os polietileno verde (PE verde) e o policloreto de vinila verde (PVC verde) que são polímeros verdes e tem a mesma empregabilidade dos PE e PVC de origem fóssil. São também considerados biopolímeros, pois são produzidos a partir do etanol de cana-de-açúcar. Contudo, ambos não são biodegradáveis.
Ou seja, por não serem biodegradáveis, possuem as mesmas questões que envolvem muitos plásticos convencionais, como o descarte inadequado e o acúmulo dos resíduos na natureza, não sendo tão ambientalmente amigáveis quando um polímero verde biodegradável.
Bem, vimos que cada tipo de polímero tem sua particularidade, para ficar mais claro confira a tabela a seguir para você diferenciar as características principais de cada um:
Apesar da busca cada vez maior por produtos biotecnológicos como soluções e opções mais sustentáveis aos plásticos, o fato do plástico convencional ainda ser muito mais barato e prático faz com que eliminá-lo do nosso cotidiano dependa muito mais da conscientização ambiental da população.
A partir do momento que a sociedade começar a repensar o hiperconsumo, levar a sério e cobrar o combate às mudanças climáticas e à crise do plástico, toda cadeia de produção se tornará cada vez mais pressionada a reavaliar a necessidade do uso dos plásticos e passa a criar e produzir produtos mais sustentáveis.
E você, já reavaliou o consumo do plástico no seu cotidiano? Conta para a gente qual substituição você fez ou quer fazer na sua rotina!