Desde 1990, quando Michael Crichton escreveu o livro de ficção científica “Jurassic Park” que, posteriormente em 1993, virou sucesso absoluto nos cinemas pelas mãos de Steven Spielberg, muito se é debatido em relação à real possibilidade de o Parque dos Dinossauros existir.
Paleontólogos afirmam que para clonar um dinossauro, seria preciso o genoma completo, mas ninguém nunca encontrou nem um trechinho de DNA de dinossauro, sugerindo ser algo impossível.
Vestígios de DNA fóssil
Ano passado (2020), 30 anos depois da obra de Crichton ser lançada, um estudo publicado na revista científica National Science Review pela pesquisadora de pós-doutorado Alida Bailleul, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados da China, analisou em detalhes dois ossos do crânio de um jovem hadrossauro (Hypacrosaurus stebingeri), um herbívoro que viveu há cerca de 75 milhões de anos.
No interior dos pequenos fósseis, os pesquisadores conseguiram observar o que pareciam ser células, algumas congeladas no processo de divisão. Outras contendo esferas escuras, semelhantes a núcleos, estruturas celulares onde fica armazenado o DNA. Uma célula parecia conter hélices emaranhadas de coloração escura que se assemelhavam aos cromossomos, filamentos condensados de proteínas e DNA formados durante a divisão celular.
Para testar o material fossilizado, os pesquisadores aplicaram um corante nos fragmentos de crânio do dinossauro. Em células vivas, esse corante se liga ao DNA. O corante se ligou a pontos específicos dentro das células do fóssil, corando esses pontos em vermelho e azul fluorescente. Até onde os pesquisadores conseguiram concluir, o que quer que o corante tenha realçado foi derivado de moléculas originais do dinossauro, e não de um contaminante externo, como bactérias.
Essa descoberta significa que conseguiremos em breve sequenciar o DNA dos dinossauros?
Não! Infelizmente não estamos nem perto disso ainda. Os pesquisadores não tentaram extrair DNA das células fósseis, portanto não confirmaram se o material é DNA de fato ou algum tipo de subproduto fóssil proveniente de um material genético em decomposição. Os cientistas também alertaram que, se houver DNA nas células do dinossauro, provavelmente estará presente em minúsculos fragmentos, quimicamente alterados e misturados com uma substância resultante da degradação de proteínas.
Ainda assim, o estudo mostra que fósseis podem preservar estruturas microscópicas e até traços das moléculas que compuseram as células de um organismo, variando de pigmentos a proteínas e muito mais. Um estudo recente até encontrou biomoléculas em um fóssil de Dickinsonia, uma criatura que viveu mais de meio bilhão de anos atrás, e as utilizou para confirmar se o organismo era um animal ou outra forma de vida.
Em contrapartida, estudos já mostraram que o material genético se desintegra no interior de ossos após alguns milhões de anos. O genoma completo mais antigo já sequenciado é proveniente de um osso de cavalo de 700 mil anos encontrado na Sibéria, congelado no pergelissolo (tipo de solo da região do Ártico constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados) desde a morte do animal — e os ossos do Hypacrosaurus são cerca de cem vezes mais velhos.
Os ossos são extremamente porosos, o que os torna cápsulas do tempo imperfeitas após a morte de uma criatura. No caso do hadrossauro, essas células de dinossauros preservadas, provavelmente foram incorporadas à cartilagem, afirmou Schweitzer, paleontóloga da Universidade Estadual da Carolina do Norte, em entrevista ao National Geographic. A estrutura da cartilagem pode ter protegido as células internas de forma mais eficaz.
Mais análises são necessárias para determinar com maior precisão o conteúdo desses fragmentos de crânio do dinossauro. Bailleul espera que, no futuro, os cientistas compreendam melhor como o DNA é fossilizado e quais informações genéticas esses pequenos fragmentos preservados podem conter.
Câncer em dinossauro?
Além da descoberta de possíveis vestígios de DNA fóssil, pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá estudavam a cauda fossilizada também de um hadrossauro, quando notaram que os ossos continham “grandes cavidades, evidentemente criadas por tumores, em duas vértebras da cauda”, segundo contou Hila May, que participou do estudo, em entrevista à CNN.
Para confirmar a hipótese, a equipe realizou tomografias computadorizadas das vértebras do dinossauro e reconstruiu uma imagem 3D de como o tumor e os vasos sanguíneos do animal deveriam ser. “A imagem confirmou com grande probabilidade que o dinossauro sofria de histiocitose das células de Langerhans (HCL). As descobertas surpreendentes indicam que a doença não é exclusiva dos seres humanos e que existia em diferentes espécies há mais de 60 milhões de anos — através do longo processo evolutivo dos dinossauros aos seres humanos”, afirmou May.
A HCL corresponde a um grupo heterogêneo de desordens caracterizadas pela proliferação monoclonal de células dendríticas. Com incidência de 5 a 10 casos/milhão/ano, apresenta um amplo espectro clínico, manifestando-se principalmente por meio de lesões ósseas e cutâneas, ocorrendo com maior frequência em crianças menores de 15 anos.
Câncer Maligno
Paleontologistas identificaram também, pela primeira vez, um câncer maligno altamente agressivo, um osteossarcoma, no osso traseiro direito do Centrosaurus, que viveu aproximadamente 75 milhões de anos atrás. A fíbula tinha uma extremidade malformada, inicialmente atribuída a uma cicatriz óssea decorrente de fratura.
No ano de 2017, ao notar as características incomuns do osso, o paleontólogo do Royal Ontario Museum, David Evans, e o especialista em patologia Mark Crowther, ambos do Canadá, decidiram então reexaminá-lo. Eles observaram lâminas do tecido ao microscópio e imagens de tomografia, comparando-as com as de uma fíbula humana afetada por osteossarcoma e uma sadia de Centrosaurus. Concluíram que o osso doente pertencia a um animal adulto com câncer avançado. O osso foi ainda avaliado por especialistas em oncologia musculoesquelética e patologia humana que confirmaram o diagnóstico.
Assim como nós, os dinossauros também adoeceram, mas as evidências de doenças e infecções no registro fóssil ainda são bastante escassas.
Por mais que muitos estudos já tenham sido realizados com sucesso, a existência dos dinossauros e a forma como viviam ainda gera curiosidade. Enquanto ainda não temos todas as respostas, podemos continuar acompanhando os filmes de ficção, como os da franquia Jurassic Park e Jurassic World.
Cite este artigo:
MELLO, L.P.S. Possíveis vestígios de DNA fóssil e câncer encontrados em ossos de dinossauros. Revista Blog do Profissão Biotec, v.8, 2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/vestigios-de-dna-fossil-e-cancer-em-dinossauros/>. Acesso em: dd/mm/aaaa