Para garantir a segurança no trabalho, que, como apresentado na Parte 1 do nosso Guia, é um dos princípios mais importantes dentro do laboratório, precisamos ter conhecimento do local e de tudo o que se encontra nele. Por isso, saber o nome das vidrarias e dos equipamentos, onde ficam e qual sua finalidade tornam nosso dia a dia mais prático e o trabalho mais eficiente. Além disso, conhecer os reagentes utilizados e quais os riscos associados à eles, dando atenção às misturas realizadas, promovem a segurança de todos que estão ao nosso redor. Nesse texto, vamos apresentar alguns protagonistas das análises laboratoriais para você trabalhar com informação e segurança.
Vidrarias
A hora de começar os experimentos é sinônimo de virar o professor Utônio (das Meninas Super-Poderosas) e misturar açúcar, tempero e tudo que há de bom! Mas como é mesmo o nome daqueles vidrinhos que tem no laboratório?
As vidrarias são feitas, em geral, de vidro borossilicato (óxido de boro, B2O3, adicionado ao vidro convencional, composto em maior parte por óxido de silício, SiO2) – o mesmo vidro daquelas travessas (Pyrex) da sua avó. As vidrarias são utilizadas para experimentos de rotina em pequena escala. Esse tipo de vidro não interfere nas reações químicas, tem boa resistência ao calor e é de fácil lavagem. Algumas vidrarias são utilizadas para medição de volumes com grande precisão. Em geral, as vidrarias mais utilizadas na rotina do laboratório são:
- Tubo de ensaio: utilizado para a execução de reações químicas em pequena escala e testes de pequenas amostras ao longo do processo.
- Frasco de Erlenmeyer: utilizado em titulações e em reações químicas de modo geral, bem como para aquecimento de líquidos. Também é utilizado para o crescimento de culturas de células, como bactérias e microalgas.
- Béquer: é uma vidraria multiuso, mais utilizada para reações de forma geral, aquecimento de líquidos e dissolução de sólidos por ser pouco precisa.
- Frasco Kitassato: utilizado para fazer filtração a vácuo, mediante acoplamento de uma mangueira com bomba de vácuo na entrada lateral. O funil usado para filtração a vácuo é de porcelana, conhecido como funil de Büchner.
- Proveta: utilizada na medição bastante precisa do volume de líquidos.
- Placa de Petri: utilizada para cultura e identificação de microrganismos.
- Balão de fundo chato: utilizado para armazenar e aquecer líquidos e realizar procedimentos de destilação.
- Balão de fundo redondo: assim como o balão de fundo chato, serve para armazenar líquidos e é indicado para destilações. O fundo redondo permite o aquecimento mais uniforme da amostra líquida.
- Balão volumétrico: permite o acondicionamento de uma solução com volume preciso e prefixado e pode ser utilizado para fazer diluições.
- Vidro de relógio: recipiente que ajuda na aferição de massa de amostras sólidas em balanças de precisão.
- Dessecador: recipiente para acondicionar e/ou resfriar amostras em atmosfera com baixa umidade. No seu interior é colocada um agente dessecante como a sílica.
- Pipeta graduada: utilizada para medir volumes fracionados de líquidos com boa precisão.
- Pipeta volumétrica: mede com precisão volumes fixos de líquidos.
- Pipetador automático: usado, sempre acoplado a uma ponteira, para manipular líquidos volumétricos em pequenas quantidades (0,1 microlitros até 10 mililitros) que requerem precisão.
- Bureta: utilizada em titulações pois, através do escoamento controlado do líquido, fornece medidas precisas.
- Bastão de vidro: utilizado para fazer a agitação e homogeneização de soluções, bem como a transferência de líquidos entre frascos de forma segura.
Equipamentos
Cada laboratório terá os equipamentos de acordo com suas necessidades de análise. Em geral, são recursos muito caros. Atenção com a rede elétrica, localização no ambiente, manutenção, aferição e calibração periódica, são fatores importantes para aumentar a vida útil dos equipamentos. Alguns destes equipamentos são comumente encontrados em qualquer laboratório.
- Destilador de água: possui a função de retirar impurezas e contaminantes da água comum. A água destilada obtida possui múltiplos usos como solvente, reagente ou para limpeza de equipamentos e vidrarias, pois reduz os riscos que substâncias presentes na água natural interfiram nos processos.
- Estufa: utilizada para secagem de substâncias sólidas, evaporação lenta de líquidos, armazenamento de substâncias líquidas com temperaturas baixas, secagem de vidrarias e outros materiais e incubação de algumas culturas, como crescimento de bactérias em placas de petri.
- Balança analítica: capaz de realizar pesagens de forma precisa. Essas balanças são utilizadas para pesagens de massas muito pequenas com muita precisão, tendo peso máximo tolerável.
- Banho-maria: da mesma forma que podemos fazer em casa, aquece soluções a temperatura moderada, de forma gradual, impedindo que percam suas propriedades.
- Capela de exaustão: é um equipamento de proteção coletiva (EPC) utilizado para manipular produtos tóxicos à inalação, como solventes voláteis. Ela tem um sistema exaustor que impede que os gases produzidos em seu interior escapem para o ambiente externo.
- Centrífuga: utilizada para separar materiais em solução através da rotação. A força centrífuga separa materiais mais densos dos menos densos em fases.
- pHmetro: faz as medições de íons de hidrogênio de uma solução, mostrando o valor do pH de uma solução, 0 (ácida) a 14 (alcalina).
- Espectrofotômetro: é capaz de medir e analisar a quantidade de luz absorvida, transmitida ou refletida por uma determinada amostra, seja ela solução, sólido transparente ou sólido opaco. Os resultados obtidos neste equipamento podem ser colocados em um gráfico para encontrar resultados de concentração de solução, por exemplo.
- Microscópio: serve para a análise e compreensão dos microrganismos, ampliando a imagens em tamanhos minúsculos. Pode ser acoplado a um computador, com programas específicos para visualização e manipulação das imagens. O microscópio mais acessível é o óptico, que, por meio de um feixe de luz, possui lentes que aumentam o tamanho dos componentes da amostra. Já os microscópios eletrônicos são um pouco mais caros, mas apresentam imagens melhores pois utilizam feixes de elétrons.
- Autoclave: realiza esterilização por calor úmido, por meio do contato do recipiente a ser esterilizado com o vapor de água em temperatura e pressão elevadas.
Reagentes químicos
Os reagentes devem ser armazenados nas prateleiras conforme compatibilidade (não em ordem alfabética). Deve-se sempre etiquetar tudo de forma clara, com nome, data de abertura, validade, responsável e finalidade de uso. Redobrar o cuidado com materiais inflamáveis e combustíveis, tanto no manuseio quanto no armazenamento.
Cada laboratório terá reagentes específicos conforme as análises que precisam ser realizadas. Eles têm a função de diagnosticar algo em uma substância química que vai participar da reação ou auxiliar na transformação em um produto. Os principais reagentes químicos são hidróxidos, ácidos, sais, solventes, soluções tampão, padrões e indicadores. Alguns dos principais nomes que você vai ouvir falar são acetona, ácido clorídrico, ácido fosfórico, ácido nítrico, ácido sulfúrico, álcool metílico, formol, glicerina, carbonato de potássio, nitrato de sódio, sulfato de ferro, sulfato de sódio, entre outros.
A ficha de informações de segurança dos reagentes químicos (FISPQ) fornece informações sobre aspectos dos produtos químicos referente a segurança, proteção, saúde e meio ambiente. Quando alguma dúvida surgir, desde o tipo de reação que pode ocorrer até como realizar o descarte, essa ficha pode ser consultada para minimizar o risco de alguma ação errônea. Por exemplo, a FISPQ do ácido clorídrico (HCl), informa que é ele um reagente corrosivo, perigoso, capaz de provocar queimadura severa à pele e danos aos olhos. Em caso de contato com a pele deve-se lavar imediatamente o local com água corrente e, caso não seja suficiente, pode ser aplicada uma solução de bicarbonato de sódio a 1% para neutralizar a reação. Os sintomas e efeitos mais importantes do contato com o HCl são irritação e corrosão, tosse, doenças cardiovasculares e risco de cegueira. Essas e outras informações de todos os reagentes se encontram na FISPQ que acompanha o produto.
Em breve a FISPQ vai se chamar FDS (Ficha com Dados de Segurança), conforme a nova versão da norma ABNT NBR 14725. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou o novo texto em 3 de julho de 2023 e este entrará em vigor em dois anos. O objetivo da alteração no nome é equiparar-se a nomenclaturas internacionais como em inglês- Safety Data Sheet (SDS) e francês- Fiche de Données de Sécurité (FDS).
Agora você está pronto!
Depois de conhecer o básico sobre o laboratório você já pode ficar mais tranquilo para ir para sua aula ou trabalho. Cada lugar tem suas especificações, mas alguns procedimentos e nomes são comuns a qualquer laboratório. O importante é sempre buscar as informações, tirar as dúvidas com os responsáveis e nunca fazer nada sem total confiança se está correto. E não esqueça: no laboratório devem permanecer apenas pessoas autorizadas. É um local com equipamentos sensíveis, reagentes perigosos, onde podem estar ocorrendo reações com riscos de acidentes e por isso apenas pessoas preparadas para essa situação devem estar ali.
Cite este artigo:
CARDIAS, B. B. Guia para iniciantes no laboratório: de boas práticas ao kitassato (Parte 2). Revista Blog do Profissão Biotec. V. 10, 2023. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/guia-para-iniciantes-laboratorio-boas-praticas-kitassato/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências
NOVAIS, Stéfano Araújo. Vidrarias de laboratório. Disponível em: <https://www.manualdaquimica.com/quimica-geral/vidrarias-laboratorio.htm#:~:text=As%20vidrarias%20servem%20para%20acondicionamento,b%C3%A9quer%20(ou%20becker)%3B
https://autolac.com.br/blog/equipamentos-de-laboratorio-de-analises-clinicas-suas-funcoes/>. Acesso em 20 de maio de 2023.
SITE Prolab. 2019. Conheça a lista de reagentes químicos para laboratório escolar de química. Disponível em: <https://www.prolab.com.br/blog/blog/conheca-a-lista-de-reagentes-quimicos-para-laboratorio-escolar-de-quimica/>. Acesso em 15 de maio de 2023.
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