Desde 2017, o Profissão Biotec realiza um mapeamento bianual do cenário de pós-diplomação de biotecnologistas formados no Brasil. Segundo o levantamento de 2021, dos 665 entrevistados egressos de cursos de biotecnologia e engenharias de biotecnologia e/ou bioprocessos, 38,5% estavam inseridos na pós-graduação, e destes, 52,1% pretendiam fazer concurso público para pesquisador/docente ao concluir a sua formação. 

Portanto, identificamos que a pós-graduação e a carreira como pesquisador/docente é um objetivo almejado por grande parte dos profissionais de biotecnologia do país. A partir disso, lançamos uma série de textos a respeito de dicas e desafios da carreira acadêmica (1,2,3 e 4). Entretanto, além da pesquisa científica, o trabalho com educação é uma parte extremamente importante da atuação como professor universitário. 

Ou seja, os cursos de pós-graduação Stricto sensu são uma porta de abertura para o desenvolvimento científico e também para a formação de professores universitários. Diante deste cenário, algumas instituições de ensino e agências de fomento têm como atividades obrigatórias a realização de estágio docência pelos alunos da pós-graduação, além de sua participação em disciplinas ou cursos complementares de formação pedagógica. Porém, ainda é comum que pós-graduandos não vivenciem essas oportunidades em determinadas instituições ou até mesmo não tenham a iniciativa de se dedicar à sua formação como docente, além de pesquisador. A partir disso, convidamos você para refletir sobre o papel do professor universitário para um ensino de qualidade.

As origens da universidade no Brasil e no mundo

A história da universidade acompanha os capítulos do desenvolvimento humano. Ou seja, movimentos sociais marcantes influenciam até hoje o acesso à educação, desde as escolas de filósofos na Grécia Antiga, o monopólio da Igreja Católica sob a informação na Idade Média, até a revolução da burguesia, com a mercantilização do ensino.

No Brasil, o início do ensino superior está atrelado a colonização portuguesa e ao modelo europeu de educação. O país passou por um período de desenvolvimento, o qual foi controlado durante a Ditadura Militar e retomou gradativamente a partir de 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Já em 1999, a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) adotou uma medida para o aperfeiçoamento de pós-graduandos no país, a fim de incentivar a formação docente, tornando obrigatório o Estágio Docência para bolsistas de mestrado e doutorado sob a supervisão de um docente. 

Qual é a universidade que queremos como futuros professores? 

Além das responsabilidades de pós-graduandos e professores, o compromisso da universidade também deve ser alvo de atenção. No mundo todo, ao analisar a trajetória do ensino superior, compreende-se que o principal papel da universidade é o acesso ao conhecimento. A universidade deve ser um espaço para a construção da dignidade humana a partir do ensino de qualidade. Contudo, a transmissão rápida do conhecimento e resultados na sociedade contemporânea, seja para a aprovação de alunos ou até mesmo métricas que avaliam o trabalho de educadores, podem atrapalhar o ensino de qualidade.

É preciso evidenciar que a tríade ensino, pesquisa e extensão devem ser a prioridade de profissionais e instituições de ensino. A universidade que jovens professores universitários devem buscar precisa priorizar as necessidades humanas para determinar os desafios da educação, transmitindo, reproduzindo e elaborando o conhecimento a partir do saber metódico, sistemático e científico. Ou seja, a relação entre aluno e professor deve sobressair aos apelos por produtividade. Espera-se que o professor seja um facilitador de alunos. Para isso, as instituições devem fornecer ao professor tempo de qualidade para focar na prática pedagógica. 

Pilares da universidade

Pilares da universidade: pesquisa, ensino e extensão. #ParaTodosVerem: a figura apresenta três colunas com as palavras “ensino”, “pesquisa” e extensão, essas colunas são a base para um triângulo que forma uma construção com a palavra “universidade”. Fonte

Como resultado do trabalho educacional, ao concluir a graduação, o novo profissional deve carregar o conhecimento técnico/metodológico, mas também deve ser transmitida a importância de compreender a realidade cotidiana para aplicação do conhecimento. Essa é a relação entre sociedade e universidade que profissionais e instituições podem seguir para formar pessoas com conhecimento e autonomia em suas profissões. 

Para isso, habilidades como utilização de dispositivos eletrônicos e tecnologias, dilemas éticos da docência, organização de situações de aprendizagens e didática são importantes para bons resultados na sala de aula. Esses aspectos devem receber importância juntamente ao domínio científico.

Dessa forma, durante a sua formação para a obtenção dos títulos de mestre e doutor, futuros professores universitários devem buscar conhecer mais sobre a história da universidade, o papel do ensino para o desenvolvimento dos alunos como humanos e profissionais e a importância de práticas pedagógicas nesse processo. A dedicação na pesquisa é extremamente importante para a construção do saber científico, mas para ENSINAR apenas o domínio dos conhecimentos específicos de cada área não é suficiente. É necessário abrangência no conhecimento, multidisciplinaridade e didática. Essa é uma via de mão dupla entre futuros professores e instituições de ensino responsáveis pela formação de pós-graduandos.

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Texto revisado por Bruna Cardias e Fabiano Abreu

Cite este artigo:
LACERDA, S. A carreira acadêmica além da pesquisa: o papel do docente. Revista Blog do Profissão Biotec, v. 11, 2024. Disponível em:<>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

ALVES, Larissa Roberta. Reflections on graduate professor training. Escola Anna Nery, v. 23. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2018-0366.
MARTINS, Antonio Carlos Pereira. Ensino superior no Brasil: da descoberta aos dias atuais. Acta Cirurgica Brasileira, [S.L.], v. 17, n. 3, p. 04-06, 2002. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0102-86502002000900001.
MINGUILI, Maria da Glória; CHAVES, Adriana Josefa Ferreira; FORESTI, Miriam Celi Pimentel Porto. Universidade Brasileira: visão histórica e papel social. In: PINHO, Sheila Zambello de. Oficinas de estudos pedagógicos: reflexões sobre a prática do ensino superior. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2008. Cap. 2. p. 9-31.
RAMPAZZO1, Lino; JOSLIN, Érica Barbosa. Identidade, História e Desafios da Universidade. Revista Ciência Contemporânea, [s. l], v. 1, n. 1, p. 75-87, 2017. Semestral.
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