“Tá na internet, deve ser verdade.” – essa é a máxima do tempo em que vivemos.
Na internet se encontra literalmente de tudo. É muito fácil o acesso a conteúdos de qualidade e, ao mesmo tempo, estão disponíveis conteúdos de fontes duvidosas e que são, na verdade, opiniões ou impressões pessoais a respeito de determinado fato científico. O problema é que esses dois lados não conversam com tanta facilidade e as fontes não são conferidas.
A velocidade de propagação de um boato ou de uma notícia sensacionalista é muito maior do que uma informação científica verdadeira.
Sabemos, também, que as pessoas num geral tendem a ter medo daquilo que não conhecem. É um mecanismo natural de defesa, algo intrínseco ao ser humano. O que acontece na prática é uma enxurrada de comentários anti-Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), vacinas e outras novidades biotecnológicas, pelo simples fato de ser algo, a princípio, desconhecido.
Como o biotecnologista lida com isso atualmente:
Não lida. Passa reto. Ou, então, vemos raramente biotecnologistas argumentando abertamente na internet e apresentando estudos ou fatos onde um esclarecimento maior é necessário. Grande parte dos biotecnologistas, por outro lado, compartilha a notícia (ou a opinião equívoca) dentro do seu círculo de colegas, onde conversam internamente sobre o absurdo que isso representa. Entre si, ficam pensando que está tudo errado e que o mundo não tem salvação.
Como deveria ser (8 dicas!):
Já falamos sobre a missão do biotecnologista, que é levar a ciência do laboratório para fora dele. Mas, na prática, o que você pode e deve fazer pela sobrevivência da biotecnologia na internet?
1- Sempre que possível, se exponha
Sempre que possível, mostre em círculos diferentes dos círculos científicos que você é biotecnologista. O objetivo disso é que as pessoas se acostumem a ver que cientistas são pessoas normais, não velhos de cabelos brancos e sanidade mental duvidável.
2- Acalme-se
O primeiro sentimento, ao ver uma opinião sem embasamento contrária à biotecnologia, pode ser raiva, você pode ficar incrédulo, ou sem paciência. Neste momento, lembre do que falamos no início: é natural o ser humano ter medo daquilo que não conhece. E é uma tarefa nossa espalhar pelo mundo o que é biotecnologia. Aquela pessoa não é culpada por pensar daquele jeito. Se, até agora, não houveram pesquisas concluindo que determinada inovação biotecnológica faz mal para os seres humanos, é você quem deve mostrar isso a ela – com calma, com atenção e com a propriedade que todos temos sobre o assunto.
3- Traduza a manchete
Uma manchete sensacionalista, como “Cientistas descobrem que x reduz o câncer de mama”, dificilmente significa exatamente o que está no título. Nós sabemos disso. Mas, para quem não é da área, é criada uma esperança, uma expectativa. Expectativa essa que obviamente não será cumprida, pois possivelmente o estudo da manchete era apenas uma pequena parcela de um estudo maior envolvendo o assunto. Passamos por mentirosos e incompetentes. Isso lhe agrada? Tenho certeza de que não. Então, sempre que possível, tenha o hábito de “traduzir” em linguagem acessível o que aquilo realmente quer dizer.
4- Estimule o pensamento crítico das pessoas
Se o problema é a divulgação de notícias cujas fontes não são conferidas e nem questionadas, então a solução é simples: incentive o pensamento crítico. Uma boa ilustração disso é este trecho de uma matéria da Galileu: “o número de americanos – o povo mais exposto a produtos transgênicos do planeta – que morreu, nos últimos 30 anos, em consequência direta e demonstrável de ter comido alimentos geneticamente modificados corresponde a, precisamente, zero. Por outro lado, 300 pessoas morreram afogadas em suas banheiras, nos EUA, em 2008. Mas ninguém fica com medo de tomar banho por causa disso.”. Vale a pena conferir o texto completo.
5- Tenha sempre links e fontes
Dê embasamento ao que você está falando. Adicione links para:
- Estudos originais (inglês), juntamente com:
- Matérias de revistas em português sobre o assunto,
- Organizações que regulam essas questões,
- Qualquer outra fonte confiável onde o conteúdo seja facilmente compreendido.
6- Uma certeza: eles também terão “embasamento”
Você tem links? Eles também terão links, não tenha dúvida disso. Questione também as origens dessas fontes. Se trata de um blog de opinião? Ou de um site tendencioso?
Tenha cuidado também com os sites de notícias falsas. A engrenagem das notícias falsas, no Brasil, é algo que toma proporções virais todos os dias. Ainda por cima, isso gera dinheiro aos proprietários do site, que ganham com o número de acessos aos anúncios veiculados. Assim, quanto mais sensacionalista a manchete, mais acessos atrai.
Sites famosos como o Catraca Livre e o Hypeness também estão entre a lista de 5 sites para não ler sobre ciência.
7- Coloque a pessoa em contato com ciência confiável
O nosso trabalho não é apenas desfazer velhas crenças e falsas notícias, mas também preencher o público com fontes confiáveis de conteúdo científico – acessíveis ao público. Confira alguns exemplos:
- Ted-Education [canal do Youtube, com legendas em português]
- Falaí Biotec [Facebook]
- Biotecnologia para todos [Facebook]
- Instante Biotec [canal do Youtube, em português]
- E, claro, o Profissão Biotec!
8- Respeito, acima de tudo
Se você perceber que a conversa não vai a lugar algum e que a pessoa permanece inflexível, é hora de parar. Se coloque disponível para conversar, sempre que a pessoa tiver outros questionamentos a respeito. Jamais desrespeite os outros ou encerre uma discussão com o argumento de que você é formado nisso, sua opinião vale mais e pronto. Algumas questões estão tão enraizadas na mente humana que é difícil varrê-las dali. Tenha a certeza de que o sopro leve de um vento, dia após dia, irá tratar de afastar a incompreensão.