Como saber se você está fazendo ciência ou pseudociência? Pode ser difícil falar. Alguns hábitos já estão tão enraizados que as pessoas apenas seguem o que acontece, pois “é assim que todo mundo faz”, “sempre foi assim”, ou então “se [alguém mais graduado] disse, então é verdade”.
Mas você, biotecnologista em início de carreira, tem a oportunidade de começar fazendo do jeito certo. Também aqueles que ainda cometem alguns erros, de forma não-intencional: nunca é tarde para admitir e corrigir.
“Science: it works, bitches!”
ISSO NÃO É CIÊNCIA.
Aposto que você já leu isso em alguma camiseta ou boton na universidade. Essa frase tem um tom de egocentrismo, como se a ciência sempre tivesse a resposta para aquilo que queremos.
O QUE É CIÊNCIA:
Se a ciência tivesse a resposta para todas as nossas perguntas, nós do Profissão Biotec não estaríamos aqui. Se tudo já estivesse pronto e descoberto, não haveria razão para tantos cursos de Biotecnologia no Brasil e no exterior pois não haveria o que ser estudado. A verdade é que muitos projetos não dão certo na vida real. Ou então somos nós que não sabemos fazer a pergunta certa para nortear uma pesquisa. Em resumo: para funcionar, de verdade, a ciência exige muita persistência e coragem.
Mudar definições quando há o surgimento de novas evidências
ISSO É CIÊNCIA.
Fazer ciência de verdade é sempre tentar provar que determinada hipótese está errada. Se isso não puder ser provado errado, é porque é verdade. A ciência é sensível e flexível a novas evidências.
A exemplo de Lamarck, com a lei do uso e desuso, e os posteriores trabalhos de Darwin, demonstrando a ocorrência de evolução via seleção natural. Até Aristótoles esteve errado: defendia o princípio da geração espontânea ou abiogênese, que perdurou até meados de 1600, até os experimentos do médico italiano Francesco Redi. Redi demonstrou que vermes não surgiam espontaneamente a partir de cadáveres em decomposição. Em 1860, a abiogênese caiu de vez, com os experimentos de Pasteur. Isso é ciência.
Pesquisar com foco no resultado que você deseja
ISSO NÃO É CIÊNCIA.
A pesquisa e a metodologia científica possuem etapas lógicas que devem ser respeitadas. Procurar pelo resultado que você quer é o mesmo que colocar a carroça na frente dos bois.
O QUE É CIÊNCIA:
Pesquisar tendo em vista a pergunta do problema identificado. A ciência se faz para testar hipóteses, não para encontrar um “final feliz” para o projeto dos seus sonhos. Sabemos que o apego ao objetivo da pesquisa pode ser tão grande que o projeto é até tratado como filho por alguns cientistas. Porém, não deixe que esse encantamento deixe você cego. Não foque em contar uma história bonita. Foque em contar uma história verdadeira.
Trabalho em pequenos grupos ou individualmente
ISSO NÃO É CIÊNCIA… ou será que é?
Uma pessoa, sozinha, pode desenvolver um trabalho ético e correto. No entanto, a ciência tem o seu potencial melhor utilizado se funcionar na forma de redes. As redes científicas pulsam e dão vida a esse universo. Quando mais multidisciplinar a equipe de trabalho, mais contribuições de diferentes pontos de vista e de diferentes áreas para construir o conhecimento. O resultado: um trabalho infinitamente mais rico. Ninguém vai longe sozinho.
O QUE É CIÊNCIA:
Usar em benefício da sua pesquisa o poder que está escondido no “et al.” (ou “e colaboradores”). Não se deve colocar nomes que não se envolveram no trabalho em co-autoria de artigos, por etiqueta ou educação. Reconheça quem realmente deu o seu sangue e o seu conhecimento por aquilo, assim como você.
Mas, acima de tudo: abandone o ego e a vontade de ser alguém famoso sozinho. Esqueça isso. Não se negue a fazer trabalhos em colaboração com outros times, por mero sentimento de “competição”, por fama e por vontade de chegar lá na frente primeiro. Esqueça!
Ciência é repetição
ISSO É CIÊNCIA.
Todos os resultados experimentais devem/podem ser reproduzidos e verificados por qualquer pessoa. Se um resultado não é reprodutível, então ele é fruto do acaso, é um resultado aleatório, sobre o qual não pode ser construído conhecimento.
(planejar + montar experimento + conduzir experimento + análise)n. É assim que funciona. O resultado deve ser reprodutível mesmo quando um colega seu de trabalho conduzir o experimento do início ao fim, ou se um grupo de pesquisadores japoneses se interessar em pesquisar com base no seu resultado.
E não tem essa se “escolher o experimento mais bonito” para incluir na redação do seu trabalho. Um resultado consistente é a média de vários experimentos sob as mesmas condições, submetido à análise estatística adequada que dirá se é um resultado significativo ou não.
Agora que sabemos distinguir o que é ciência e o que é pseudociência, só nos resta seguir trabalhando para garantir a construção de uma biotecnologia correta, de acordo com os alicerces da ciência.
Gostei! 🙂
Olá! Legal que tenha gostado!
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