Biotecnologia Marinha: Tratamentos revolucionários a um mergulho de distância

Os oceanos constituem a maior porção da superfície do planeta Terra, ocupando cerca de 70% da sua extensão. De toda essa grande “massa”, pouco se sabe acerca dos ecossistemas, apesar das estimativas de que correspondem a 80% da vida na terra, principalmente no que diz respeito ao que pode ser utilizado (desde plantas e animais a metabólitos) para fins biotecnológicos.

Diante da vasta fonte de material, iniciativas públicas e privadas foram criadas para que haja o estudo e posterior aplicação de componentes do ecossistema marinho para a geração de um bem e/ou serviço para a sociedade, o que caracteriza a biotecnologia marinha.

Diversos produtos e serviços já possuem aplicação comercial ou potencial para os próximos anos, como drogas antivirais e anticâncer, identificação de estresse ecológico, diagnóstico de doenças em animais marinhos e mapeamento de espécies, por exemplo.

No Brasil, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) coordena a Ação Biotecnologia Marinha (BIOMAR). Esta tem como objetivo possibilitar o aproveitamento sustentável dos organismos marinhos, com foco na obtenção de conhecimentos, tecnologias e promoção da inovação em diversas áreas, incluindo a saúde humana.

Grupos de universidades brasileiras também atuam nesta área, como por exemplo um grupo da Universidade Federal Fluminense (UFF) que desenvolve pesquisa com um produto isolado de alga parda marinha com potencial antirretroviral, como mostra a figura abaixo.

Pesquisa com produto natural isolado da alga Dictyota pfaffii no Atol das Rocas pelo grupo “Biotecnologia Marinha” da UFF. Retirado de “Caracterização do Estado da Arte em Biotecnologia Marinha no Brasil”. Brasil, 2010.

A nível de iniciativa privada, temos o exemplo da Pharmamar, voltada para a pesquisa e desenvolvimento de drogas antitumorais a partir de organismos marinhos. A empresa pertence ao grupo de cunho biotecnológico Zeltia e foi fundada em 1986. O seu primeiro produto, Yondelis, é baseado na trabectadina, isolada de colônias de Ecteinascidia turbinata, e pode ser utilizado para sarcoma de tecidos moles e câncer de ovários. Informações acerca de método de ação, posologia, segurança e eficácia podem ser encontradas neste link.

Segundo a empresa, o programa de desenvolvimento de novos fármacos de origem marinha é multifásico. Inicialmente são reunidas amostras dos organismos (sobretudo invertebrados), seguida de avaliação da atividade antitumoral, isolamento da substância responsável, determinação de estrutura e síntese química. Por fim, a droga recém-sintetizada é testada em modelos animais e humanos.

Como resultado da  iniciativa, a empresa dispõe atualmente de um banco com cerca de 200 mil amostras e um portfólio de produtos em diferentes estágios de desenvolvimento, descritos abaixo:

  • Plitidepsina

Obtida a partir de Aplidium albicans, atua promovendo a morte de células tumorais a partir da indução da apoptose. O medicamento está na fase III de desenvolvimento para mieloma múltiplo e fase IIb para o tratamento de linfoma de células T.

  • Lurbinectedina

Inibe a RNA polimerase II, uma enzima altamente expressa em células tumorais, cuja função consiste no processo de transcrição celular, o que reduz a expressão de certos fatores envolvidos na evolução tumoral. O estudo está em fase III para o tratamento de tumores sólidos, câncer de ovários e de pulmão de células pequenas, e em fase II para câncer de mama.

  • PM184

Derivada de esponjas Lithoplocamia lithistoides, é inibidor de microtúbulos, importantes para o processo de divisão celular, inibindo por conseguinte a proliferação das células. Está em fase II de desenvolvimento para câncer de mama avançado e em fase I para tumores sólidos.  

A expectativa para os próximos anos é que os estudos sejam finalizados e os produtos passem a ser comercializados em todo o mundo. Além disso espera-se que, de forma geral, se tenha um avanço na prospecção de produtos bioativos não só para a área oncológica, mas também para o tratamento de infecções e outras patologias.

E você, o que achou da possibilidade de “pescarmos” novos fármacos? Parece que a biotecnologia marinha está prestes a nos mostrar que há muito mais do que Bob Esponja calça quadrada no fundo do mar, não é mesmo ? Comente abaixo e não esqueça de compartilhar!

REFERÊNCIAS

Brasil. Ação Biotecnologia Marinha (BIOMAR) – Marinha do Brasil. Acesse aqui.

Brasil. Caracterização do Estado da Arte em Biotecnologia Marinha no Brasil. Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde, Ministério da Ciência e Tecnologia. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Acesse aqui.

Pipeline oncológico da Pharmamar. Acesse aqui.

Sobre a Pharmamar. Acesse aqui.

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