E se as construções pudessem se “curar” sozinhas?

Já imaginou se você não precisasse mais se preocupar com aquelas rachaduras e buracos que existem na parede do seu quarto, sala ou qualquer cômodo da sua casa? No texto de hoje, a gente mostra para vocês como a biotecnologia tem se inserido até no ramo da construção, trazendo grandes melhorias que tendem a avançar ainda mais pelo mundo.

O concreto é um dos materiais de construção mais utilizados e tem uma alta tendência a formar fissuras, que levam a uma redução significativa na vida útil e altos custos de substituição. Embora não seja possível evitar a formação delas, existem vários tipos de técnicas para curar as rachaduras, como a aplicação de produtos químicos e polímeros, por exemplo. Entretanto, esses materiais apresentam riscos à saúde e ao meio ambiente e não são definitivos no fechamento das fendas.

Por isso, produtos sustentáveis ​​e duradouros estão em alta demanda na construção. A biotecnologia pode oferecer soluções para essas exigências e um dos exemplos disso envolve uma forma de “autocura microbiana”, que se diferencia dos demais produtos existentes pelo seu potencial duradouro, rápido, efetivo e sustentável para a reparação de fendas.

Seguindo essa linha de raciocínio, o microbiologista alemão Henk Jonkers começou a perceber o quanto a comunidade europeia investia nas correções de fissuras nas construções feitas a partir de concreto e, juntamente com outros pesquisadores da Universidade Técnica de Delft, na Holanda, Henk desenvolveu o bioconcreto, também conhecido como concreto vivo, um material capaz de regenerar construções desgastadas.

Andamento do processo de fechamento das fissuras.

Jonkers e sua equipe estudaram a bactéria Bacillus pseudofirmus, que é um bacilo que vive em ambientes extremamente inóspitos, como crateras de vulcões em atividade ou lugares com pH acima de 10,0. Por ser capaz de sobreviver em tais locais, perceberam que a bactéria seria capaz de permanecer viva se fosse misturada ao concreto, criando assim o bioconcreto.

Colônias de Bacillus pseudofirmus  são adicionadas ao concreto para que possa reparar os danos existentes no material, funcionando da seguinte maneira: inicialmente, as bactérias estão encapsuladas, “dormindo”, e são “despertadas” quando entram em contato com água. Após isso, se alimentam do lactato de cálcio, que foi utilizado na produção do concreto, e da água que o estimulou. Então, a bactéria origina o calcário como produto da digestão, após consumir tais elementos e, em até três semanas, é capaz de fechar as fissuras previamente abertas.

Um fator limitante para essa invenção é que as bactérias utilizadas só são capazes de reparar rachaduras de espessura de até 8 milímetros, mas ainda assim a descoberta de Henk permite economizar bilhões de dólares na manutenção de estruturas como paredes de edifícios, pontes ou barragens, o que é de grande interesse dos governos e da população geral. Outro ponto positivo é que a bactéria Bacillus pseudofirmus é capaz de sobreviver até 200 anos no concreto.

Como se não bastasse, além do bioconcreto, Henk e sua equipe criaram também um líquido que pode ser aplicado diretamente sobre paredes que foram fabricadas com concreto tradicional, sendo possível reparar fissuras já existentes ou proteger a edificação de forma prática e rápida.

Antes e depois da ação do bioconcreto.

A invenção é altamente inovadora e rendeu a Jonkers o prêmio de melhor inventor europeu de 2015 pela Universidade Técnica de Delft. Entretanto, apesar de seus inúmeros pontos positivos, por ser um assunto tão sério, o bioconcreto ainda não é utilizado em larga escala. Por enquanto, ele está começando a ser introduzido na Europa com preços em média 40% superiores ao do concreto convencional, sendo necessário um barateamento em seu processo de fabricação para que ocorra total adesão das obras do mundo e para que esse material biotecnológico se firme no mercado.

Se ficou curioso e tem interesse em saber um pouco mais sobre esse assunto, clique aqui (em inglês), confira nosso texto sobre biomateriais de fungos, e conte para a gente o que você achou dessas invenções.

Referências:

http://pet.ecv.ufsc.br/2016/10/bioconcreto-o-concreto-que-ganhou-vida/

http://www.bbc.com/portuguese/geral-37204389

https://link.springer.com/article/10.1007/s00253-016-7316-z

http://www.raeng.org.uk/publications/other/bioconcrete-a-novel-bio-based-material

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