Quem está familiarizado com a publicação do resultado de pesquisas científicas em revistas de alto impacto sabe: as editoras que administram as revistas mais bem conceituadas cobram uma taxa para que o artigo possa ser lido. Essa taxa pode chegar a cerca de 30 dólares por artigo. Para ter acesso às pesquisas mais recentes numa determinada área, as universidades acabam pagando pela assinatura desses periódicos. E como as universidades são as principais financiadoras das pesquisas científicas (na maior parte das vezes com dinheiro público), elas acabam pagando duas vezes para se obter a pesquisa produzida dentro do instituto: para produzir e para ler.
Para mudar esse cenário, no mês passado, 12 agências europeias de fomento a pesquisa juntamente com a Comissão Europeia (principal órgão de fomento à pesquisa da União Europeia) lançaram um plano radical: a partir de 2020 as pesquisas que receberam ou irão receber financiamento de pesquisas por essas agências deverão publicar somente em revistas com a modalidade “open access” (acesso aberto). Dessa forma, quem tiver interesse em saber mais sobre as pesquisas não vai mais precisar pagar para acessar o conteúdo dos artigos.
Além da justificativa de que a ciência deve estar disponível para todos, as agências alegam que os preços cobrados pelas editoras científicas pelo acesso a artigos por universidades chega a valores impraticáveis que acabam fragilizando o orçamento das mesmas.
No entanto, publicar em revistas de acesso aberto não acabará com o problema dos órgãos públicos pagarem duas vezes pela mesma pesquisa (para produzir e para ler): a maioria das revistas conceituadas de acesso aberto cobram uma taxa que pode variar de 1000 a 6000 dólares por artigo publicado. Ou seja, as universidades não pagarão para ler os artigos, mas pagarão caríssimo para publicar. E as mesmas taxas são aplicadas às pesquisas brasileiras que querem ser publicadas em revistas internacionais relevantes no cenário científico! Serão necessárias outras medidas para reformulação do sistema de publicação de artigos científicos para que as agências de fomento de pesquisa não precisem gastar quantias exorbitantes para que as pesquisas financiadas por elas cheguem ao alcance da comunidade científica e da população.