O que o instituto de pesquisa brasileiro Butantan e a farmacêutica americana Merck Sharp & Dohme (MSD) tem em comum? Ambos estão desenvolvendo uma vacina contra a dengue e assinaram nessa semana um acordo para colaboração tecnológica e em pesquisa clínica, para a troca de informações sobre processos produtivos e ensaios clínicos de suas vacinas experimentais, objetivando a aceleração do desenvolvimento da vacina.
As duas instituições estão em diferentes estágios de desenvolvimento das vacinas. A brasileira, desenvolvida no Instituto Butantan, já está na última fase de testes em humanos, com a participação de 17mil voluntários. A desenvolvida pela MSD está na primeira fase de ensaios clínicos, sendo avaliada em um pequeno grupo de pessoas.
“O acordo mostra que o Butantan atingiu um nível de excelência internacional no desenvolvimento de vacinas de interesse global. Com novos aportes financeiros, poderemos investir ainda mais em produção de vacinas e em pesquisa”, disse Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan para a Agência Fapesp.
Na primeira etapa do acordo, o Instituto Butantan receberá inicialmente US$ 26 milhões da MSD, podendo receber mais US$ 75 milhões a medida que os projetos evoluam. Neste acordo, o Butantan compartilhará com a MSD às informações sobre os ensaios clínicos até que ambas instituições cheguem a um nivelamento, mesmo que as duas cheguem a produzir suas vacinas.
“O acordo permitirá ao Butantan também acelerar os estudos clínicos de sua vacina contra dengue e introduzir parte de seu know how na vacina que a MSD comercializará no exterior, recebendo royalties sobre as vendas”, disse Fábio de Carvalho Groff, gestor do Núcleo de Inovação Tecnológica do Instituto Butantan, à Agência FAPESP.
Em relação às patentes e ao licenciamento das vacinas, o acordo prevê que a patente da vacina brasileira será licenciada para a MSD e, caso a americana obtenha patentes sobre sua tecnologia, o Butantan terá acesso gratuito a elas. Além disso, a MSD não poderá comercializar no Brasil a vacina que vier a desenvolver e pagará ao Butantan royalties sobre as vendas dela no exterior.
Ambas as vacinas em desenvolvimento são baseadas em cepas dos quatro sorotipos do vírus da dengue modificadas por pesquisadores de centros de pesquisa do National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos. Essas cepas de vírus são atenuadas, ou seja, não são capazes de provocar a doença, mas são eficientes para estimular o sistema imunológico para que forneça proteção na forma de anticorpos e células de memória.
Se tudo der certo nos testes clínicos, nos próximos anos teremos vacinas contra a dengue desenvolvida com tecnologia brasileira.
Saiba mais sobre o acordo e a vacina no site da Agência Fapesp.