Ao longo dos anos, os avanços biotecnológicos permitiram o desenvolvimento de vacinas cada vez mais seguras e eficientes. Vacinas são uma importante estratégia de prevenção de diversas doenças, pois estimulam o nosso sistema imunológico a produzir anticorpos (proteínas que atuam na defesa do nosso organismo) contra determinados antígenos (vírus e bactérias, por exemplo), impedindo assim que possamos contrair essas enfermidades.
Contudo, nos últimos anos também surgiu o conceito de vacinas terapêuticas. As vacinas terapêuticas não são estratégias de prevenção, mas sim de tratamento, uma vez que visam reverter um problema já existente. Essas vacinas podem reverter situações nas quais o sistema imunológico do indivíduo é incapaz de gerar uma resposta imunológica adequada, ou seja, a vacina terapêutica trataria uma doença já ativa. Esse tipo de tratamento seria eficaz para doenças que já “nascem” com o indivíduo, como é o caso das doenças que envolvem intolerância imunológica, como a doença celíaca.
O que é doença celíaca?
A doença celíaca é uma doença autoimune. Nos indivíduos celíacos, a ingestão do glúten (presente no trigo, centeio e cevada) induz uma inflamação crônica do intestino delgado que prejudica a absorção de nutrientes dos alimentos, além de outros diversos sintomas indesejáveis. Isso ocorre porque entre 80-90% desses indivíduos são portadores do gene que codifica a proteína HLA-DQ2.5, responsável por expor fragmentos do glúten às células do sistema imune, gerando uma resposta imunológica exacerbada a um nutriente que seria inofensivo.
Atualmente não há tratamento disponível para essa doença, sendo recomendado apenas que os pacientes evitem o consumo de alimentos com glúten, o que é muito difícil – uma vez que o glúten está presente em inúmeros alimentos a base de trigo e aveia – e torna a dieta muito restrita. Dessa forma, o desenvolvimento de uma vacina terapêutica seria uma esperança para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos portadores dessa doença.
Mas será que essa vacina é possível?
Recentemente, iniciou-se a segunda fase de estudos do Nexvax2, uma vacina terapêutica capaz de modular o sistema imunológico, permitindo que os portadores de doença celíaca possam consumir o glúten com segurança. O Nexvax2 reprograma as células T para que elas tolerem e não reajam quando expostas ao glúten. A primeira fase de testes foi realizada em Melbourne, na Austrália, com 38 indivíduos celíacos e comprovou que a vacina é segura. Agora, após uma década de pesquisas, a segunda fase de testes será realizada com 150 pacientes celíacos, nos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, e avaliará quais as doses necessárias para reprogramar as células T de forma eficaz.
Dessa forma, os pesquisadores esperam que, após os testes, os pacientes sejam capazes de consumir o glúten em pequenas quantidades ou até mesmo livremente sem gerar resposta inadequada do sistema imunológico. “Este estudo foi concebido para demonstrar proteção contra a exposição inadvertida ao glúten, mas o objetivo final é desenvolver o Nexvax2 como um tratamento que permitirá aos pacientes retornar a uma dieta irrestrita” informou Leslie Williams, CEO da ImmusanT, empresa responsável pelo desenvolvimento da vacina. Para a empresa, o Nexvax2 poderá ser utilizado pela maioria dos pacientes celíacos, uma vez que a sensibilidade ao glúten mediada pela proteína HLA-DQ2.5 é a causa mais comum da doença.
Os resultados dessas pesquisas podem proporcionar uma significativa melhora da qualidade de vida dos pacientes celíacos, pois atualmente não há um medicamento disponível para tratar a doença. “A dieta sem glúten é o único tratamento atual para a doença celíaca, mas é onerosa, complexa e nem sempre eficaz. Mesmo os pacientes mais diligentes podem sofrer os efeitos adversos da exposição acidental”, afirmou Jason Tye-Din gastroenterologista e coordenador do estudo com Nexvax2.
O desenvolvimento de vacinas terapêuticas, como o Nexvax2, é mais um exemplo de como a Biotecnologia contribui positivamente para o bem estar e a saúde da população. Em um futuro próximo, essa nova vacina pode se tornar uma esperança para os portadores de doença celíaca, que são 1% da população mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Você conhece algum portador de doença celíaca? Ficou interessado no assunto? Compartilhe nosso texto para que mais pessoas conheçam esse avanço biotecnológico que promete mudar a vida de muitas pessoas!!