Cobertura: IX Congresso Brasileiro de Prospecção Tecnológica e Inovação

Quer saber mais sobre prospecção tecnológica e propriedade intelectual, para o quê serve e como está o cenário brasileiro? Confira aqui no Profissão Biotec a cobertura do IX Congresso Brasileiro de Prospecção Tecnológica e Inovação!

Discutir estratégias para inovação, transferência tecnológica, o novo marco legal de Ciência e Tecnologia (C&T), como melhorar os indicadores de inovação do Brasil, plataformas de integração de instituições… Essas foram algumas das provocações feitas durante o IX ProspeCT&I – III Congresso Internacional do PROFNIT, realizado de 23 à 26 de Outubro de 2019 na Câmara Legislativa do Distrito Federal, em Brasília. 

O evento foi realizado pelo ponto focal do Programa de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Transferência Tecnológica para a Inovação (PROFNIT) vinculado à Universidade de Brasília (UnB) e teve como objetivo debater os principais desafios na implementação e execução de políticas voltadas para Propriedade Intelectual (PI), Transferência Tecnológica (TT) e Inovação, além de compartilhar cases de sucessos e formar conexões entre os principais atuantes da área. 

Foram reunidos alunos da pós-graduação, gestores de núcleos de inovação tecnológica (NITs), representantes de escritórios de patentes, representantes do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), entre outros interessados em debater políticas públicas e ferramentas de gestão de PI.

Auditório principal da Câmara Legislativa do DF antes da Abertura. Fonte: Comissão organizadora

Aqui no Profissão Biotec o tema já foi citado em algumas publicações, porém no nosso dia a dia essa assunto ainda não é muito abordado. 

Se você perguntar a algum parente, amigo, professor, muitos deles não vão saber te explicar o que é propriedade intelectual, muito menos como funciona. Até se você perguntar para um estudante de direito, provavelmente ele não vai saber te explicar como utilizar esse instrumento para proteção de conhecimento. Essa falta de visibilidade que me motivou a cobrir o evento. 

O evento foi dividido em 5 grandes partes: 

  • Abertura e Diálogo Magno – apresentação do funcionamento do congresso e o aquecimento das discussões dos próximos dias. 
  • Painéis Temáticos –  palestras muito mais focados em estimular discussões entre os convidados e a plateia do que em expor algum assunto;
  • Apresentações Orais – apresentações de pesquisas em vários níveis de progresso, em formato de pitch com slides, para uma banca avaliadora formada por 2 ou 3 especialistas no assunto para selecionar os melhores trabalhos (além da plateia).
  • Apresentação de Pôster – vários banners expostos em um local onde tanto os participantes quanto as bancas avaliadoras se revezavam para analisar e selecionar as melhores pesquisas submetidas, além dos participantes terem a oportunidade de interagir e conversar entre si. 
  • Oficinas Mão na Massa – como o próprio nome diz, foram workshops bem interativos, nos quais o objetivo final era que o participante saísse com as ferramentas necessárias para tirar projetos do papel e levar soluções para suas respectivas regiões.

ABERTURA E DIÁLOGO MAGNO 

Sob coordenação do Pró Reitor do PROFNIT/FORTEC da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Josealdo Tonholo, o Diálogo Magno começou sobre a temática Cenários da Política de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Consolidação de Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) e Setores Estratégicos – Experiências Internacionais”.  Nessa palestra falou sobre os desafios do Brasil na área de PI e TT, além de expor boas práticas adotadas por outros países, particularmente sobre a experiência dele na China – que em menos de 10 anos duplicou significativamente a produção de patentes e a transferência de tecnologias. Segundo o Pró-Reitor, esse resultado só foi possível por causa da Política de Inovação de médio e longo prazo estipulada pelo governo chinês. 

O que o Brasil precisa para atingir o mesmo patamar? Fica o questionamento. 

Acompanhado pelo Pró-reitor, também ocorreu a apresentação do Prof.  Araken Alves de Lima (PROFNIT; INPI) sobre “Como aumentar o impacto econômico das Políticas de Inovação, integrando as ferramentas de PI, TT e Prospecção?”,  ressaltando a importância desses elementos para o aumento da produtividade da indústria nacional. 

Mesa de abertura. fonte: Comissão Organizadora

E, para finalizar, ocorreu a participação especial da Prof. Dra Cristina M. Quintella (Coordenadora Acadêmica Nacional do PROFNIT), fazendo uma retrospectiva desde A nova Teoria do Desenvolvimento, na qual a inovação é o motor da competitividade e do desenvolvimento sustentável, passando pelas Estratégias Nacionais – tanto de CT&I quanto de PI -, até os frutos do PROFNIT. Quem quiser conferir, pode dar uma olhada na apresentação aqui.

PAINÉIS TEMÁTICOS

Os painéis temáticos funcionaram da seguinte forma: cada convidado – geralmente quatro convidados por painel – apresentavam suas pesquisas, cases e experiências, depois abria-se para algumas perguntas e interações com o público ouvinte e eram finalizados pelo coordenador do painel. Diferente de alguns eventos, todos os painéis ocorreram simultaneamente às apresentações orais e oficinas “Mão na Massa”. Ao longo dos três dias do evento, ocorreram oito painéis com os seguintes temas:

  • Estratégia Nacional de Propriedade Intelectual;
  • Política de Inovação das Instituições de Pesquisa Científica e Tecnológica (ICTs) e Desenvolvimento Regional;
  • Alianças estratégicas, Captação de Recursos e Avaliação;
  • Política e Gestão Regional da inovação e da transferência de tecnologia – I;
  • Política e Gestão Regional da inovação e da transferência de tecnologia – II;
  • Tecnologias Sociais, conhecimentos tradicionais e indústria criativa;
  • Direitos autorais;
  • Plataforma Digital para NIT (PI e TT): Como criar uma plataforma de PI,TT e Prospecção para os NITs;
  • Gestão de plataformas tecnológicas e HUBs de Inovação para consolidar a tripla hélice;

Ficou interessado em algum? Quase todas as apresentações foram disponibilizadas no site do evento, que pode ser acessado por aqui. E era cada insight mais incrível que o outro, que se eu fosse escrever sobre cada painel, precisaria de no mínimo uma publicação para cada um! 

Painel Temático: Plataforma Digital para NIT (PI e TT): Como criar uma plataforma de PI, TT e Prospecção para os NITs. Fonte: Comissão organizadora.

O grande senso comum que ficou evidente em todos os painéis foi de como as estratégias de PI e TT refletem muito a cultura e a percepção das instituições que as executam. 

Eu imagino que vocês devem estar se perguntando o que que eu quis dizer com isso, mas fazendo um breve apanhado da situação, resumidamente para a inovação acontecer são necessários 3 grandes atores – governo, academia e indústria -, que comumente são chamados de tripla hélice da inovação. A forma como a academia científica (majoritariamente universidades públicas) enxerga essa relação – seja positiva ou negativamente –  com o governo e principalmente com a indústria, afeta diretamente o índice de inovação da mesma (nº de patentes, startups, parcerias, contratos de transferência tecnológica, etc). 

Obviamente, existem inúmeros fatores socioeconômicos e históricos por trás disso – não dá para comparar a produção das universidades de São Paulo com as da região Norte do país, por exemplo -, mas ficou muito perceptível como a aceitação da comunidade acadêmica é determinante para estruturar e executar a própria política de inovação. 

Um grande exemplo perceptível disso – que inclusive foi citado durante o evento – é comparar os indicadores de inovação de uma instituição que tem pesquisadores Smeagols em relação a uma com pesquisadores mais colaborativo/abertos. 

Quem é o pesquisador Smeagol? É aquele que não deixa ninguém usar o equipamento dele, causa atrito no departamento, tem uma certa aversão em quem pensa um pouco diferente e frequentemente tem pouco interesse em parcerias que fogem do seu habitat natural. Se duvidar, quando ele entra de férias, ainda leva a chave do laboratório!   Geralmente onde tem um, tem vários por perto e eles tem certo suporte institucional para fazer essas “picuinhas” (boas publicações e bastante ego). Frequentemente, mesmo que as instituições onde eles estejam alocados tenham uma boa produção de patentes, elas têm dificuldade em transferir para indústria justamente por essas barreiras culturais/institucionais em compartilhar tanto dentro quanto fora do meio acadêmico. 

Já o pesquisador colaborativo consegue ver um pouco além das produções científicas e acredita que talvez a melhor solução para que esse produto/serviço chegue à sociedade seja através de uma empresa (muitas vezes fundadas por eles mesmo). E ele não só progride, como também contagia quem está perto. É quase um efeito cascata. Depois do primeiro, vão surgindo outros pesquisadores que também pensam assim. A partir disso, é questão de tempo que essas mudanças de paradigmas afetem a política institucional. Afinal, não dá para reprimir inúmeros professores que querem fazer parcerias com a indústria, e as consequências disso são perceptíveis devido ao  aumento de startups incubadas, alunos empregados, patentes, contratos de transferência, etc. 

Nesse cenário é muito mais fácil as empresas se aproximarem das universidades e o governo tomar medidas para facilitar ainda mais essa relação, fortalecendo a tripla-hélice para a inovação

Felizmente, o pesquisador Smeagol é uma espécie em extinção devido à sua incapacidade de se adaptar à mudança, permitindo que cada vez mais as instituições brasileiras subam nos rankings de inovação e produção tecnológica. 

APRESENTAÇÕES ORAIS

As apresentações foram avaliadas por comissões de 2 a 3 especialistas no assunto e foram divididas em 18 sessões:

  • Empreendedorismo;
  • Inovação tecnológica;
  • Tecnologias sociais;
  • Gestão e Políticas públicas; 
  • Transferência tecnológica;
  • Indicação Geográfica;
  • Propriedade intelectual
  • Inteligência Artificial;
  • Dez (10) tipos de sessões sobre Prospecção (!!): Software; Desenvolvimento sustentável; Alimentos; Bebidas; Propriedade intelectual; Análise de dados; Saúde; Biologia; Química; Transporte. 
Sessão Gestão e Políticas Públicas. Fonte: Comissão Organizadora

Muitas categorias, hein?! Isso reforçou a ideia de que a prospecção tecnológica em bancos de dados de patentes passa por todas as áreas do conhecimento e pode direcionar melhor linhas de pesquisas inovadoras (diminuindo custos em não refazer coisas já validadas – como “reinventar a roda” –) e políticas voltadas para a inovação (onde é preciso melhor, etc). 

Prospecção tecnológica deveria ser uma atitude padrão de qualquer pesquisador para focar onde realmente vale a pena investir tempo e dinheiro. 

APRESENTAÇÕES DE PÔSTER 

Os pôsteres foram avaliados por duas ou três especialistas responsáveis por selecionar os melhores para premiação, e foi um ótimo momento para fazer network e conhecer o trabalho de outros pontos focais do programa. Havia mais ou menos 30 trabalhos expostos, separados por vários temas. E tinha coffee-break!! (\o/////) 

OFICINAS MÃO NA MASSA

Foram oferecidas 4 oficinas: 

  • Apresentação Sistema de Gestão Acadêmico e treinamento;
  • Economia Circular;
  • Roadmap tecnológico;
  • Inovação em modelo de negócios.

Entre elas, pude acompanhar a de Inovação em modelos de Negócios, onde foram apresentadas metodologias para validação de ideias, fundos de financiamento públicos e como utilizar a infraestrutura dos NIT’s e Universidades para pivotar essas ideias. O foco principal foi tirar do papel os produtos tecnológicos gerados pelos trabalhos do PROFNIT. 

Oficina Mão na Massa: Inovação em Modelos de Negócio. Fonte: comissão Organizadora

O evento foi encerrado com a premiação dos melhores trabalhos e com o lançamento de volumes das série de livros:

  • Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual (PI), 
  • Prospecção Tecnológica (PROSP), 
  • Políticas Públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação e o Estado Brasileiro (POL)
  • Metodologia da Pesquisa Científico-Tecnológica e Inovação (MET)
  • Conceitos e Aplicações de Transferência de Tecnologia (TT)
  • Estudos de Caso.

Todos podem ser baixados pela página do PROFNIT nesse link.

Ficou interessado em participar? O Congresso é anual e já foi realizado em Salvador – BA, Rio de Janeiro – RJ, Florianópolis – SC, Maceió – AL e esse ano em Brasília – DF. O local do ano que vem ainda não está definido, mas você pode acompanhar no próprio site

Converse com o seu orientador sobre prospecção tecnológica! Quem sabe ano que vem seja você submetendo algum trabalho, hein?! 

Até a próxima!


Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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