Biotecnologia para gateiros! Venha conferir o que o DNA dos nossos mascotes felinos revela sobre eles! (Antes, claro, faça um carinho no seu gato)

Os gatos domésticos (Felis silvestris catus) são muito populares e acho que todo mundo conhece pelo menos uma pessoa que tenha um bichano como fiel escudeiro. Apesar de alguns humanos insistirem que eles são traiçoeiros e “só gostam da casa, não do dono” (dê uma lidinha aqui, meu anjo), gateiros e gateiras têm se esforçado para extinguir essas calúnias contra os bichinhos – eles são seres cheios de amor para dar e receber!

Além disso, os gatos são interessantes em vários aspectos. Por exemplo, a língua deles é áspera (leia mais aqui), cheia de “espinhos” que ajudam na limpeza dos pêlos quando eles “tomam banho” (ou seja, se lambem). E você já pegou algum gatinho de boca aberta depois de cheirar alguma coisa? Isso se deve ao órgão de Jacobson, localizado no céu da boca desses animais, que potencializa o olfato (leia mais aqui). Mas as curiosidades não param por aí!

Nessa imagem é possível observar os “espinhos” na língua e o órgão de Jacobson, uma bolinha logo abaixo da fileira de dentes frontais superiores. Fonte: Pixabay/skeeze

Além das peculiaridades anatomofisiológicas, o DNA dos gatos e de outros felinos está recheado de informações reveladoras. E isso tanto do ponto de vista evolutivo, quanto comportamental e também, claro, em relação às variadas pelagens que podem apresentar.

Era uma vez… História evolutiva e comportamental dos gatos contados pelo DNA

O mapa cromossômico dos gatos domésticos foi apresentado em 1982, revelando não só ligações e arranjos de cromossomos e de genes, mas também mostrando que muitas dessas informações são conservadas entre gatos e humanos. Anos mais tarde, em 2007, se iniciou o Projeto Genoma de Gatos, liderado pelo NIH (National Institutes of Health).

Com os genomas de humanos e gatos em mãos, foi possível constatar que nós compartilhamos 90% dos genes com uma raça de gato doméstico, o gato abissínio. Obviamente, quando se trata de dos felinos de grande porte, a semelhança é ainda maior. Um estudo mostrou que o genoma do tigre tem 95,6% de similaridade com o dos nossos gatinhos de casa – maior do que nossa similaridade com os gorilas, que é de 94,8%.

Mapa cromossômico do gato doméstico (2N=38). Fonte: O’BRIEN & NASH, 1982

O estudo aprofundado do DNA de felinos foi, ainda, capaz de esclarecer diferenças entre eles, ajudando a agrupar esses animais, ou seja, dizer “quem era quem”. As tecnologias de sequenciamento e análises genéticas (como a de relógios moleculares) se aliaram, então, aos dados morfológicos e fisiológicos pré-existentes. Ao reunir dados paleontológicos foi possível, ainda, determinar “quem foi para/veio de onde” e como eles foram parar dentro de nossas casas (para quem gosta dessa área, esse artigo é muito interessante).

Outros estudos comparativos de felinos selvagens e domésticos encontraram regiões muito específicas de variabilidade entre seus genomas, fortemente relacionadas ao comportamento desses animais. Isso inclui, por exemplo, genes envolvidos com a memória, o medo e a busca por recompensa – esse último especialmente relevante no processo de domesticação.

O charme dos gatos também está em seu DNA

Pretos, brancos, laranjas, rajados… e todas as misturas possíveis! Quem não aprecia as mais variadas pelagens que os gatos podem apresentar? Uma mais linda que a outra! Mas a genética por trás desses padrões é bem mais complexa do que você imagina.

Isso porque a determinação do padrão de cores tem relação tanto com os cromossomos sexuais (X e Y), quanto com genes autossômicos (ou seja, presentes em cromossomos não sexuais). Enquanto o cromossomo X pode ter o gene da cor preta ou da cor laranja, a cor branca pode ser resultante de três diferentes genes autossômicos. 

Um gato pode ser todo branco por possuir um alelo dominante do gene para essa cor ou dois alelos recessivos para a condição de albinismo – ambos casos raros. Mas há também o caso de gatos que expressam o gene para manchas brancas, o que já é uma situação diferente. No meio disso tudo, ainda há aqueles que expressam genes albinos, mas com produção de cor sensível à temperatura – mais conhecidos como siameses!

Alguns padrões de cores e pelagens de gatos. Fonte: Gatinho Branco.

E essa história é bem mais extensa. Além das cores, há ainda o padrão de pelagem, isto é, se o gato terá uma cor sólida ou se terá “desenhos” em sua pelagem e qual “desenho” será. A pelagem apresentada pode até mesmo ser resultado de alguma síndrome genética, como é o caso de gatos machos tricolores (você pode entender melhor assistindo esse vídeo). 

Gateiros… Avante!

Para finalizar, é bom ressaltar que os próprios gateiros e gateiras têm um papel importante para estimular mais pesquisas e descobertas acerca dos animaizinhos. Atualmente estão disponíveis no mercado diversos kits para testes de DNA nos gatos que prometem revelar não só traços relacionados à saúde, como também sobre suas características físicas, resposta ao catnip (o Profissão Biotec falou sobre o catnip nesse texto aqui) e até sobre sua ancestralidade. Além de sanar a curiosidade dos tutores, essas informações podem ser aplicadas ao diagnóstico de doenças, usadas na “ficha” de adoção do animal e, o mais legal, servir como base para o aprendizado acerca de doenças humanas (afinal, compartilhamos MUITOS genes com os bichanos!).

Como percebemos, a Biotecnologia e os felinos, já fascinantes por si só, ficam ainda melhores quando combinados. O DNA é um mundo cheio de informações a revelar sobre esses animais misteriosos e majestosos. Ainda assim, muitos gatos continuam sendo abandonados, maltratados, e vivem pelas ruas à mercê de todos os perigos possíveis. Então, aproveitando a deixa, que tal contribuir com projetos da sua cidade que resgatam e cuidam desses bichinhos? (Alguns exemplos de projetos pelo Brasil: Alpha Cat (no Rio de Janeiro/RJ, que é simplesmente emocionante, em todos os sentidos), Gato é Vida (Belo Horizonte/MG), Gateiras do Brasil (mais voltado para o estado de São Paulo) e Gatinho Zen (Arraial d’Ajuda/BA).

E aí, humano, entendeu tudo? Já posso voltar para o meu sono de beleza? (Zed, gato da colaboradora Priscila Esteves)

Gostou? Acesse nosso outro conteúdo sobre gatos: “A Ciência por trás da erva do gato”.

Texto revisado por Ísis Venturi e Carolina Vasconcelos
Referências:
DownToEarth. Genome sequence reveals big cats evolved to kill, eat meat. Disponível em: <https://www.downtoearth.org.in/news/genome-sequence-reveals-big-cats-evolved-to-kill-eat-meat-42231>.
EurekAlert! The cat’s meow: Genome reveals clues to domestication. Disponível em: <https://www.eurekalert.org/pub_releases/2014-11/wuso-tcm111014.php>.
Gatinho Branco. A fascinante genética da cor dos gatos. Disponível: <https://gatinhobranco.com/a-fascinante-genetica-da-cor-dos-gatos/>.
Gatinho Branco. Fatos curiosis sobre a língua do gato Disponível em: <https://gatinhobranco.com/fatos-curiosos-sobre-a-lingua-dos-gatos/>.
Gatinho Branco. Por que os gatos abrem a boca quando sentem alguns cheiros? Disponível: <https://gatinhobranco.com/por-que-os-gatos-abrem-a-boca-quando-sentem-alguns-cheiros/>.
Independent. Humans share almost all of our DNA with cats, cattle and mice. Disponível em: <https://www.independent.co.uk/news/science/human-dna-share-cats-cattle-mice-same-genetics-code-a8292111.html>.
lifehacker. What Your Cat’s DNA Can Tell You. Disponível em: <https://lifehacker.com/what-your-cats-dna-can-tell-you-1824023032>.
O’BRIEN, S.J.; NASH, W.G. Genetic mapping in mammals: chromosome map of domestic cat. Science, v. 216, n. 4543, p. 257-265, 1982. Disponível em: <https://science.sciencemag.org/content/216/4543/257>.
PASA, R.; KAVALCO, K.F.. Uma pequena introdução à genética de felinos domésticos. Araucária Comunicação e Editor, 2015. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/309653509_Uma_pequena_introducao_a_genetica_de_felinos_domesticos>.
Scientific American Brasil. A evolução dos gatos. Disponível em: <http://sciam.uol.com.br/a-evolucao-dos-gatos/>.

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