Case de sucesso da EMBRAPII
Quem acompanha o Profissão Biotec ou faz pesquisa já deve ter ouvido, presenciado ou sentido na própria pele como lançar um produto/serviço desenvolvido em laboratório é uma verdadeira prova de resistência! Até nas vezes que existe um interesse por parte da indústria em injetar dinheiro em uma instituição pública, a falta ou o excesso de instrumentos jurídicos acaba atrapalhando ou desestimulando ambas as partes em levar determinada solução para a sociedade.
Apesar desse problema infelizmente ainda ser bastante atual, desde 2013 existe uma organização social qualificada pelo Governo Federal responsável não somente por intermediar toda a burocracia entre a indústria e instituições públicas, como também por captar recursos e subsidiar ⅓ o custo dos projetos de interesse! Adivinhem que empresa é essa?
O nome dela é… EMBRAPII – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial!
Essa empresa tem Contrato de Gestão (ferramenta que o poder público utiliza para alcançar a eficiência administrativa) com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) intermediado pelo Ministério da Educação (MEC). Esses dois órgãos federais repartem igualmente a responsabilidade pelo seu financiamento.
Esse acordo entre a EMBRAPII e MCTIC & MEC tem como base o reconhecimento das oportunidades de exploração de parcerias entre instituições de pesquisa tecnológica e empresas industriais com o objetivo de fortalecer a capacidade de inovação brasileira.
Mas qual a diferença da EMPRAPII para outras instituições? A EMBRAPII tem como diferencial a atuação por meio da cooperação com instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas ou privadas, focando nas demandas empresariais e como alvo o compartilhamento de risco na fase pré-competitiva da inovação.
Por que compartilhamento de risco é importante?
Porque desenvolver soluções na área de Biotecnologia exige muita pesquisa, infraestrutura, mão de obra altamente qualificada e muuuuito dinheiro. Geralmente, dependendo do produto/serviço que está se desenvolvendo, o retorno financeiro só vem após 10 a 20 anos. E um dos pontos mais cruciais nessa trajetória é o chamado Vale da Morte, onde é necessário muitos recursos pra tentar levar o produto à escala industrial, sem, no entanto, efetivamente produzi-lo para comercialização.
Imagina uma instituição de pesquisa hipotética no Brasil que depois de anos de negociação consegue uma parceria com a indústria. Quando consegue, ela precisa de mais dinheiro para poder progredir no produto/serviço, só que a empresa só vai conceder o recurso se a instituição conseguir provar que pode produzir o produto. Só que por motivos óbvios a instituição de pesquisa só vai conseguir provar se tiver o recurso! Um eterno paradoxo do ovo e da galinha!!
Agora imagina essa situação e contextualiza no Brasil que a gente vive, principalmente em relação ao meio empresarial, ao governo, legislação, etc. Você acha mesmo que se um pesquisador ou startup pedir pra um grande player da indústria milhões de reais, que ele provavelmente só vai ver novamente daqui uns 15 anos (se tudo der certo), ele vai querer participar dessa aventura? Provavelmente a resposta será não. Por isso é sensacional essa empresa arcar financeiramente com parte do projeto e ainda resolver toda a burocracia por trás.
Como é feito o compartilhamento de riscos? Do valor total previsto para o projeto ⅓ é pago pela empresa, ⅓ pela EMBRAPII e ⅓ pela Instituição de Pesquisa Científica e Tecnológica. Com certeza é um ótimo estímulo para ambas as partes!
Mas como é que funcionam essas parcerias?
A EMBRAPII abre uma Chamada Pública para credenciar instituições de pesquisa. A Instituição precisa ter uma característica de especialização – na qual ela é referência – que esteja dentro dos eixos de atuação da EMBRAPII. Ela também precisa deixar claro como pode atuar no desenvolvimento de projetos de inovação de forma que não se restrinja sua participação no mercado mas que não torne a especialização dispensável.
Ou seja, a instituição de pesquisa precisa vender o peixe – mostrar que sabe fazer bem a atividade fim, que tem um diferencial entre as demais (está em região X ou a é única no local) e que tudo isso pode despertar o interesse da indústria.
Depois que a instituição de pesquisa é credenciada ela se torna uma Unidade EMBRAPII – UE. Em pouco tempo começam a surgir os projetos!
Existem outros eixos de atuação além da Biotecnologia. São eles:
- Tecnologias Aplicadas;
- Tecnologia da Informação e Comunicação;
- Mecânica e Manufatura;
- Materiais e Química;
O que todos têm em comum? Geram soluções inovadoras e aumentam a competitividades dos produtos/serviços nacionais!
No que tange a Biotecnologia, as unidades EMBRAPII que atuam nesse eixo são:
- Unidade de Biofármacos e Fármacos | CQMED – Centro de Química Medicinal de Inovação Aberta – Unicamp/SP.
- Unidade de Processos Biotecnológicos | IPT-BIO – Instituto de Pesquisas Tecnológicas – São Paulo/SP.
- Unidade de Transformação de Biomassa | ISI Biomassa | Instituto Senai de Inovação em Biomassa – Três Lagoas/MS.
- Unidade Processamento de Biomassa | CNPEM – Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais – Campinas/SP.
- Unidade de Bioquímica de Renováveis | Embrapa Agroenergia | Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária – Brasília/DF.
- Unidade Biocontroladores de Pragas Agrícolas | ESALQ/USP | Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo – Piracicaba/SP.
Hoje ainda não temos o retorno dos projetos que estão em andamento, mas alguns já foram notícia aqui no Profissão Biotec!! Quem sabe essa forma de atuação da EMBRAPII seja um novo modelo para superar a burocracia no apoio técnico e financeiro à inovação no Brasil?!
Até a próxima!