A Biotecnologia Verde pode ser definida como a aplicação de técnicas biotecnológicas em plantas, com o objetivo de modificar características das mesmas. Seja no sentido de aumentar a quantidade de nutrientes, ou conferir algum tipo de resistência, inúmeras características são almejadas quando se trabalha com Biotec verde. Mas, diferentemente da biologia molecular e da engenharia genética, o melhoramento de plantas é um estudo antigo, datando de 10 mil anos, quando os seres humanos deixaram de ser nômades e passaram a selecionar as melhores plantas para o seu consumo.
Desde o surgimento da agricultura, o ser humano vem melhorando classicamente as plantas que consumia. Muitas vezes, a própria natureza era responsável pelo cruzamento ao acaso de espécies correlacionadas, gerando linhagens que eram utilizadas na alimentação humana e animal. Assim surgiram os cultivares, espécies com valor comercial agregado, hoje plantadas em grande escala e exaustivamente estudadas.
Com o advento da genética mendeliana e surgimento de conceitos como herança de características, muitas coisas dentro do melhoramento de plantas passou a fazer mais sentido. Passou-se a compreender melhor como a seleção inconsciente das plantas mais vantajosas gerou as variantes existentes. Além disso a integração entre os povos, durante o período das grandes navegações, garantiu que espécies que só existiam em um único lugar fossem espalhadas pelo mundo inteiro.
Mas onde a biotecnologia entra nessa história?
Após a segunda guerra mundial, esforços foram empregados para aumentar a produção global de insumos alimentícios. Dessa colaboração entre vários países, surgiu a chamada Revolução Verde, caracterizada pelo emprego de mecanização, introdução de sementes melhoradas, aplicação da biologia molecular para a obtenção de novas linhagens e incentivo ao desenvolvimento da biotecnologia voltada para a agricultura. Tudo isso resultou em um aumento de produtividade nunca antes visto. A partir de então a Biotecnologia mostrou-se indispensável para garantir a continuidade dessa alta taxa produtiva.
Atualmente a população global está estimada em aproximadamente 7,3 bilhões de pessoas, e projeções mostram que esse número deve aumentar muito nos próximos anos, ultrapassando os 9 bilhões em 2100. Uma das maiores preocupações é a segurança alimentar, como garantir que todas essas pessoas tenham uma alimentação de qualidade, e, sobretudo, como seremos capazes de produzir tanto alimento? Felizmente a Biotecnologia tem a resposta.
As plantas geneticamente modificadas são apenas a ponta de um iceberg de técnicas que podem, e já estão, ajudando o mundo a produzir mais e melhor. Variantes de arroz, mandioca, e tomate com mais betacaroteno (antioxidante natural responsável por pele, cabelos, e visão saudáveis por exemplo) já foram desenvolvidas e se encontram no mercado. Soja, milho e algodão resistentes a insetos e herbicidas são amplamente cultivados e comercializados no mundo inteiro. A cultura de tecidos in vitro foi uma técnica revolucionária, pois permite que uma planta inteira seja regenerada a partir de um pequeno explante, crescida em um meio nutriente no qual hormônios vegetais direcionam o desenvolvimento da planta. Em um curto período de tempo, obtêm-se múltiplos clones, livres de qualquer patógeno ou parasita, uma vez que o procedimento é feito em meio estéril.
A Biotecnologia Verde vem cada vez mais ganhando espaço, não só no meio acadêmico-científico, mas também no meio social. Precisamos entender que transgênicos, híbridos, e plantas melhoradas não são vilões, mas sim o contrário. É por causa deles que hoje conseguimos atender a demanda mundial de alimentos, e a tendência é que a biotecnologia esteja ainda mais envolvida na nossa alimentação.
Por outro lado, o investimento cada vez maior em biotec vegetal permite que técnicas para conservação de espécies ameaçadas, desenvolvimento de novos biofármacos de origem vegetal, e até que a indústria dos cosméticos se beneficie. No fim das contas, todos saem ganhando.
Cite este artigo:
CANO, R. F. O uso medicinal de derivados de Cannabis. Revista Blog do Profissão Biotec, v.3, 2018. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/a-biotecnologia-verde/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências:
Yashveer S, Singh V, Kaswan V, Kaushik A, Tokas J. Green biotechnology, nanotechnology and bio-fortification: perspectives on novel environment-friendly crop improvement strategies. Biotechnol Genet Eng Rev [Internet]. 2014;30(1–2):113–26. Available from: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02648725.2014.992622?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%3Dpubmed#.Va_WlflzMQo.
Quast DG. Melhoramento de plantas e a produção de alimentos. Doc – Ministério da Agric Pecuária e Abast. 2003; Nov. 2023.