No mês de novembro celebramos o Dia Nacional da Consciência Negra (20/11), uma data importante para refletirmos sobre as desigualdades raciais presentes na sociedade brasileira.
Ao longo da história, diversos cientistas negros e negras, responsáveis por importantes pesquisas e descobertas não receberam o destaque merecido. Por isso, nesse texto o Profissão Biotec destaca 11 cientistas negros e negras que contribuíram para o desenvolvimento da ciência mas que muita gente nem conhece!
Qual é a cor da ciência?
Infelizmente, o meio científico ainda é muito desigual: as oportunidades nem sempre são iguais para todos os gêneros e tons da pele. Um exemplo disso é que até hoje nenhum cientista negro recebeu o Prêmio Nobel na área da ciência. Uma pesquisa da Universidade Stanford (EUA) destaca que apesar de cientistas negros e mulheres produzirem pesquisas mais inovadoras, ainda assim recebem menos destaque do que cientistas brancos.
No Brasil dados apontam que, entre 2013-2017, menos de 30% dos bolsistas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) eram pretos e pardos. Considerando que o CNPq é uma das principais agências de fomento à pesquisa no país, esses dados reforçam a desigualdade racial na ciência brasileira.
Recentemente a Cell, uma importante revista científica, divulgou que incluirá uma nova Declaração de Inclusão e Diversidade para seus autores, uma iniciativa para estimular a inclusão e diversidade em suas publicações.
Toda iniciativa para ampliar a diversidade racial na ciência é válida. E (re)conhecer e divulgar os cientistas negros e negras é o primeiro passo na busca por essa diversidade! A seguir destacamos alguns desses cientistas que possuem grande relevância científica, mas que muita gente ainda não conhece.
Cientistas negros e negras que você precisa conhecer
1- Benjamin Banneker (1731–1806): Observação do céu
Astrônomo e matemático afro-americano criou almanaques com informações sobre a movimentação do Sol, da Lua e dos planetas, fazendo cálculos para prever eclipses solares e lunares e corrigindo erros de alguns cientistas da época. Seus estudos foram importantes para compreender as posições dos objetos celestes no céu ao longo de cada ano.
2- George Washington Carver (1864–1943): Revolucionando a agricultura
Cientista autodidata com mestrado em botânica (Iowa State Agricultural College – EUA) desenvolveu métodos de rotação de culturas, revolucionando a agricultura. Sua metodologia alternava culturas que destroem o solo (como as de algodão) com culturas que enriquecem o solo (como as de amendoim e ervilha), tornando a agricultura mais lucrativa e diversificada. Desenvolveu seus estudos nos EUA, contudo não obteve nenhuma patente ou lucro com suas descobertas. Também foi o primeiro professor negro da Iowa State Agricultural College.
3- Ernest Everett Just (1883 – 1941): Compreendendo a fisiologia do desenvolvimento
O zoólogo norte-americano foi responsável por reconhecer a importância da superfície celular no desenvolvimento dos organismos, realizando pesquisas nos Estados Unidos e Europa (Itália, Alemanha e França). É considerado o pioneiro nas áreas de fisiologia do desenvolvimento, como fertilização, partenogênese experimental e divisão celular.
4-Alice Ball (1892 – 1916): O alívio para a dor dos pacientes
Aos 23 anos,durante o seu mestrado, a química norte-americana Alice Ball criou o método Ball (um extrato de óleo de Chaulmoogra injetável), um tratamento químico para a lepra (atualmente conhecida como hanseníase), aliviando a dor e o sofrimento de centenas de pacientes. O tratamento desenvolvido por ela foi o único eficaz até o surgimento dos antibióticos em 1940. Seu trabalho melhorou significativamente a vida dos doentes que até então precisavam viver isolados da sociedade e faziam outros tratamentos que geravam fortes efeitos colaterais.
Morreu precocemente, aos 24 anos, possivelmente por inalação do gás clorídrico usado em suas pesquisas. Mas somente 90 anos após seu falecimento a Universidade do Havaí (onde Alice Ball realizou seus estudos) deu a ela os merecidos créditos sobre seu trabalho.
5- Percy Julian (1899–1975): A química e seus benefícios
O cientista norte-americano, com mestrado na Universidade de Harvard (EUA), foi um dos maiores químicos da história. Desenvolveu pesquisas sobre versões sintéticas dos hormônios progesterona e cortisona, além de pesquisas sobre compostos de soja obtendo patentes e permitindo que diversos medicamentos fossem produzidos a custos reduzidos.
6- Katherine Johnson (1918–2020): O “computador humano” da NASA
Matemática, física e cientista americana, iniciou seus trabalhos na NASA (National Aeronautics and Space Administration) aos 35 anos. Fazia cálculos a mão para pesquisadores (atuando como “computador humano”), cargo exclusivo para mulheres brancas até então, auxiliando em projetos como a ida de astronautas à órbita da Terra e à Lua.
Ela assinou seu primeiro relatório para a NASA em 1960, sendo a primeira mulher daquele departamento a receber créditos por sua pesquisa. Ao longo dos anos, escreveu 26 relatórios espaciais. Sua trajetória foi contada no filme Estrelas Além do Tempo, em 2017.
7-Jane Cooke Wright (1919-2013): A “mãe da quimioterapia”
Médica oncologista norte-americana, Jane Cooke Wright é considerada a “mãe da quimioterapia” por desenvolver novas formas para testar as drogas usadas no tratamento contra o câncer, e co-fundadora da Sociedade Americana de Oncologia Clínica. Na época, o tratamento do câncer consistia na combinação de cirurgia e radioterapia, até Jane propor a quimioterapia (tratamento baseado no uso de agentes químicos para eliminação das células cancerígenas).
Seus estudos, desenvolvidos junto com seu pai que também era médico, demonstraram que células tumorais poderiam ser removidas e ter seu comportamento estudado em laboratório, permitindo que os médicos testassem a eficácia das drogas quimioterápicas. Jane defendia que o câncer é uma doença dinâmica, em constante modificação, logo precisa de uma abordagem múltipla e do uso combinado de terapias. Seus estudos e técnicas são usadas até hoje como base para o desenvolvimento de novas terapias.
8- Marie Maynard Daly (1921–2003): Pioneira nos estudos sobre as doenças cardíacas
Formada em Química (Queens College – EUA), com mestrado e doutorado em química (Universidade de Columbia-EUA), a norte-americana Marie Maynard Daly desenvolveu pesquisas que esclareceram a relação entre o colesterol alto e a obstrução das artérias, ampliando o conhecimento sobre as doenças cardíacas. Também investigou os efeitos do açúcar e do fumo nas artérias e tecido pulmonar, respectivamente.
Foi professora na Universidade Howard (Washington, EUA) e Universidade Yeshiva (Nova York, EUA), além de ter sido membro de diferentes entidades como a Sociedade Americana de Química, a Academia de Ciências de Nova York e a Associação Nacional para o Avanço das Pessoas Negras.
9- Arthur Bertram Cuthbert Walker II (1936–2001): Tecnologia para telescópios
Físico responsável pelos estudos sobre o Sol e pelo desenvolvimento de telescópios ultravioletas. Até hoje suas metodologias são usadas em telescópios solares e na fabricação de microchips.
Também se dedicou à docência na Universidade de Stanford (EUA), contribuindo para a formação de diversos cientistas. Uma de suas alunas, Sally K. Ride, foi a primeira mulher americana a viajar no espaço.
10- Patricia Bath (1942-2019): Tratamento preciso e revolucionário para a visão
A norte-americana Patricia Bath formou-se na faculdade de medicina da Universidade Howard (Washington), foi a primeira cirurgiã negra da Universidade da Califórnia e atuou no Instituto da Visão Jules Stein (Los Angeles), todos nos Estados Unidos.
Patricia Bath foi a médica oftalmologista responsável pela criação do tratamento a laser para a catarata. Esse procedimento é considerado revolucionário, mais preciso e menos doloroso para os pacientes. Dessa forma, ela conseguiu devolver a visão a pacientes que estavam cegos há 30 anos.
Por sua criação, Patricia Bath foi a primeira médica negra, no mundo, a conseguir uma patente para fins médicos. Mesmo após se aposentar, continuou levando a tecnologia para o tratamento oftalmológico de pacientes em regiões remotas e carentes.
11- Viviane dos Santos Barbosa (1975-): Redução da emissão de gases poluentes
A brasileira Viviane dos Santos Barbosa é engenheira química e bioquímica e mestre em nanotecnologia (Delft University of Technology – Holanda). Desenvolveu, na própria universidade holandesa, um produto catalisador que reduz a emissão de gases poluentes, e em 2010 foi premiada na conferência científica International Aerosol Conference, em meio a 800 trabalhos de pesquisadores de todo o mundo.
Esses são apenas alguns exemplos de pesquisadores que trouxeram grandes avanços científicos, reforçando que precisamos valorizar a ciência, independentemente da cor da pele do cientista! Você pode conhecer outros nomes, tão importantes como esses, nos links descritos nas referências abaixo. Conheça, divulgue e apoie um cientista negro ou negra. A ciência agradece!
Cite este artigo:
LOPES, B. P. A ciência tem cor? Conheça 11 cientistas negros e negras que marcaram a ciência. Revista Blog do Profissão Biotec, v.8, 2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/a-ciencia-tem-cor-11-cientistas-negros-e-negras/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências:
Carachinski, M. Alice Augusta Ball. Unicentro Paraná. Disponível em: https://www3.unicentro.br/petfisica/2020/03/20/alice-augusta-ball/ Acesso em 09 de novembro de 2021.
Cavalcante, D. Esses cientistas negros deixaram sua marca na história. Canaltech, 2020. Disponível em:< https://canaltech.com.br/ciencia/negros-que-marcaram-a-historia-da-ciencia-155655/ >Acesso em 09 de novembro de 2021.
Lopes, L. 23 cientistas negros que você precisa conhecer. Revista Galileu, 2018. Disponível em:<https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/12/23-cientistas-negros-que-voce-precisa-conhecer.html> Acesso em 09 de novembro de 2021.
Museu Ciência e Vida. Agora é que são elas: Jane Cooke Wright. Cecierj, 2020. Disponível em: <https://www.cecierj.edu.br/2020/07/21/agora-e-que-sao-elas-jane-cooke-wright/> Acesso em 09 de novembro de 2021.
Odara, N. 8 mulheres negras cientistas brasileiras que você precisa conhecer. Brasil de Fato, 2017. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2017/07/25/8-mulheres-negras-cientistas-brasileiras-que-voce-precisa-conhecer >Acesso em 09 de novembro de 2021.
Fonte da imagem destacada: produzida pela autora.