O mundo chegou a seu limite, já não podemos impedir as mudanças climáticas, mas a bioenergia e os biocombustíveis podem nos ajudar a mitigar os danos.

O sistema de energia no Brasil e no mundo é extremamente dependente de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás. No entanto, este cenário se torna cada vez mais inviável, tanto devido à exaustão gradativa das reservas de matéria-prima,  quanto pelos catastróficos danos ambientais oriundos da  queima de combustíveis fósseis.  A bioenergia, definida como energia oriunda de biomassa (matéria orgânica gerada por seres vivos)pode ser usada tanto na geração de combustíveis, quanto na produção de calor ou até eletricidade. Diferente das formas tradicionais, a bioenergia é renovável e apresenta menor geração de resíduos.  Considerando o cenário atual e as buscas por formas de energia mais limpas e renováveis, sua utilização se torna fundamental.

Mudanças climáticas 2022: uma ameaça à vida humana 

Segundo o mais recente relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), as mudanças climáticas já afetam todo o planeta.  O relatório divulgado em fevereiro deste ano alerta: “As mudanças climáticas induzidas pelo homem estão causando perturbações perigosas e generalizadas na natureza e afetando a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo, apesar dos esforços para reduzir os riscos. Pessoas e ecossistemas menos capazes de lidar com a situação estão sendo os mais atingidos.”

Globo terrestre com o símbolo do IPCC e um termômetro
Figura: IPCC #Paratodosverem: A figura apresenta uma ilustração, em tons azul e branco, do planeta Terra “derretendo”. Ao lado esquerdo da imagem há a ilustração de um termômetro que indica altas temperaturas. Ao lado direito há o logo do IPCC. 

A futura realidade está cada vez mais evidente, na Europa a recente onda de calor levanta preocupações. No Reino Unido, França e Itália as temperaturas ultrapassaram os 40ºC, bem diferente das máximas de 29°C observadas entre os anos de 1971 e 2000. Um ponto significativo do relatório é tornar palpável os efeitos do aquecimento global.  É difícil assimilar como o aumento da temperatura em 1° C pode ter resultados tão catastróficos, mas os resultados estão cada dia mais evidentes.

 Calor extremo, secas devastadoras e inundações recordes ameaçam os meios de subsistência de milhões de pessoas. Hoje, aproximadamente metade da população mundial enfrenta insegurança alimentar. Nas próximas décadas estima-se que mais de 100 milhões de pessoas estarão em situação de extrema pobreza decorrente das condições climáticas. Esse fato aumentará a incidência de doenças crônicas, desnutrição, mortalidade infantil e  transtornos de saúde mental. Levando-se em conta a  estimativa de que a população do mundo atinja 10 bilhões de habitantes nos próximos 30 anos, o questionamento que paira é: será que o planeta aguenta?

A resposta, por mais triste que seja, é negativa. Infelizmente o planeta atingiu níveis absurdos de carbono na atmosfera, que mesmo que nenhuma grama de CO2 seja emitida,  os gases de efeito estufa já dispersos na atmosfera resultarão em impactos climáticos  significativos e inevitáveis até 2040.  Considerando que mais da metade das emissões presentes na atmosfera ocorreram nos últimos 30 anos, estes dados são alarmantes. 

Bioenergia e biocombustíveis no enfrentamento às mudanças climáticas

Aproximadamente 86% das emissões de dióxido de carbono são resultantes da queima de combustíveis fósseis, sendo os EUA, China e Rússia os maiores poluentes.  Desta forma, torna-se cada vez mais necessário o investimento em políticas de incentivo à bioenergia, energia proveniente de fontes renováveis e com menor pegada de carbono.

 No Brasil, diversas políticas públicas têm sido criadas de forma a incentivar tecnologias em bioenergia. Patentes verdes (documentos de propriedade intelectual com foco em sustentabilidade e energias renováveis) possuem o processo de patenteabilidade acelerado.  Em 2017 foi instituído o RenovaBio, Política Nacional de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), instituída pela Lei 13576/2017 que visa expandir a produção de biocombustíveis, incentivando a descarbonização, processo de redução de emissões de carbono na atmosfera. A iniciativa baseia-se em metas de descarbonização, certificação ambiental da produção de biocombustíveis e crédito de descarbonização (CBio).

Logo da RenovaBio - uma gota de água azul com uma arvore em seu interior
Figura: Logo RenovaBio. Fonte: Ministério de Minas e Energia #Paratodosverem: A imagem ilustra a figura de gota em azul que apresenta o desenho de uma árvore em  branco sobreposto. Abaixo da figura há o texto “Renova Bio” em fonte preta. 

O programa baseia-se em certificações para os produtores de biocombustíveis, certificados pela  Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Estas certificações são refletidas em dinheiro. A quantidade de carbono emitida é inversamente proporcional aos créditos emitidos. Cada CBio corresponderá a uma tonelada de CO2 evitado, e atualmente cada CBIO é comercializado numa faixa entre R$ 40 a R$ 80. A ideia, a curto prazo, é aumentar a participação de bioenergia na matriz energética brasileira para aproximadamente 18% até 2030,  conforme assegurado pelo Brasil na COP 21.

O investimento em alternativas à gasolina não é novidade no Brasil. Desde 1975 com a instituição do Proálcool (programa bem-sucedido de substituição em larga escala dos derivados de petróleo), o país investiu severamente na produção de etanol a partir da fermentação de vegetais como beterraba, milho, trigo e sobretudo a cana-de-açúcar

Os EUA são líderes na produção de etanol, com cerca de 58% do volume total produzido no mundo. Com o auxílio dos programas de incentivo citados,  atualmente o Brasil é o segundo maior produtor, com 28% do volume total.  Atualmente, são produzidos dois tipos de etanol, o hidratado (solução de álcool e água com grau mínimo de 92,6%)  e o anidro (grau mínimo de 99,3% sendo utilizado como combustível misturado na gasolina). Segundo a ANP, a capacidade brasileira de produção é de 217 m³ por dia de etanol hidratado e 117 m³ por dia de etanol anidro. 

É inegável que  há um esforço muito maior que nas décadas passadas  para mitigar as emissões de carbono, no entanto o atual cenário requer medidas drásticas. Pesquisadores já assinalaram que não entender a gravidade da situação é um erro fatal.  É inegável que o advento dos combustíveis fósseis permitiu um grande avanço tecnológico para a civilização moderna. No entanto, atualmente, existem diversas fontes alternativas a estes, como a energia elétrica, térmica e os biocombustíveis, que apresentam menor impacto ambiental. Considerando o estado crítico levantado pelo estudo do IPCC, é imprescindível que, nós como sociedade, aumentemos o investimento nestas tecnologias, de forma a minimizar os danos ambientais já causados.

Perfil de Gabrielle Leal
Texto revisado por Jennifer Medrades e Ísis V. Biembengut

Cite este artigo:
LEAL, G. C. As mudanças climáticas e o papel da bioenergia. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/as-mudancas-climaticas-papel-biotecnologia/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

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DIETZ, Thomas; SHWOM, Rachael L.; WHITLEY, Cameron T. Climate change and society. Annual Review of Sociology, v. 46, p. 135-158, 2020.
DE JESUS ALMEIDA, Raphael Inácio. INVESTIMENTO EM CRÉDITO DE DESCARBONIZAÇÃO-CBIO. Revista Ibero-americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 7, n. 4, p. 242-259, 2021.
GAZZONI, Décio Luiz. Balanço de emissões de CO2 por biocombustíveis no Brasil: histórico e perspectivas. 2014.
PÖRTNER, Hans-Otto et al. Climate change 2022: Impacts, adaptation and vulnerability. IPCC Sixth Assessment Report, 2022.
RENOVABIO, GT-ACV. RenovaBio: inovação para a sustentabilidade. AgroANALYSIS, v. 40, n. 1, p. 31-32, 2020.
VIDAL, Maria de Fátima. Produção e uso de biocombustíveis no Brasil. 2019.
Fonte da imagem destacada: Freepik.

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