Confira como é possível usar vírus, como por exemplo os Baculovírus, em prol do meio ambiente como ferramenta de controle biológico!

Não é novidade pra ninguém que a biotecnologia revolucionou a agricultura por meio de modernas técnicas que favoreceram o aumento da produtividade, como as plantas transgênicas, o mapeamento genético de plantas e as técnicas inovadoras do melhoramento de precisão. Hoje vamos aprender como a biotecnologia também contribui indiretamente para a agricultura por meio de sua contribuição com o controle biológico

Para aqueles que não conhecem, o controle biológico refere-se a redução de pragas agrícolas e de insetos transmissores de doenças a níveis toleráveis, ou seja, em que a injúria causada por eles não comprometa a produtividade e consequentemente o lucro do produtor. 

Imagem da lagarta Crhysodeixis includens e sua injúria em folhas de soja. O ataque de lagartas pode comprometer a produtividade. Fonte: Grupocultivar. 

Para isso, utiliza-se inimigos naturais desses insetos, como predadores, parasitóides e microrganismos, como fungos, vírus e bactérias. Se quiser conhecer mais sobre o controle biológico, assista este vídeo. Diante das inúmeras possibilidades de utilização de controle biológico, vamos destacar neste texto sobre a utilização dos vírus, afinal, sabemos que eles apresentam importância biotecnológica em diversas áreas. 

Dentro do grupo dos vírus que são patogênicos a insetos, os baculovírus são os mais pesquisados. Eles pertencem à família Baculoviridae, composta de vírus com uma fita dupla circular de DNA, que infectam um grande número de artrópodes e contêm os gêneros nucleopoliedrovírus (NPV) e granulovírus (GV). 

Não se assustem com estes nomes estranhos, eles apenas querem dizer que a morfologia do corpo de oclusão (estrutura em forma de envoltório que confere estabilidade física e biológica às partículas virais) é diferente. Os nucleopoliedrovírus (NPV) possuem corpos de oclusão poliédrica e contêm várias partículas virais, cuja principal proteína é a poliedrina, já os granulovírus (GV) possuem somente uma partícula viral ocluída em corpo protéico ovóide e a principal proteína é a granulina.

Imagem esquemática de Nucleopoliedrovírus (NPV): múltiplos vírions em corpos de oclusão de forma poliédrica e Granulovírus (GV): vírions únicos em forma de grânulo.Fonte: ResearchGate.

A oclusão dos vírus em uma matriz protéica confere proteção às partículas infectivas na transmissão de inseto para inseto e promove resistência a condições ambientais fora do hospedeiro. A forma não ocluída é responsável pela transmissão de célula para célula, em um mesmo indivíduo (infecção sistêmica). 

Agora que você já sabe o que são os Baculovirus, vamos entender como eles atuam: quando as lagartas ingerem as folhas contaminadas, as cápsulas de proteínas dos Baculovírus se dissolvem e os vírions infectam as células do intestino médio do hospedeiro, que possui condições alcalinas (p.H superior a 7,0).  

Como os vírus são seres intracelulares obrigatórios, eles usam a maquinaria da célula hospedeira para multiplicar os vírions, os quais são liberados e infectam novas células. A infecção leva à mortalidade das larvas alguns dias depois, fazendo o vírus ser liberado novamente no ambiente.

Imagem esquemática do ciclo de Baculovirus. Fonte: Wikipedia

Mas como os Baculovírus são obtidos para uso? Bem, de maneira simples, quando eu era estagiária no laboratório de controle biológico da Embrapa milho e Sorgo, nós coletávamos lagartas mortas com sintomas característicos de infecção por baculovírus: coloração rósea e dependurada.

Lagarta morta com sintomas de infecção por Baculovírus. Os insetos mortos são importantes fontes de inóculos virais para infecções seguintes, tanto no campo quanto em laboratório. Fonte: Maissoja.

Em seguida, macerávamos uma quantidade adequada de lagartas infectadas, filtrávamos, e o permeado podia ser utilizado para preparo de caldas que posteriormente seriam aplicadas nas plantas.

Imagem: Maceração de lagartas (A), filtragem do composto (B) e preparo da calda de pulverização (C). Fonte: Maissoja.

Além de sua utilização no controle biológico, os baculovírus também podem ser utilizados como vetores em terapia gênica, pela expressão de proteínas de interesse farmacológico. Neste artigo, explica-se detalhadamente os protocolos de produção de baculovirus para este fim, no qual eles são produzidos em células de insetos em suspensão.  O meio de cultura passa por processos de cromatografia e ultracentrifugação, permitindo a purificação dos baculovirus que serão usados em terapia gênica, já isentos de riscos à saúde humana.

Além disso, estudos de pesquisa básica sobre o comportamento viral também são  muito importantes, pois estes conhecimentos podem ser aplicados em diversas áreas, inclusive para saúde pública. Em um artigo recente, foi descrita a dinâmica do movimento do vírion de um meio para o interior de células de insetos; este modelo possibilita a descrição da dinâmica viral na superfície celular, que pode auxiliar na compreensão dos estudos para futuras medidas de redução do surto de COVID-19.

E então, gostaram do texto? Deixem comentários em caso de dúvidas e /ou sugestões de temas para os próximos textos, continuem acessando a página do Profissão Biotec para sempre ficar antenado com as novidades da Biotecnologia.

Texto revisado por Tayná Costa e Natália Videira
Referências:
De Castro, M.E.B.;  De Souza, M.L.; Sihler,W.; Rodrigues, J.C.M.; Ribeiro, B.M. Biologia molecular de baculovírus e seu uso no controle biológico de pragas no Brasil. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.34, n.10, p.1733-1761, 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pab/v34n10/7175.pdf. Acesso em: 21/08/2020.
Moleirinho, MG, Fernandes, RP, Carvalho, SB, Bezemer, S., Detmers, F., Hermans, P., Peixoto, C. (2020). Remoção de afinidade de baculovírus em bioprocessos de base viral. Separation and Purification Technology, 116693. doi: 10.1016 / j.seppur.2020.116693.
Zhang, Y., Enden, G., Wei, W., Zhou, F., Chen, J., & Merchuk, JC (2020). O trânsito do baculovírus através das membranas das células dos insetos: uma abordagem mecanicista. Chemical Engineering Science, 115727. doi: 10.1016 / j.ces.2020.115727. 

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