Fonte: Orange-business.
A bioarte é uma atividade contemporânea que permite aproximar “Artes e Ciências”. Caracterizada pela inspiração na biotecnologia. Os materiais usados pelos bioartistas são organismos vivos ou partes deles (células, moléculas de DNA), trocando o pincel por pipetas e tradicionais estúdios de arte por bancadas de laboratório. Artistas que aproximam Arte e Ciência em uma forma de expressão, não somente social e estética, mas também funcional.
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O cotidiano social humano sempre esteve intimamente ligado à biotecnologia. Este movimento pretende desenvolver uma expressão artística e científica, capaz de instigar uma grande parcela da população, que já faz uso destas tecnologias seculares, e, ao mesmo tempo, discutir questões éticas e de segurança.
“Se o objetivo do cientista é interpretar o mundo, o do artista é representá-lo” [1].
Fonte: Laboratório de Roger Tsien em 2006.
Para o artista contemporâneo, as questões de linguagem são tão importantes quanto às questões da área da Física, da Biotecnologia, da Matemática e das Ciências Sociais. É o processo de repensar os próprios conceitos de criação em um mundo sob constante transformação biotecnológica.
Apesar de ter surgido, no final do século XX, através dos trabalhos de pioneiros como Joe Davis e Marta de Menezes. A palavra “bioarte” foi (e vem sendo) difundida por Eduardo Kac (diretor do School of the Art Institute of Chicago), a partir do seu trabalho artístico Time Capsule, de 1997.
Um tipo de espaço criativo fundado por Catts e Zurr, na Universidade da Austrália, nomeado como SymbioticA fornece aos artistas residentes acesso a equipamentos de alta tecnologia, a interação com especialistas científicos, criando um ambiente de pesquisa, aprendizagem, crítica e engajamento com as ciências da vida. Os “ditos laboratórios de arte” passaram a ser amplamente utilizados no início do século XXI.
Eduardo Kac foi um dos primeiros artistas a utilizar da biotecnologia para criar obras de arte. Kac apresentou, em 1999, a obra “Genesis” no festival Art Electronica em Linz, na Áustria. Ele criou um gene sintético, apenas com fins artísticos. No entanto, o artista gerou enorme polêmica internacional com sua obra “GFP Bunny” (2000), que incluiu a criação, através de engenharia genética, de uma coelha capaz de expressar proteínas exógenas de GFP, ou Green Fluorescent Protein (Proteína Fluorescente Verde). Sob luz UV, a coelha emite luz verde [2].
Fonte: Artimidia e Bioarte
Apesar da tecnologia de transferência gênica ser conhecida e utilizada em laboratórios de pesquisa, por pelo menos uma década antes [3], a utilização meramente artística causou grande impacto na sociedade. No contexto científico, a mesma técnica de construção e transferência gênica se limitava ao uso em laboratórios para fins de pesquisa, objetivando identificar a expressão de genes importantes, dentre outras aplicações, não chegando de forma acessível às grandes massas sociais, ficando restritos aos muros das universidades e institutos de pesquisa. Neste ponto, imagino que a arte tenha um potencial maior de chegar às pessoas de diferentes classes sociais e tribos urbanas, uma vez que suas linguagens são bem mais fundamentais e aprofundadas.
As proteínas fluorescentes seriam bioarte? Fonte: Nature / proteínas fluorescentes
O cientista Alexander Krichevsky, em parceria com a Universidade do Estado de Nova York, foi o pioneiro na criação de plantas geneticamente modificadas capazes de emitir luz própria. O método consiste em juntar o DNA de bactérias marinhas luminescentes ao genoma de uma planta comum. Dessa forma, tanto o caule quanto as folhas conseguem emitir luz, similar à emitida por vagalumes e águas-vivas.
Fonte: Modelo bioluminescente da empresa Gleaux.
Poderíamos utilizar “árvores que brilham no escuro” no lugar de postes de iluminação? Sim, a planta é capaz de criar sua própria luz, de forma completamente autônoma.
Imitar modelos encontrados na natureza para resolver problemas, é em sua essência, a mais pura biotecnologia. A empresa de biotecnologia Gleaux está neste caminho desenvolvendo plantas auto-luminescentes com objetivo estético, artístico, e funcional como uma alternativa sustentável para fontes de iluminação que não consome energia elétrica. A empresa ainda enfrenta desafios técnicos, mas já está faturando uma boa receita com a venda de protótipos ornamentais.
Um grande desafio aos cientistas em biotecnologia atualmente é desmistificar velhos paradigmas.
A mesma tecnologia (transferência gênica) apresentada à população por duas abordagens distintas, artística e científica, pode causar diferentes percepções e comoções. Isso demonstra a importância e a necessidade em popularizar aquilo que se faz em laboratório. Tornar isso algo palpável e visível à população de modo geral.
Quais são os limites da biotecnologia ?
DNA.tumblr
Salvar o mundo, criar fontes renováveis de energia, curar doenças apostando em terapias de vanguarda como as gênica e celular, reprogramar celular, destruir bactérias resistentes a antibióticos, produzir alimentos saudáveis, trazer de volta animais extintos…
Acreditar que somos programados somente para estes fins, seria a maior crueldade com os jovens cientistas. Ainda somos humanos, falhos, a mercê das pressões evolutivas e sociais. Mas podemos fazer bioarte em uma placa de petri, colocar um desenho no nosso tubo de ensaio favorito, marcar uma amostra com um 🙂 (smile). Somos artistas da nossa própria história, nem todos biotecnologistas chegarão ao Nobel, mas se você faz o que gosta, com certeza, vai existir um tubo de ensaio surrado ou um apetrecho de laboratório empoeirado, em algum lugar da sua casa, tão valioso quanto um Nobel.
Enquanto cientistas, em meio a números e tabelas, gráficos e lógica, também somos artistas!
A criatividade, tem como único limite a imaginação, mas teria a imaginação um limite?
Agradecimento especial a Dr. Yuyama, pela colaboração neste texto.
Se você se interessa por Bioarte, participe do nosso 1º Concurso de Bioarte com inscrições abertas em setembro de 2021!