O Brasil é um dos países mais ricos em biodiversidade no mundo (com mais de 100 mil espécies animais e cerca de 45 mil vegetais conhecidos), mas ainda há muitas incertezas acerca da exploração destas riquezas naturais. Boa parte da biodiversidade é inexplorada e muito do conhecimento tradicional tem sido perdido, juntamente com parte da cultura e do saber locais. Ao mesmo tempo, o Brasil apresenta recordes alarmantes de desmatamento, consumo de água e exploração de terras indígenas, o que levanta a necessidade de uma correta regulamentação e fiscalização dos bens naturais, bem como o fortalecimento da bioeconomia.
A bioeconomia é a ciência que estuda os sistemas biológicos e recursos naturais com aplicação industrial, focando em uma economia sustentável. Também se preocupa com o consumo consciente, em equilíbrio com o meio ambiente e os recursos naturais. Essa prática encontra diversas limitações visto que a expansão industrial, tradicionalmente, é uma prática exploratória, não pautando seu avanço em seu impacto ambiental. Desta forma, políticas e estudos em bioeconomia que avaliem o impacto do produto, bem como sua cadeia produtiva no meio ambiente, são fundamentais.
Economia Circular
A proposta de trocar a linearidade da cadeia produtora por uma política econômica circular é uma das principais estratégias a serem avaliadas. A economia alinha o desenvolvimento econômico e a utilização de matéria prima, através de modelos de negócios que foquem em sustentabilidade e otimização do processo de fabricação e aproveitamento de insumos. A ideia é repensar, de forma inteligente, o desenho, produção e comercialização de produtos. Em um sistema linear o produto final gera um resíduo inútil, enquanto no modelo circular, este pode ser reaproveitado. Segundo a Organização Internacional de Normalização (ISO) a economia circular “é um sistema econômico que utiliza uma abordagem sistêmica para manter o fluxo circular dos recursos, por meio da adição, retenção e regeneração de seu valor, contribuindo para o desenvolvimento sustentável.” A Agência ainda emitiu um guia, em 2017, pelo British Stardards Institutions. A BS 8001, traz um modelo para que as empresas possam adotar práticas de economia circular em seus modelos de negócios.
O histórico da bioeconomia no Brasil
Vale ressaltar que, apesar do conceito parecer um pouco novo para o grande público, o Brasil já desenvolve políticas em bioeconomia há muito tempo. O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi uma das iniciativas governamentais que intensificou a produção de álcool para a substituição da gasolina devido à crise mundial do petróleo, na década de 1970. Atualmente, o Brasil é um dos principais líderes do segmento. Além do setor de bioenergética, diversos setores em biotecnologia vem crescendo nos últimos anos, sobretudo de cosméticos e alimentos. Outros setores que vale destacar são a produção de biofármacos, biopolímeros, nanodefensivos, vacinas, enzimas e proteínas recombinantes entre outros.
As políticas de incentivo ao desenvolvimento da bioeconomia
É inegável que para o desenvolvimento sustentável, em qualquer situação, é vital que o avanço científico tecnológico esteja amparado em boas práticas de governança, e correta regulação. Atualmente, percebemos uma preocupação global com a temática da sustentabilidade como o Acordo de Paris e os Protocolos de Kyoto e Nagoya. Que visam minimizar os impactos ambientais e proporcionar uma política de competitividade justa e o sucesso entre negociações internacionais.
No âmbito nacional, políticas que ressaltam o papel da bioeconomia têm ganhado destaque. Em agosto de 2021 houve uma audiência pública, promovida pela Comissão Senado do Futuro, que discutiu o desenvolvimento da bioeconomia no país. Os presentes afirmam que o avanço da bioeconomia é uma das principais formas de superar o subdesenvolvimento no Brasil. Segundo Marcelo Khaled Poppe, coordenador do projeto Oportunidades e Desafios da Bioeconomia do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), “A bioeconomia cresce no mundo e que diversos países adotam políticas sobre o tema, valorizando os recursos biológicos e da biomassa para assegurar o desenvolvimento de suas economias e do planeta.”
Em 2015, foi estipulada a Lei da Biodiversidade, que reduz as incertezas atreladas aos investimentos em bioeconomia no país. A atualização das leis vigentes é fundamental para a construção de um modelo de negócio competitivo. Outra iniciativa interessante é o RenovaBio, que propõe uma regulação que incentiva financeiramente alternativas de maior eficiência energética no setor de combustíveis, o que estimula a produção de bioderivados, como por exemplo produção de compostos a partir de resíduos industriais. O Senai Cetiqt lançou no mês de novembro o portal de bioeconomia de forma a estimular iniciativas em biotecnologia e aumentar as conexões de divulgação de conhecimento. Desta forma é possível alterar a linearidade da cadeia produtiva, gerando uma cadeia cíclica que aumenta o aproveitamento e rendimento, com concomitante diminuição do impacto ambiental.
Cite este artigo:
LEAL, G. C. Bioeconomia e sustentabilidade: como crescer economicamente de forma sustentável? Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em:<https://profissaobiotec.com.br/bioeconomia-sustentabilidade-crescer-economicamente-susteantavel/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referencia:
EGGERT, Håkan. Bioeconomic analysis and management. Environmental and Resource Economics, v. 11, n. 3, p. 399-411, 1998.
LAZZARATO, Mauricio.Biopolitique/Bioéconom. Multitudes, n. 22, 2005. Disponível em: <https://www.multitudes.net/wp-content/uploads/2008/06/Revue_des_revues-LAZZARATO-trad-espagnol.pdf>. Acesso em: 03 jan. 2022.
WYDRA, Sven et al. Transition to the bioeconomy–Analysis and scenarios for selected niches. Journal of Cleaner Production, v. 294, p. 126092, 2021.